A energia secreta dentro de cada buraco negro é mais poderosa do que pensávamos
Os buracos negros não são
apenas “aspiradores cósmicos” sugando tudo ao redor – eles também são motores
energéticos extremamente poderosos, capazes de redistribuir enormes quantidades
de energia
Esses gigantes cósmicos giram
rapidamente e geram campos magnéticos intensos, que extraem energia e alimentam
a formação de jatos energéticos. Novas simulações avançadas mostram que até 70%
dessa energia pode ser redirecionada para o espaço, influenciando o brilho dos
buracos negros e afetando a dinâmica das galáxias.
Uma imagem de luz visível do telescópio espacial Hubble da galáxia MCG-03-34-064. A visão nítida do Hubble revela três pontos brilhantes distintos incorporados em uma elipse branca no centro da galáxia (expandida em uma imagem de conjunto no canto superior direito).Dois desses pontos brilhantes são a fonte de forte emissão de raios X, um sinal que indica que eles são buracos negros supermassivos.Os buracos negros brilham intensamente porque estão convertendo a matéria em queda em energia e se espalham pelo espaço como núcleos galácticos ativos. Sua separação é de cerca de 300 anos-luz. O terceiro ponto é uma mancha de gás brilhante.A faixa azul que aponta para a posição das 5 horas pode ser um jato disparado de um dos buracos negros. O par de buracos negros é o resultado de uma fusão entre duas galáxias que acabarão colidindo.
O Poder Oculto dos Buracos
Negros
Os buracos negros sempre
intrigaram os cientistas, não apenas por sua incrível capacidade de absorver
matéria, mas também por funcionarem como mecanismos cósmicos de extração e
redistribuição de energia.
Ao redor deles, formam-se discos
de gás e poeira chamados de discos de acreção, que podem ficar altamente
magnetizados. Quando isso acontece, esses discos se transformam em verdadeiras
usinas de energia, retirando energia da rotação do buraco negro por um processo
conhecido como efeito Blandford-Znajek (BZ).
Os pesquisadores acreditam que
esse é o principal mecanismo de extração de energia, mas ainda há muitas
perguntas sem resposta. Não está claro, por exemplo, quanto dessa energia é
direcionada para os jatos poderosos – feixes de partículas e radiação que emergem
dos polos do buraco negro – e quanto é simplesmente dissipada como calor.
Simulações Avançadas Para
Decifrar os Buracos Negros
Para entender melhor esse
processo, o pesquisador Prasun Dhang, do instituto JILA (EUA), junto com os
astrofísicos Mitch Begelman e Jason Dexter, da Universidade do Colorado, usou
simulações avançadas de computador.
O objetivo era modelar buracos
negros cercados por discos finos e altamente magnetizados, permitindo estudar
os mecanismos físicos que controlam esses sistemas extremos.
Os resultados, publicados em 14
de fevereiro no The Astrophysical Journal, fornecem novos insights sobre a
dinâmica dos buracos negros e podem mudar nossa compreensão sobre seu impacto
na formação das galáxias.
“O gás que cai no buraco negro
pode extrair energia de sua rotação”, explica Jason Dexter. “Sempre assumimos
que isso era importante para alimentar os jatos. Mas nossas medições mais
precisas mostram que muito mais energia é extraída do que pensávamos. Essa
energia extra pode ser liberada como luz ou causar fluxos de gás para fora. De
qualquer forma, essa energia retirada do buraco negro pode iluminar a região ao
redor de seu horizonte de eventos.”
Comparação Entre
Diferentes Buracos Negros
Por décadas, cientistas estudaram
a interação dos buracos negros com o gás ao redor para entender como eles
impulsionam algumas das estruturas mais energéticas do universo.
As primeiras pesquisas focaram em
buracos negros de baixa luminosidade, pois esses sistemas são mais fáceis de
simular e estão associados a jatos observáveis. No entanto, os buracos negros
mais brilhantes, com discos de acreção mais finos, densos e magnetizados,
representam um desafio maior.
A teoria sugeria que esses discos
seriam instáveis, pois o aquecimento e o resfriamento não se equilibrariam. No
entanto, estudos anteriores, incluindo os de Mitch Begelman, indicavam que
campos magnéticos fortes poderiam estabilizar esses discos, mas o papel exato
dessa estabilização na extração de energia e formação de jatos permanecia
incerto.
“Queríamos entender como a
extração de energia funciona em ambientes altamente magnetizados”, explica
Prasun Dhang.
Como os Campos Magnéticos
Influenciam os Buracos Negros
Para investigar essa questão, a
equipe usou um modelo computacional chamado GRMHD (Magnetohidrodinâmica
Relativística Geral em 3D).
Esse modelo combina as leis do
eletromagnetismo, da dinâmica dos fluidos e da relatividade geral de Einstein
para simular o comportamento do plasma magnetizado ao redor dos buracos negros.
As simulações permitiram analisar
como os campos magnéticos interagem com buracos negros em diferentes
velocidades de rotação.
“O objetivo era entender como o
fluxo magnético atravessando o buraco negro afeta a extração de energia e a
formação de jatos”, diz Dhang.
Os cientistas modelaram discos de
acreção finos e magnetizados e mediram quanta energia o buraco negro transferia
para o meio ao redor. Dessa forma, conseguiram identificar as configurações
magnéticas e as velocidades de rotação mais propícias para gerar jatos
poderosos.
O Papel do Efeito
Blandford-Znajek
Os resultados mostraram que,
dependendo da velocidade de rotação do buraco negro, entre 10% e 70% da energia
extraída pelo efeito Blandford-Znajek era canalizada para os jatos.
“Quanto maior a rotação do buraco
negro, mais energia ele pode liberar”, observa Dhang.
No entanto, nem toda essa energia
se transforma em jatos – parte dela é reabsorvida pelo disco de acreção ou
dissipada como calor.
Embora as simulações ainda não
tenham identificado para onde vai essa energia excedente, Dhang planeja
aprofundar suas pesquisas para entender melhor o processo de formação dos
jatos. Esses jatos são comuns em núcleos ativos de galáxias, como os quasares.
O Mistério Continua
Outro achado importante das
simulações foi que campos magnéticos intensos aumentam a eficiência da radiação
do disco, tornando o buraco negro mais brilhante.
Essa luminosidade extra pode
explicar por que alguns buracos negros parecem mais brilhantes do que os
modelos teóricos preveem.
“A energia que não é usada
diretamente pode aquecer o disco e contribuir para a formação da coroa”, aponta
Dhang.
A coroa de um buraco negro é uma
região de gás quente ao seu redor que emite intensos raios X. No entanto, o
mecanismo exato de sua formação ainda não é totalmente compreendido.
A equipe espera realizar novas
simulações para desvendar como a coroa de um buraco negro se forma e evolui.
O Que Vem a Seguir?
Os resultados dessas pesquisas
ajudam a compreender como os buracos negros influenciam as galáxias ao seu
redor e podem até modificar os modelos teóricos sobre a evolução do universo.
Com a tecnologia atual e futuros
avanços em simulações, os cientistas estão cada vez mais próximos de decifrar
os mistérios dos buracos negros e sua impressionante capacidade de gerar
energia.
Terrarara.com.br
Comentários
Postar um comentário
Se você achou interessante essa postagem deixe seu comentario!