Energia escura não existe, garantem cientistas
Fim da energia escura?
Um dos maiores mistérios da
ciência, que responde pelo enigmático nome de energia escura, na verdade não
existe, de acordo com cientistas que estão tentando resolver o enigma de como o
Universo está se expandindo.
Vislumbre da história do Universo, tal como o entendemos atualmente. O cosmos começou a expandir-se com o Big Bang, mas cerca de 10 bilhões de anos mais tarde começou a acelerar graças a um fenômeno teórico denominado energia escura. [Imagem: NASA]
Nos últimos 100 anos, os
astrofísicos e os astrônomos têm assumido que o cosmos está crescendo
igualmente em todas as direções. O conceito de energia escura foi idealizado
como um substituto para uma explicação física ainda desconhecida para isso,
algo que não conseguimos entender. Mas, apesar de largamente disseminada e
divulgada, inclusive junto ao público, é uma teoria controversa que sempre teve
seus problemas.
Agora, uma equipe de físicos e
astrônomos está contestando esse status quo, utilizando análises melhoradas das
curvas de luz coletadas de supernovas, e
essa análise mais detalhada mostra que a expansão do Universo, sempre anunciada
como homogênea, é na verdade variada e irregular.
Modelo da Paisagem
Temporal
As novas evidências dão suporte a
um modelo de expansão cósmica conhecido como "paisagem temporal", ou
"continuum espaço-temporal" (o termo em inglês é timescape), que não
tem necessidade de energia escura porque as diferenças no alongamento da luz, o
famoso "desvio para o vermelho", não são o resultado de um Universo
em aceleração, mas sim uma consequência de como calibramos o tempo e a
distância para estabelecer a estrutura temporal do Universo.
Esse modelo leva em conta que a
gravidade retarda o tempo, então um relógio ideal no espaço vazio funciona mais
rápido do que dentro de uma galáxia.
O modelo sugere que um relógio na
Via Láctea seria cerca de 35% mais lento do que o mesmo relógio numa posição
média em grandes vazios cósmicos, o que significa que bilhões de anos teriam
passado a mais nesses vazios. Isto, por sua vez, permitiria uma maior expansão
do espaço, fazendo parecer que a expansão está se tornando mais rápida à medida
que esses vastos vazios crescem para dominar o Universo.
"Nossas descobertas mostram
que não precisamos da energia escura para explicar porque é que o Universo
parece se expandir em um ritmo acelerado. A energia escura é uma identificação
errada de variações na energia cinética da expansão, que não é uniforme num
Universo tão irregular como aquele no qual vivemos," disse o professor
David Wiltshire, da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia.
Este gráfico mostra o surgimento de uma teia cósmica em uma simulação cosmológica usando a relatividade geral, de 300.000 anos após o Big Bang até um Universo semelhante ao nosso hoje. As regiões escuras estão vazias de matéria, onde um relógio ideal funcionaria mais rápido e permitiria mais tempo para a expansão do espaço. As regiões roxas mais claras são mais densas, então os relógios funcionariam mais devagar, o que significa que, no modelo cosmológico da paisagem temporal, a aceleração da expansão do Universo não é uniforme. [Imagem: Macpherson et al. - 10.1103/PhysRevD.99.063522]
Energia escura e a
aceleração da expansão do Universo
A energia escura é comumente
considerada uma força antigravitacional fraca, que atuaria independentemente da
matéria, mas representaria cerca de dois terços da densidade de massa-energia
do Universo. O modelo padrão ensinado nos livros-texto de hoje, chamado
Lambda-CDM (Λ-CDM), requer a energia escura para explicar a aceleração
observada na taxa de expansão do cosmos.
Os cientistas baseiam esta
conclusão em medições das distâncias até as explosões de supernovas em galáxias
distantes, que parecem estar mais distantes do que deveriam estar se a expansão
do Universo não estivesse se acelerando.
No entanto, a taxa atual de
expansão do Universo vem sendo continuamente contestada pelas novas
observações.
Em primeiro lugar, as evidências
do brilho posterior do Big Bang - conhecido como Fundo Cósmico de Micro-ondas
(CMB) - mostram que a expansão do Universo primordial está em desacordo com a
expansão atual, uma anomalia conhecida como "tensão de Hubble". Além
disso, a análise recente de novos dados de alta precisão coletados pelo
Instrumento Espectroscópico de Energia Escura (DESI) descobriu que o modelo CDM
não se ajusta tão bem aos modelos nos quais a energia escura está
"evoluindo" ao longo do tempo, em vez de permanecer constante.
Tanto a tensão de Hubble como as
surpresas reveladas pelo DESI são difíceis de resolver em modelos que utilizam
uma lei simplificada da expansão cósmica com 100 anos de idade - a equação de
Friedmann. Ela pressupõe que, em média, o Universo se expande uniformemente -
como se todas as estruturas cósmicas pudessem ser colocadas em um
liquidificador para fazer uma sopa perfeitamente homogênea, sem nenhuma
partícula que se mantivesse inteira para complicar.
No entanto, o Universo atual
contém, na verdade, uma complexa teia cósmica de aglomerados de galáxias em
camadas e filamentos que circundam e entrelaçam vastos vazios. "Nós agora
temos tantos dados que no século 21 poderemos finalmente responder à pergunta -
como e por que uma lei de expansão média simples emerge da complexidade? Uma
lei de expansão simples, consistente com a relatividade geral de Einstein, não
precisa obedecer à equação de Friedmann," defende Wiltshire.
Nem o supermoderno telescópio Webb conseguiu resolver o enigma da expansão do Universo com base no modelo padrão aceito hoje pelos cientistas. [Imagem: NASA/ESA/CSA/STScI/Adam G. Riess (JHU, STScI)]
Dados melhores
A equipe afirma que o
observatório Euclides, da Agência Espacial Europeia, lançado em julho de 2023,
tem o poder de testar e distinguir a equação de Friedmann da teoria alternativa
da paisagem temporal. No entanto, isso exigirá pelo menos 1.000 observações
independentes e de alta qualidade de supernovas, o que levará algum tempo.
Quando o modelo de paisagem
temporal foi testado pela última vez, em 2017, a análise indicou que ele se
ajustava apenas um pouco melhor do que o ΛCDM como explicação para a expansão
cósmica, por isso a equipe foi buscar ajuda da colaboração Pantheon+, que
produziu meticulosamente um catálogo de 1.535 supernovas.
Eles afirmam que esses novos
dados agora fornecem "evidências muito fortes" do modelo paisagem
temporal. E também podem apontar para uma resolução convincente da tensão de
Hubble e outras anomalias relacionadas com a expansão do Universo.
Agora é esperar por mais
observações do Euclides e do telescópio espacial Nancy Grace Roman, para
reforçar o apoio ao modelo de paisagem temporal. A expectativa é que esta
riqueza de novos dados revele a verdadeira natureza da expansão cósmica,
eventualmente deixando o conceito de energia escura para a história da ciência.
Inovação Tecnológica
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