ESCURIDÃO CÓSMICA
Quem acha que não existe emoção em ciência não sabe o que está perdendo!” Marcelo Gleiser, de 47 anos é professor de Dartmouth College, nos EUA, e autor de cinco livros sobre ciência e conhecimento.
Nos
quase 80 anos desde que o astrônomo americano Edwin Hubble descobriu que as
galáxias distantes estão se afastando da nossa Via Láctea, o modelo do Big Bang
tomou corpo e aceitação na comunidade científica. Porém, como todo bom modelo
científico, o Big Bang também tem suas limitações.
Existem
ainda várias lacunas não explicadas, tanto nos primórdios da história cósmica,
durante os primeiros centésimos de milésimos de segundo após o ‘bang’, quanto,
pasme caro leitor, no Cosmo atual. Por incrível que pareça, não sabemos do que
o Universo é feito.
Ou
melhor, qual a composição da matéria que preenche o Cosmo. O problema é que
medidas obtidas nas últimas décadas indicam que essa matéria normal é a minoria
absoluta no Cosmo. Para ser preciso, apenas 5% da matéria cósmica.
E
os outros 95%? Em torno de 1930, o astrônomo Fritz Zwicky demonstrou que as
galáxias que coexistem em aglomerados comportam-se como se atraídas por muito
mais matéria do que aquela visível. Mais tarde, ficou claro que em torno de 90%
da matéria em aglomerados e mesmo em galáxias individuais é visível a olho nu.
O
estranho é que essa matéria não é composta de elétrons e prótons como os nossos
átomos. Sabemos que ela existe devido a sua força gravitacional, mas não
sabemos do que é feita. Por isso, essa matéria foi batizada de ‘matéria
escura’. Medidas das velocidades de galáxias em aglomerados e das propriedades
da radiação de fundo cósmico – a radiação de microondas que banha o cosmo –
indicam que aproximadamente 25% da matéria cósmica é matéria escura. Somando
com os 5% de matéria normal, chegamos a 30%. Faltam os outros 70%… Em 98, outra descoberta astronômica sacudiu o
mundo científico.
Objetos muito distantes e brilhantes,
conhecidos como supernovas do tipo la, parecem estar se afastando menos
rapidamente do que a expansão prevista para o Big Bang. Menos rapidamente com
relação a quê? A objetos próximos.
Como
a luz vinda de objetos distantes deixou-nos no passado remoto, a conclusão é
fantástica: em torno de 10 bi de anos atrás, o Universo resolveu acelerar a sua
taxa de expansão como se uma espécie de antigravidade tivesse passado a agir. A
questão, claro, é o que pode causar esse efeito?
Vários
candidatos foram propostos para descrever essa ‘energia escura’, que nem cara
de matéria tem, não sendo formada por partículas, mas, sim, espalhada pelo
Cosmo como uma sopa de energia. Sabemos que ela ocupa os outros 70% da receita
cósmica. O desafio agora é descobrir o que são essa matéria e energia escuras.
Quem acha que não existe emoção em ciência não sabe o que está perdendo!
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