Nustar revela donut cósmico CÓSMICO "GRUMOSO" em redor de buraco negro
Os maiores buracos negros do
Universo são muitas vezes rodeados por discos espessos de gás e poeira com a
forma de um donut. Este material em forma de donut, em última análise, alimenta
e nutre os buracos negros no interior. Até recentemente, os telescópios não
eram capazes de penetrar estas zonas em forma de rosca, ou mais precisamente,
toro.
Originalmente, pensávamos que
alguns buracos negros estavam escondidos por paredes de material que não
deixavam ver o que estava por trás," afirma Andrea Marinucci da
Universidade Roma Tre em Itália, autora principal de um novo estudo publicado
na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society que descreve
resultados do NuSTAR (Nuclear Spectroscopic Telescope Array) da NASA e do
observatório espacial XMM-Newton da NASA.
Com a sua visão de raios-X, o
NuSTAR espiou recentemente um dos "donuts" mais densos que se sabe
rodear um buraco negro supermassivo. Este buraco negro está no centro de uma
galáxia bem estudada chamada M77 (NGC 1068), localizada a 47 milhões de
anos-luz de distância na direção da constelação de Baleia. As observações
revelaram um donut cósmico grumoso. "O material em rotação não é um donut
simples e arredondado como originalmente se pensava, mas tem aglomerados,"
explica Marinucci.
Os discos de gás e poeira, em
forma de donut e em redor de buracos negros supermassivos, foram propostos pela
primeira vez em meados da década de 1980 para explicar porque é que alguns
buracos negros estão escondidos atrás de gás e poeira, enquanto outros não
estão. A ideia é que a orientação do donut, relativamente à Terra, afeta o modo
como observamos o buraco negro e a sua intensa radiação.
Se o donut é visto de lado, o
buraco negro é ocultado. Se é visto de face, conseguimos detetar o buraco negro
e os seus materiais quentes nos arredores. Esta ideia é referida como o modelo
unificado porque junta os vários diferentes tipos de buraco negro com base
apenas na orientação.
Ao longo da última década, os
astrónomos têm encontrado indícios de que estes discos de material não têm uma
forma tão harmoniosa como se pensava. São como donuts defeituosos, com
aglomerados ou grumos, que a pastelaria acaba por deitar fora.
A nova descoberta é a
primeira vez que foram observadas irregularidades num disco ultra espesso e
suporta a ideia que este fenómeno pode ser comum. A pesquisa é importante para
a compreensão do crescimento e evolução dos buracos negros supermassivos e das
suas galáxias hospedeiras.
"Nós não entendemos
totalmente o porquê de alguns buracos negros supermassivos serem tão fortemente
obscurecidos, ou porque é que o material em volta tem tantas
irregularidades," afirma Poshak Gandhi da Universidade de Southampton no
Reino Unido. "Este é um tema quente de debate."
Tanto o NuSTAR como o
XMM-Newton observaram o buraco negro de M77 simultaneamente em duas ocasiões
entre 2014 e 2015. Numa dessas ocasiões, em agosto de 2014, o NuSTAR observou
um aumento de brilho. O NuSTAR observa raios-X numa gama mais energética do que
o XMM-Newton, e esses raios-X altamente energéticos podem penetrar as espessas
nuvens em redor do buraco negro.
Os cientistas dizem que o
aumento de raios-X de alta energia foi devido a uma espécie de abertura que
diminuiu a espessura do material que sepulta o buraco negro supermassivo. É
como um dia nublado, quando as nuvens parcialmente saem da frente do Sol para
deixar entrar mais luz," comenta Marinucci.
A galáxia M77 é bem conhecida
pelos astrónomos pois o seu buraco negro foi o primeiro a sugerir a ideia da
unificação. "Mas é somente com o NuSTAR que agora temos um vislumbre
direto do buraco negro supermassivo através dessas nuvens, ainda que fugaz,
permitindo um melhor teste do conceito de unificação," afirma Marinucci. A
equipa diz que a investigação futura irá abordar a questão do que produz a
desigualdade nos discos em forma de donut.
A resposta pode vir em muitos sabores. É
possível que um buraco negro gere turbulência à medida que "mastiga"
material das redondezas. Ou, a energia emitida por estrelas jovens pode ser a
responsável pela turbulência que, em seguida, pode "infiltrar-se"
através do bolo cósmico. Outra possibilidade é que os aglomerados podem vir de
material em queda para o donut.
À medida que as galáxias se
formam, o material migra para o centro, onde a densidade e a gravidade são
maiores. O material tende a cair em aglomerados, quase como uma corrente de
água que se forma a partir de várias gotas quando atingem o solo. Nós
gostávamos de descobrir se a irregularidade do material está a ser gerado de
fora do donut, ou dentro," observa Gandhi.
Estas observações coordenadas com o NuSTAR e com o XMM-Newton mostram mais uma vez a emocionante ciência possível quando estes satélites trabalham em conjunto," comenta Daniel Stern, cientista do projeto NuSTAR no JPL (Jet Propulsion Laboratory) da NASA em Pasadena, no estado americano da Califórnia.
Fonte: Astronomia Online
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