Talvez pudéssemos ver um dia "singularidades" dentro dos buracos negros?
Quando buracos negros colidem, interações entre seus núcleos podem deixar uma marca nas ondas gravitacionais resultantes
As singularidades são os objetos
mais extremos do universo. Elas se formam quando estrelas ficam sem
“combustível” e entram em colapso sob seus próprios campos gravitacionais.
Quando as singularidades são cercadas por uma superfície de onde nada, nem mesmo
a luz, pode escapar, conhecida como horizonte de eventos, este objeto é o que
conhecemos como buraco negro.
As singularidades são também um
mistério. Isso porque, para explorar a verdadeira natureza das singularidades,
precisaríamos de uma teoria que unificasse a relatividade geral e a mecânica
quântica. Por enquanto, essa é uma tarefa que ninguém conseguiu realizar.
Porém, em um texto publicado no
site da revista Scientific American, o físico Avi Loed, professor da
Universidade de Harvard, diz acreditar que seja possível avançarmos até o ponto
de chegarmos a uma teoria que nos faça “ver” as singularidades.
“Mesmo no contexto de propostas
específicas para um modelo unificado, como a teoria das cordas, a natureza das
singularidades dos buracos negros raramente é discutida por causa de sua complexidade
matemática. Mas talvez esteja na hora de abrir essa discussão, já que o Prêmio
Nobel de 2017 foi concedido à equipe do LIGO por descobrir ondas gravitacionais
de colisões de buracos negros. Um sinal quântico observável das singularidades
incorporadas poderia nos guiar na busca por uma teoria unificada”, defende ele
em seu texto.
Reservatório de matéria
Ele explica que essa ideia surgiu
em sua mente após um evento cotidiano em sua casa. “Esse pensamento me ocorreu
durante duas conferências consecutivas que realizamos na Universidade de
Harvard de 7 a 11 de maio, uma sobre astrofísica de ondas gravitacionais e a
segunda sobre a conferência anual da Iniciativa do Buraco Negro de Harvard.
Alguns dias antes, o porão de minha casa estava inundado, já que o cano de
esgoto estava entupido de raízes de árvores, e as cinco horas que passei com um
encanador para consertar esse problema me levaram a perceber que a água que
escorre pelo ralo é coletada em algum lugar”.
“Normalmente, o cano de esgoto
leva a água para um reservatório da cidade e não pensamos onde ela vai, porque
não vemos a água quando ela sai de nossa propriedade. Mas como o cano de esgoto
da minha casa estava entupido, a água inundou meu porão e então comecei a
pensar sobre o problema análogo de onde a matéria que faz um buraco negro é
coletada. O reservatório nesse caso é a singularidade”.
“É verdade que a singularidade de
um buraco negro estacionário está escondida atrás de um horizonte de eventos
para qualquer observador externo. Essa “censura cósmica” é uma boa razão para
ignorar as consequências observacionais das singularidades ao sondar o
espaço-tempo calmo em torno de buracos negros isolados, por exemplo – enquanto
imaginamos a silhueta de Sagitário A * no centro da Via Láctea com o Telescópio
Event Horizon”.
Porém, Loed diz que essa barreira
não significa que os pesquisadores não possam estudar estes objetos. “Isso não
implica que os observadores, de maneira mais geral, nunca possam estudar
empiricamente a natureza das singularidades. Quando as crianças recebem um
presente de aniversário embrulhado em uma caixa, elas tentam aprender sobre sua
natureza sem vê-lo diretamente sacudindo a caixa e ouvindo suas vibrações.
Da
mesma forma, podemos ouvir as vibrações de um horizonte de buraco negro que é
fortemente abalado através de sua colisão com outro buraco negro, na esperança
de aprender mais sobre a natureza das singularidades escondidas no interior. As
futuras gerações de detectores LIGO podem servir como “ouvidos de criança” na extração
de novas informações dessas vibrações”, compara.
Fonte: Scientific American
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