Físicos medem o vácuo pela primeira vez
A física é o campo da ciência
que estuda as propriedades da matéria e da energia – ou seja, tudo que existe,
e tudo, nesse caso, inclui até mesmo o nada. O vazio não é realmente vazio de
acordo com as leis da física quântica. O vácuo, no qual classicamente supõe-se
que não haja literalmente “nada”, está repleto de coisas chamadas flutuações do
vácuo – pequenas alterações de um campo eletromagnético, por exemplo, que
geralmente chegam a zero com o tempo, mas podem se desviar disso por um breve
momento.
Para alguns físicos, medir o
espectro de pequenas ondas que compõem o espaço vazio que chamamos de vácuo é
uma meta há décadas, mas até agora não havia uma boa maneira de fazer isso.
Isso mudou nesta semana, quando físicos da ETH Zurich usaram habilmente pulsos
de laser para entender a natureza quântica de um vácuo, estabelecendo um marco
nas tentativas de medir o nada absoluto.
“As flutuações do campo
eletromagnético no vácuo têm consequências claramente visíveis e, entre outras
coisas, são responsáveis pelo fato de que um átomo pode emitir luz
espontaneamente”, explica Ileana-Cristina Benea-Chelmus, física do Instituto de
Eletrônica Quântica da ETH Zurich, em entrevista ao site da instituição
Nosso Universo é uma tela
cheia de espaços vazios. Há uma textura nessa realidade nua que só podemos
detectar. Mas este espaço, que geralmente consideramos completamente ausente de
matéria e radiação, é um campo infinito de possibilidades do qual emergem algumas
partículas. Existe um campo para cada partícula elementar, apenas esperando por
energia suficiente para definir as principais características de sua
existência.
Essas partículas são todas
limitadas por uma regra estranha – à medida que algumas possibilidades
aumentam, outras têm que encolher. Uma partícula pode estar em um local
preciso, por exemplo, mas terá um momentum muito vago, ou vice-versa. Este
princípio de incerteza não se aplica apenas às partículas, mas também ao
próprio campo vago.
Durante um período prolongado
de tempo, a quantidade de energia em um volume de espaço vazio é em média zero.
Mas em determinados momentos não sabemos quanta energia será encontrada nestes
espaços, o que resulta em um espectro de probabilidades.
Embora pareça aleatória, há
correlações que podem nos dar informações sobre a natureza dessa ondulação.
Para medir a maioria das coisas, os pesquisadores precisam estabelecer um ponto
de partida. Infelizmente, isso é difícil de fazer com algo que já está em seu
estado mais baixo de energia.
“É um pouco como medir a força de um soco a
partir de um punho sem movimento”, compara matéria do portal Science Alert. “Os
detectores tradicionais de luz, como os fotodiodos, baseiam-se no princípio de
que as partículas de luz – e, portanto, a energia – são absorvidas pelo
detector. No entanto, a partir do vácuo, que representa o menor estado de
energia de um sistema físico, nenhuma energia adicional pode ser extraída”,
explica Benea-Chelmus.
Então, em vez de medir a
transferência de energia de um campo vazio, a equipe planejou uma maneira de
procurar a assinatura de suas sutis mudanças de probabilidade na polarização
dos fótons. Ao comparar dois pulsos de laser de apenas um trilionésimo de
segundo de comprimento, enviados através de um cristal super-frio em diferentes
momentos e locais, a equipe pôde descobrir como o espaço vazio entre os átomos
do cristal afetava a luz.
“Ainda assim, o sinal medido
é absolutamente pequeno, e nós realmente tivemos que maximizar nossa capacidade
experimental de medir campos muito pequenos”, diz o físico Jérôme Faist ao site
do ETH Zurich.
Essa oscilação quântica era
tão pequena que eles precisaram de até um trilhão de observações para cada
comparação, apenas para ter certeza de que as medições eram legítimas. Essas
medições minúsculas permitiram que eles determinassem o fino espectro de um
campo eletromagnético em seu estado fundamental.
Controlar o que é
efetivamente espaço vazio está se tornando um grande negócio na física
quântica. Recentemente, outra equipe de físicos tentou colocar limites no ruído
do vácuo à temperatura ambiente, a fim de melhorar a funcionalidade do detector
de ondas gravitacionais LIGO.
Partículas virtuais – breves
fantasmas de possíveis partículas que mal existem como incertezas em um campo –
também são fundamentais para entender como os buracos negros se evaporam
lentamente com o passar do tempo através da radiação de Hawking.
Segundo a matéria do ETH
Zurich, os pesquisadores esperam que no futuro eles possam medir ainda mais os
casos exóticos de flutuações de vácuo usando este método. “Na presença de
fortes interações entre fótons e matéria, que podem ser alcançadas, por
exemplo, dentro de cavidades ópticas, de acordo com cálculos teóricos, o vácuo
deve ser preenchido com uma multiplicidade de chamados fótons virtuais. O
método desenvolvido por Faist e seus colaboradores deve possibilitar o teste
dessas previsões teóricas”, diz o texto.
Fonte: hypescience.com
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