"ESCADA" Refinada do HUBBLE fornece evidências de uma nova física no UNIVERSO
Esta ilustração mostra os três passos que os astrónomos usaram para medir a expansão do Universo (constante de Hubble) com uma precisão sem precedentes, reduzindo a incerteza total até 2,3%. As medições otimizam e fortalecem a construção da "escada" de distâncias cósmicas, usada para medir distâncias precisas a galáxias próximas e distantes da Terra. O estudo mais recente do Hubble estica o número de estrelas analisadas a distâncias até 10 vezes mais para o espaço do que os resultados anteriores do Hubble.Crédito: NASA, ESA, A. Feild (STScI) e A. Riess (STScI/JHU)
Os astrónomos usaram o Telescópio
Espacial Hubble da NASA para fazer as medições mais precisas da taxa de
expansão do Universo desde que foi calculada pela primeira vez há quase um
século. Curiosamente, os resultados estão a forçar os astrónomos a considerar
que podem estar a ver evidências de algo inesperado a obrar no Universo.
Isto porque a descoberta mais
recente do Hubble confirma uma discrepância incómoda que mostra que o Universo
parece estar a expandir-se mais depressa, agora, do que era esperado dada a sua
trajetória vista pouco depois do Big Bang. Os investigadores sugerem que pode
ser necessária uma nova física para explicar a inconsistência.
"A comunidade está realmente
a lutar para compreender o significado desta discrepância," realça o
investigador principal e Prémio Nobel Adam Riess do STScI (Space Telescope
Science Institute) e da Universidade Johns Hopkins, ambos em Baltimore, no
estado norte-americano de Maryland.
A equipa de Riess, que inclui
Stefano Casertano, também do STScI e de Johns Hopkins, tem vindo a usar o
Hubble ao longo dos últimos seis anos para refinar as medições das distâncias a
galáxias, usando as suas estrelas como marcadores. Essas medições são usadas
para calcular quão rápido o Universo se expande com o tempo, um valor conhecido
como a constante de Hubble. O novo estudo da equipa estica o número de estrelas
analisadas até 10 vezes a distância dos resultados anteriores do Hubble.
Mas o valor de Riess reforça a
disparidade com o valor esperado e derivado das observações da expansão do
Universo inicial, 378.000 anos após o Big Bang - o evento violento que formou o
Universo há aproximadamente 13,8 mil milhões de anos. Estas medições foram
feitas pelo satélite Planck da ESA, que mapeia o fundo cósmico de micro-ondas,
uma relíquia do Big Bang. A diferença entre estes dois valores é
aproximadamente de 9%. As novas medições do Hubble ajudam a reduzir as
hipóteses de que a discrepância entre os dois valores é mera coincidência para
1 em 5000.
O resultado do Planck previa que
o valor da constante de Hubble deveria agora ser de 67 quilómetros por segundo
por megaparsec (3,3 milhões de anos-luz), e que não podia ser superior a 69
quilómetros por segundo por megaparsec. Isto significa que por cada 3,3 milhões
de anos-luz que uma galáxia está de nós, move-se 67 km/s mais depressa. Mas a
equipa de Riess mediu um valor de 73 km/s/Mpc, indicando que as galáxias se
movem a um ritmo mais rápido do que o implícito nas observações do Universo
inicial.
Os dados do Hubble são tão
precisos que os astrónomos não podem descartar a diferença entre os dois
resultados como erros em qualquer medição única ou método. "Ambos os
resultados foram testados de várias formas, assim que a não ser que existam uma
série de erros não relacionados," explica Riess, "é cada vez mais
provável que não seja um 'bug', mas uma característica do Universo."
Explicando uma Discrepância
Vexante
Riess delineou algumas
explicações possíveis para esta discrepância, todas relacionadas com os 95% do
Universo que está envolto em escuridão. Uma possibilidade é que a energia
escura, já conhecida por acelerar o cosmos, pode estar a afastar as galáxias
umas das outras com uma força ainda maior - ou crescente. Isto significa que a
própria aceleração pode não ter um valor constante no Universo, mas mudar ao
longo do tempo do Universo. Riess partilhou o Prémio Nobel pela descoberta, em
1998, da aceleração do Universo.
Outra ideia é que o Universo
contém uma nova partícula subatómica que viaja perto da velocidade da luz.
Estas velozes partículas são coletivamente chamadas "radiação escura"
e incluem partículas anteriormente conhecidas como os neutrinos, criados em
reações nucleares e decaimentos radioativos. Ao contrário de um neutrino
normal, que interage por força subatómica, esta nova partícula só seria afetada
pela gravidade e é apelidada de "neutrino estéril."
Ainda outra possibilidade
fascinante é que a matéria escura (uma forma invisível de matéria não composta
por protões, neutrões e eletrões) interage mais fortemente com a matéria normal
ou com a radiação do que se julgava anteriormente.
Qualquer um destes cenários
mudaria os conteúdos do Universo inicial, levando a inconsistências nos modelos
teóricos. Estas inconsistências resultariam num valor incorreto para a
constante de Hubble, inferido a partir de observações do cosmos jovem. Este
valor seria então incompatível com o número derivado das observações do Hubble.
Riess e colegas não têm ainda
quaisquer respostas para este problema vexante, mas a sua equipa continuará a
trabalhar no ajuste da taxa de expansão do Universo. Até agora, a equipa de
Riess, de nome SH0ES (Supernova H0 for the Equation of State), diminuiu a
incerteza para 2,3%. Antes do Hubble ter sido lançado em 1990, as estimativas
da constante de Hubble variavam por um fator de dois. Um dos objetivos
principais do Hubble era o de ajudar os astrónomos a reduzir o valor desta
incerteza até um erro de apenas 10%. Desde 2005, o grupo tem procurado
aprimorar a precisão da constante de Hubble até que permita uma melhor
compreensão do comportamento do Universo.
Construindo uma Forte
"Escada" de Distâncias Cósmicas
A equipa conseguiu refinar o
valor da constante de Hubble otimizando e fortalecendo a construção da escada
de distâncias cósmicas, que os astrónomos usam para medir distâncias precisas
de galáxias próximas e distantes. Os investigadores compararam essas distâncias
com a expansão do espaço, conforme medido pela dilatação da luz de galáxias
cada vez mais distantes. Usaram então a aparente velocidade externa das
galáxias a cada distância para calcular a constante de Hubble.
Mas o valor da constante de
Hubble só é tão preciso quanto a precisão das medições. Os astrónomos não podem
usar uma fita métrica para medir as distâncias entre galáxias. Em vez disso,
selecionaram classes especiais de estrelas e supernovas como "marcadores
cósmicos" para medir com precisão as distâncias galácticas.
Entre as mais confiáveis para
distâncias mais pequenas estão as variáveis Cefeidas, estrelas pulsantes que
aumentam e diminuem de brilho a ritmos que correspondem ao seu brilho
intrínseco. As suas distâncias, portanto, podem ser inferidas através da
comparação do seu brilho intrínseco com o seu brilho aparente visto da Terra.
A astrónoma Henrietta Leavitt foi
a primeira a reconhecer a utilidade das variáveis Cefeidas para medir
distâncias em 1913. Mas o primeiro passo é medir as distâncias às Cefeidas
independentemente do seu brilho, usando uma ferramenta básica de geometria
chamada paralaxe. A paralaxe é a mudança aparente na posição de um objeto
devido a uma alteração do ponto de vista de um observador. Esta técnica foi
inventada pelos antigos Gregos que a usaram para medir a distância da Terra à
Lua.
O resultado mais recente do
Hubble é baseado em medições da paralaxe de oito Cefeidas recém-analisadas na
nossa Via Láctea. Estas estrelas estão cerca de 10 vezes mais distantes do que
as estudadas anteriormente, residindo a 6000-12.000 anos-luz da Terra, o que as
torna mais difíceis de medir. Pulsam a intervalos mais longos, tal como as
Cefeidas observadas pelo Hubble em galáxias distantes que contêm outra
"régua" confiável, explosões estelares chamadas supernovas do Tipo
Ia. Este tipo de supernova explode com um brilho uniforme e é brilhante o
suficiente para ser observado relativamente longe. As observações anteriores do
Hubble estudaram 10 cefeidas que piscam mais depressa localizadas a 300-1600
anos-luz da Terra.
Examinando as Estrelas
Para medir a paralaxe com o
Hubble, a equipa teve que avaliar a pequena, mas aparente oscilação das
Cefeidas devido ao movimento da Terra em torno do Sol. Estas oscilações têm
aproximadamente 1/100 do tamanho de um único pixel na câmara do telescópio,
equivalentes ao tamanho aparente de um grão de areia a 160,9 km de distância.
Portanto, para garantir a
precisão das medições, os astrónomos desenvolveram um método inteligente que
não tinha sido previsto aquando do lançamento do Hubble. Os cientistas
inventaram uma técnica de varrimento na qual o telescópio media a posição de
uma estrela mil vezes por minuto a cada seis meses durante quatro anos.
A equipa calibrou o brilho
verdadeiro das oito estrelas que pulsam lentamente e cruzou-as com as suas
primas mais distantes a fim de encolher as imprecisões na sua escada de
distâncias. Os investigadores compararam então o brilho das Cefeidas e das
supernovas nessas galáxias com maior confiança, para que pudessem medir com
mais firmeza o brilho verdadeiro das estrelas e, portanto, calcular distâncias
a centenas de supernovas em galáxias distantes com maior precisão.
Outra vantagem deste estudo é que
a equipa usou o mesmo instrumento, o WFC3 (Wide Field Camera 3) do Hubble, para
calibrar as luminosidades tanto das Cefeidas próximas como daquelas noutras
galáxias, eliminando os erros sistemáticos que são inevitavelmente introduzidos
quando comparando medições obtidas por diferentes telescópios.
"Normalmente, se a cada seis
meses tentarmos medir a mudança na posição de uma estrela em relação a uma
segunda a estas distâncias, estamos limitados pela capacidade em descobrir
exatamente onde está a estrela," explicou Casertano. Usando a nova
técnica, o Hubble move-se lentamente através de um alvo estelar e capta a
imagem como uma linha de luz. "Este método permite oportunidades repetidas
para medir os deslocamentos extremamente pequenos devido à paralaxe,"
acrescenta Riess. "Estamos a medir a separação entre duas estrelas, não
apenas num local na câmara, mas repetidamente durante milhares de vezes,
reduzindo os erros nas medições."
O objetivo da equipe é reduzir
ainda mais a incerteza usando dados do Hubble e do observatório espacial Gaia
da ESA, que irá medir as posições e distâncias de estrelas com uma precisão sem
precedentes. "Esta precisão é o que será necessário para diagnosticar a
causa desta discrepância," explica Casertano.
Os resultados da equipa foram
aceites para publicação na revista The Astrophysical Journal.
Fonte: ASTRONOMIA ONLINE
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