Vendo a dobra pode ajudar a resolver debate sobre rapidez da expansão o Universo
Imagem, pelo Telescópio Espacial Hubble, de um quasar com imagem dupla.Crédito: NASA, Tommaso Treu/UCLA e Birrer et al.
A questão de quão
rapidamente o Universo está a expandir-se tem intrigado os astrónomos há quase
um século. Estudos diferentes continuam a obter novas respostas - o que faz com
que alguns investigadores se perguntem se estão a negligenciar um mecanismo-chave
na "maquinaria" que impulsiona o cosmos.
Agora, ao descobrirem uma
nova maneira de medir quão rapidamente o cosmos se está a expandir, uma equipa
liderada por astrónomos da UCLA (University of California, Los Angeles) deu um
passo em direção à resolução do debate. A investigação do grupo foi publicada
na revista científica Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
No coração da disputa está
a constante de Hubble, um número que relaciona as distâncias com os desvios
para o vermelho das galáxias - quanto a luz é esticada enquanto viaja até à
Terra através do Universo em expansão. As estimativas da constante de Hubble
variam de 67 a 73 quilómetros por segundo por megaparsec, o que significa que
dois pontos no espaço separados por 1 megaparsec (o equivalente a 3,26 milhões
de anos-luz) estão a afastar-se um do outro a uma velocidade entre 67 e 73
quilómetros por segundo.
"A constante de
Hubble ancora a escala física do Universo," disse Simon Birrer, académico
pós-doutorado da UCLA e autor principal do estudo. Sem um valor preciso para a
constante de Hubble, os astrónomos não podem determinar com precisão os
tamanhos de galáxias remotas, a idade do Universo ou a história de expansão do
cosmos.
A maioria dos métodos para
derivar a constante de Hubble tem dois ingredientes: uma distância até uma
determinada fonte de luz e o desvio para o vermelho dessa fonte de luz.
Procurando uma fonte de luz que não tinha sido usada nos cálculos de outros
cientistas, Birrer e colegas voltaram-se para os quasares, fontes de radiação
alimentadas por enormes buracos negros. Para a sua investigação, os cientistas
escolheram um subconjunto específico de quasares - aqueles cuja luz foi curvada
pela gravidade de uma galáxia interveniente e pelo seu efeito de lente
gravitacional, que produz duas imagens do quasar lado a lado no céu.
A luz das duas imagens
toma percursos diferentes até à Terra. Quando o brilho do quasar flutua, as
duas imagens piscam uma após a outra, e não ao mesmo tempo. O atraso no tempo
entre essas duas cintilações, juntamente com informações sobre o campo
gravitacional da galáxia "intrometida", pode ser usado para traçar a
viagem da luz e deduzir as distâncias à Terra, tanto do quasar como da galáxia
no plano da frente. O conhecimento dos desvios para o vermelho do quasar e da
galáxia permitiu que os cientistas estimassem a rapidez com que o Universo está
a expandir-se.
A equipe da UCLA, como
parte da colaboração internacional H0liCOW, tinha aplicado anteriormente a
técnica no estudo de quasares com imagem quadruplicada, imagens de um quasar
que aparece quatro vezes em redor de uma galáxia no plano da frente. Mas as
imagens quádruplas não são tão comuns - pensa-se que os quasares com imagem
dupla sejam aproximadamente cinco vezes mais abundantes do que os de imagem
quádrupla.
Para demonstrar a técnica,
a equipa estudou um quasar conhecido como SDSS J1206+4332; contaram com dados
do Telescópio Espacial Hubble, dos observatórios Gemini e W. M. Keck e da rede
COSMOGRAIL (Cosmological Monitoring of Gravitational Lenses) - um programa
gerido pela Escola Politécnica Federal de Lausanne, Suíça, cujo objetivo é
determinar a constante de Hubble.
Tommaso Treu, professor de
física e astronomia na UCLA e autor sénior do artigo, disse que os
investigadores obtiveram fotos do quasar, todos os dias, durante vários anos,
para medir com precisão o desfasamento de tempo entre as imagens duplas. Então,
para obter a melhor estimativa possível da constante de Hubble, combinaram os
dados reunidos desse quasar com dados previamente recolhidos pela sua
colaboração H0liCOW de três quasares de imagem quadruplicada.
"A beleza desta
medição é que é altamente complementar e independente das outras,"
salientou Treu.
A equipa apresentou uma
estimativa da constante de Hubble de aproximadamente 72,5 quilómetros por
segundo por megaparsec, um número em linha com o que outros cientistas haviam
determinado em pesquisas anteriores que usaram distâncias de supernovas -
explosões estelares em galáxias remotas - como medições fundamentais. No
entanto, ambas as estimativas são cerca de 8% mais altas do que uma que se
baseia num brilho fraco de todo o céu chamado fundo cósmico de micro-ondas, uma
relíquia que remonta a 380.000 anos após o Big Bang, quando a luz viajou pela
primeira vez livremente pelo espaço.
"Se houver uma
diferença real entre esses valores, significa que o Universo é um pouco mais
complicado," explicou Treu.
Por outro lado, também
pode ser que uma medição - ou todas as três - estejam erradas.
Os investigadores estão
agora à procura de mais quasares a fim de melhorar a precisão da sua medição da
constante de Hubble. Treu disse que uma das lições mais importantes do novo
artigo é que os quasares com imagens duplas dão aos cientistas muitas mais
fontes de luz úteis para os seus cálculos da constante de Hubble. No entanto,
por agora, a equipa foca a sua pesquisa em 40 quasares de imagens
quadruplicadas, devido ao seu potencial para fornecer informações ainda mais
úteis do que os quasares com imagens duplas.
Fonte: Astronomia OnLine
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