Por que a parte interna do Sistema Solar não gira mais rápido que a parte externa?
Os discos protoplanetários giram de maneira homogênea em toda a sua extensão radial. [Imagem: CactiStaccingCrane]
Conservação do momento
angular
O movimento de um pequeno
número de partículas eletricamente carregadas pode resolver um mistério de
longa data sobre os discos protoplanetários, finas camadas de gás girando em
torno de estrelas jovens.
Conhecidos como discos de
acreção, essas formações duram dezenas de milhões de anos e são uma fase
inicial da evolução de um sistema planetário. Eles contêm uma pequena fração da
massa da estrela em torno da qual giram - imagine um anel semelhante ao de
Saturno tão grande quanto o Sistema Solar.
Eles são chamados de discos de
acreção (aglomeração) porque o gás que eles contêm espirala lentamente em
direção à estrela.
Os cientistas perceberam há
muito tempo que, quando surge essa espiral rumo ao centro, ela deveria fazer
com que a parte radialmente interna do disco girasse mais rápido, de acordo com
a lei da conservação do momento angular. Para entender a conservação do momento
angular, pense nos patinadores artísticos girando sobre si mesmos: Quando seus
braços estão esticados, eles giram lentamente, mas, à medida que encolhem os
braços, giram mais rapidamente.
O momento angular é
proporcional à velocidade vezes o raio, e a lei da conservação do momento
angular afirma que o momento angular em um sistema permanece constante. Assim,
se o raio do patinador diminuir porque ele esticou os braços, a única maneira
de manter o momento angular constante é aumentar a velocidade de rotação.
O movimento espiral para
dentro do disco de acreção é semelhante a um patinador encolhendo os braços -
e, como tal, a parte interna do disco de acreção deve girar mais rápido. Embora
as observações astronômicas mostrem que a parte interna de um disco de acreção
de fato gira mais rápido, ela não gira tão rápido quanto o previsto pela lei de
conservação do momento angular.
Como pode ser isso?
A principal teoria atual é que
os campos magnéticos criam o que é chamado de "instabilidade
magnetorrotacional", que gera gás e turbulência magnética - gerando
efetivamente um atrito que diminui a velocidade de rotação do gás espiralando
para dentro. Mas essa tendência de explicar as coisas pela turbulência não
agrada muitos cientistas.
Se planetas se formam em discos protoplanetários, por que não há planetas nos discos?[Imagem: Kazuhiro Kanagawa/ALMA(ESO/NAOJ/NRAO)]
Perda de momento angular
Agora, os físicos Paul Bellan
e Yang Zhang, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, criaram um modelo de
computador de um disco de acreção virtual giratório e superfino. O disco
simulado contém cerca de 40.000 partículas neutras e cerca de 1.000 partículas
eletricamente carregadas, que poderiam colidir umas com as outras. O modelo
também levou em consideração os efeitos da gravidade e de um campo magnético.
"Este modelo tem
exatamente a quantidade certa de detalhes para capturar todas as
características essenciais," disse Bellan, "porque ele é grande o
suficiente para se comportar como trilhões e trilhões de partículas neutras,
elétrons e íons em colisão orbitando uma estrela em um campo magnético."
A simulação mostrou que
colisões entre átomos neutros e um número muito menor de partículas carregadas
faz com que íons carregados positivamente, ou cátions, espiralem para dentro em
direção ao centro do disco, enquanto partículas carregadas negativamente
(elétrons) espiralam para fora, em direção à borda. As partículas neutras, por
sua vez, perdem momento angular e, como os íons carregados positivamente,
espiralam para o centro.
"Como previsto pela
mecânica Lagrangiana, a quantidade global conservada fundamental é o momento
angular canônico total, não o momento angular comum," concluiu a dupla.
O momento angular canônico é a
soma do momento angular ordinário original mais uma quantidade adicional que
depende da carga de uma partícula e do campo magnético. Para partículas
neutras, não há diferença entre o momento angular comum e o momento angular canônico,
então se preocupar com o momento angular canônico é desnecessariamente
complicado. Mas, para partículas carregadas - cátions e elétrons - o momento
angular canônico é muito diferente do momento angular comum porque a quantidade
magnética adicional é muito grande.
Como os elétrons são negativos
e os cátions são positivos, o movimento para dentro dos íons e o movimento para
fora dos elétrons, que são causados por colisões, aumenta o momento angular
canônico de ambos. As partículas neutras perdem momento angular como resultado
de colisões com as partículas carregadas e se movem para dentro, o que
equilibra o aumento do momento angular canônico da partícula carregada.
Parece pouco, mas faz uma
diferença enorme na escala de um sistema planetário: Apenas cerca de uma em um
bilhão de partículas precisa ser carregada para explicar a perda observada de
momento angular das partículas neutras. E, como essa perda de momento angular
depende apenas de partículas neutras colidindo com partículas carregadas, este
deve ser um fenômeno disseminado por todo o cosmos.
"Este estudo responde a
uma pergunta difícil sobre como os discos se desenvolvem, evoluem e formam
jatos," diz Lisa Winter, da Fundação Nacional de Ciências dos EUA.
"Esse processo acontece em todo o Universo, desde a formação de sistemas
solares até buracos negros supermassivos nos centros das galáxias."
Fonte: Inovação Tecnológica
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