Telescópio James Webb pode ter encontrado a primeira galáxia 'pura' do universo

Cientistas descobriram a galáxia AMORE6, quase sem elementos pesados, o que apoia fortemente as previsões do modelo do Big Bang

Esta figura mostra uma imagem em mosaico do campo Abell 2744. A posição observada do sistema AMORE6-A+B é mostrada pelo quadrado amarelo. Crédito: Morishita et al. 2025. Nature 

Nosso entendimento do Universo começa com o Big Bang, o momento em que tudo começou a se expandir. Durante esse evento, um processo chamado *nucleossíntese do Big Bang* criou apenas os elementos mais leves: hidrogênio, hélio e uma pequena quantidade de lítio. Elementos mais pesados, que os cientistas chamam de “metais? (como oxigênio e carbono), só surgiram depois, formados no interior de estrelas que nasceram e morreram após essa primeira fase.

As primeiras estrelas, chamadas de *População III*, foram as pioneiras em criar esses elementos pesados por meio de um processo chamado *nucleossíntese estelar*. Essas estrelas tinham quase nenhum metal, ou quantidades mínimas, e, ao longo de suas vidas, enriqueceram o Universo com os primeiros metais. Como as estrelas nascem dentro de galáxias, e não sozinhas, também deveria haver galáxias *População III* compostas por estrelas sem nenhum metal.

Apesar de avanços no estudo da história do Universo, ainda faltam peças importantes. Uma delas é a prova da existência dessas galáxias *População III*. A teoria diz que algumas galáxias muito antigas, observadas em períodos distantes (chamados de alto *desvio para o vermelho*), deveriam ter zero metal. Encontrar uma dessas galáxias seria uma grande confirmação do nosso entendimento sobre o Universo.

Surpresas do Telescópio James Webb

O Telescópio Espacial James Webb (James Webb) já mudou o que pensávamos sobre o Universo ao revelar galáxias grandes e bem formadas muito mais cedo do que os modelos previam. Segundo o que sabíamos antes, galáxias tão desenvolvidas não deveriam existir tão logo após o Big Bang. Essas descobertas levaram os astrônomos a repensarem o quão rápido as galáxias se formaram e evoluíram.

Mesmo com sua capacidade incrível, o James Webb ainda não havia identificado uma galáxia completamente sem metais, como as galáxias *População III*. Todas as galáxias observadas até agora, mesmo as que surgiram poucos centenas de milhões de anos após o Big Bang, tinham algum nível de metais.

O painel esquerdo mostra as fracas emissões de OIII para AMORE6. Como é observado através de uma lente gravitacional, há pontos de dados para AMORE6 A, AMORE6 B e AMORE A e B empilhados. O eixo x mostra uma maneira comum de medir a metalicidade de uma galáxia comparando oxigênio com hidrogênio, já que o oxigênio é o metal mais abundante produzido pelas estrelas. (12+ log (O/H)) O gráfico também mostra outras galáxias da mesma faixa etária. É complicado, mas mostra que AMORE6 é mais pura e tem metalicidade muito baixa em comparação com as outras. Crédito: Morishita et al. 2025. Nature

O papel das emissões de oxigênio

O oxigênio é essencial nessa busca. Segundo os modelos, as galáxias mais antigas deveriam ter apenas hidrogênio e hélio, sem oxigênio ou outros elementos pesados. Os astrônomos usam a linha de emissão *OIII* na espectroscopia (uma técnica que analisa a luz) para estudar galáxias. Essa linha mostra se há formação de estrelas e é muito útil para observar galáxias distantes. O James Webb, com sua alta sensibilidade, tornou essas medições ainda mais precisas. 

Em galáxias primitivas, emissões *OIII* fortes indicam baixa presença de metais. Já emissões fracas sugerem que a galáxia se formou em condições muito diferentes das atuais. Até recentemente, nenhum exemplo claro havia sido encontrado.

A descoberta da galáxia AMORE6

Isso pode estar mudando. Um novo estudo, enviado à revista *Nature*, relata a possível descoberta de uma galáxia que parece ser “pura”. Liderado por Takahiro Morishita, do Centro de Processamento e Análise Infravermelha (IPAC) no Instituto de Tecnologia da Califórnia, o estudo identificou a galáxia AMORE6, observada com um *desvio para o vermelho* de z = 5,725. Isso significa que sua luz foi emitida quando o Universo tinha entre 900 milhões e 1 bilhão de anos.

A AMORE6 foi detectada por meio de uma *lente gravitacional*, que ampliou e duplicou suas imagens, facilitando a observação. O James Webb identificou emissões de *H”* (outra linha importante na astronomia), mas não encontrou oxigênio. Isso indica que a galáxia tem uma quantidade muito baixa de metais, sendo quase “pura”. “A ausência de oxigênio mostra que a AMORE6 tem um meio interestelar muito pouco metálico, quase intocado”, explicam os autores.

A galáxia também tem pouca massa estelar e é extremamente compacta. “Essas características combinam com a formação de estrelas massivas em um ambiente puro ou quase puro”, dizem os pesquisadores. Curiosamente, a AMORE6 não é tão antiga quanto outras galáxias bem formadas que o James Webb encontrou. É surpreendente que uma galáxia tão “pura? tenha sido encontrada quase 1 bilhão de anos após o Big Bang.

Confirmando o modelo do Big Bang

Mais estudos serão necessários para confirmar esses resultados e entendê-los melhor. Mesmo assim, a descoberta da AMORE6 sugere que estamos no caminho certo para compreender o Universo.

“Encontrar uma galáxia assim em uma época relativamente tardia da história do Universo é surpreendente”, escrevem os pesquisadores. “Mas, independentemente do momento, identificar um objeto potencialmente puro é uma validação importante do modelo do Big Bang.”

Essa descoberta pode ser um passo crucial para confirmar as previsões sobre como o Universo começou, trazendo-nos mais perto de entender os primeiros capítulos da história cósmica.

Terrarara.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Equinócio em Saturno

Centro Starbursting

Aglomerado nublado

Galáxias na Fornalha

Galáxias no Rio

Tipos de Estrelas

O QUE SÃO: Quasares, Blazares, Pulsares e Magnetares

Planeta Mercúrio

Conheça as 10 estrelas mais próximas da Terra

Vazamento de hélio no exoplaneta WASP-107b