Astrônomos podem ter descoberto uma ”superkilonova” inédita escondida dentro de uma supernova

 No vasto universo, as estrelas mais massivas terminam suas vidas de forma espetacular, explodindo em supernovas que espalham elementos pesados como carbono e ferro pelo espaço, enriquecendo o cosmos e contribuindo para a formação de novas estrelas e planetas 

Esta ilustração artística mostra um evento hipotético conhecido como superquilonova. Uma estrela massiva explode em uma supernova (à esquerda), gerando elementos como carbono e ferro. Em seguida, duas estrelas de nêutrons nascem (ao centro), sendo que pelo menos uma delas acredita-se ser menos massiva que o nosso Sol. As estrelas de nêutrons espiralam em direção uma à outra, enviando ondas gravitacionais que se propagam pelo cosmos, antes de se fundirem em uma dramática quilonova (à direita). As quilonovas semeiam o universo com os elementos mais pesados, como ouro e platina, que brilham com luz vermelha. Crédito: Caltech/K. Miller e R. Hurt (IPAC

Por outro lado, existe um tipo de explosão muito mais raro, chamado kilonova, que ocorre quando duas estrelas de nêutrons – remanescentes densos de estrelas mortas – colidem. Essas colisões produzem elementos ainda mais pesados, como ouro e urânio, que acabam incorporados em corpos celestes futuros.

Até hoje, os astrônomos confirmaram apenas um caso claro de kilonova, observado em 2017 e conhecido como GW170817. Esse evento histórico foi detectado tanto por ondas gravitacionais – ondulações no tecido do espaço-tempo – quanto por luz visível, graças a detectores como o LIGO nos Estados Unidos e o Virgo na Europa.

Agora, uma equipe de cientistas, liderada por Mansi Kasliwal, do Observatório Palomar do Caltech, pode ter encontrado evidências de uma segunda kilonova, mas com uma reviravolta intrigante. O evento, batizado de AT2025ulz, foi detectado em agosto de 2025, a cerca de 1,3 bilhão de anos-luz de distância. Inicialmente, ele se comportou como a kilonova de 2017: uma luz vermelha que esvaeceu rapidamente, característica da produção de elementos pesados que bloqueiam a luz azul.

No entanto, poucos dias depois, a explosão mudou de aparência. Ela ficou mais brilhante, mudou para tons azuis e revelou a presença de hidrogênio em seu espectro – sinais típicos de uma supernova comum, do tipo conhecida como colapso do núcleo com envelope removido. Isso confundiu muitos astrônomos, que pensaram se tratar apenas de uma supernova comum, sem relação com as ondas gravitacionais detectadas pelo LIGO e Virgo no mesmo local.

Mas Kasliwal e sua equipe persistiram nas observações, usando telescópios como o Zwicky Transient Facility no Palomar, o Observatório Keck no Havaí e outros ao redor do mundo. Eles notaram que o evento não se encaixava perfeitamente nem em uma kilonova clássica nem em uma supernova típica. Além disso, as ondas gravitacionais indicavam que pelo menos um dos objetos envolvidos na colisão tinha uma massa menor que a do Sol – algo raro e teórico para estrelas de nêutrons, que geralmente são mais pesadas.

A explicação mais fascinante proposta pelos pesquisadores é que isso possa ser uma superkilonova, um tipo de evento hipotético nunca observado antes: uma kilonova desencadeada por uma supernova. Imagine uma estrela massiva girando rapidamente que explode em supernova. Durante o colapso, ela poderia se dividir ou fragmentar, formando duas pequenas estrelas de nêutrons de massa subsolar.

Essas “estrelas bebês” então se aproximariam rapidamente, colidindo em uma kilonova que emite ondas gravitacionais e uma luz vermelha inicial. Os detritos da supernova original, no entanto, expandiriam e obscureceriam parte dessa kilonova, fazendo com que ela parecesse “escondida” dentro da explosão maior.

Como explica o coautor Brian Metzger, da Universidade Columbia, a única forma conhecida teoricamente de criar estrelas de nêutrons tão leves é durante o colapso de uma estrela massiva em rotação extrema. Se elas se fundirem logo em seguida, a kilonova viria acompanhada de uma supernova, em vez de aparecer isolada.

Embora essa ideia seja empolgante e desafie o que sabemos sobre a formação de estrelas de nêutrons, os cientistas são cautelosos: ainda não há provas definitivas. Eles enfatizam que eventos futuros de kilonovas podem ser confundidos com supernovas comuns, e que observações com novos telescópios, como o Vera Rubin Observatory ou missões da NASA, ajudarão a confirmar ou refutar essa descoberta.

Esse achado abre os olhos para novas possibilidades no universo violento das explosões estelares, mostrando que o cosmos ainda guarda surpresas capazes de reescrever nossas teorias sobre como os elementos que compõem o mundo ao nosso redor – inclusive o ouro em nossas joias – são forjados nas fornalhas cósmicas.

Terrarara.com.br

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