Qual teoria sobre buracos negros está correta? Estamos começando a descobrir
Como é um buraco negro?
O Telescópio Horizonte de Eventos
(EHT), um telescópio virtual que cobre quase a Terra inteira, tirando proveito
de uma técnica conhecida como interferometria de linha de base muito longa
(VLBI), fez história ao revelar as primeiras imagens do buraco negro da galáxia
M87 e, um pouco depois, a primeira imagem do buraco negro no centro da Via
Láctea, o Sagitário A*.
Na resolução atual dos telescópios, os buracos negros previstos por diferentes teorias da gravidade ainda apresentam grande semelhança, dificultando decidir qual está certa. [Imagem: Luciano Rezzolla/Goethe University]
Na verdade, ambas as imagens
mostram essencialmente a sombra dos buracos negros. "O que vocês veem
nessas imagens não é o buraco negro em si, mas sim a matéria quente em sua
vizinhança imediata. Enquanto a matéria ainda estiver girando fora do horizonte
de eventos - antes de ser inevitavelmente atraída para dentro dele - ela pode
emitir sinais finais de luz que podemos, em princípio, detectar," explicou
o professor Luciano Rezzolla, da Universidade Goethe de Frankfurt, na Alemanha.
Isso já foi suficiente para
começarmos a testar as teorias por trás desses objetos cósmicos extremos, mas
também colocou em destaque o fato de que não, nós não sabemos como são os
buracos negros.
Até o momento, a teoria da
relatividade geral de Einstein é considerada o padrão ouro da física quando se
trata da descrição do espaço e do tempo. E ela prevê a existência de buracos
negros como soluções especiais, juntamente com todas as suas peculiaridades,
como o horizonte de eventos, além do qual tudo, inclusive a luz, desaparece.
"Existem, no entanto, outras
teorias, ainda hipotéticas, que também preveem a existência de buracos negros.
Algumas dessas abordagens exigem a presença de matéria com propriedades muito
específicas ou até mesmo a violação das leis físicas que conhecemos
atualmente," contou Rezzolla.
Mas, reforçando a importância de
trabalhos como os do EHT, Rezzolla e seus colegas descobriram agora como usar
as imagens das sombras dos buracos negros para verificar essas teorias
alternativas, tirando-as do rol de "especulativas".
Futuros telescópios tornarão as diferenças mais visíveis, possibilitando distinguir entre as diferentes descrições dos buracos negros. [Imagem: Akhil Uniyal et al. - 10.1038/s41550-025-02695-4]
Testando as teorias
O avanço conseguido pela equipe
consiste em uma descrição abrangente de como diferentes tipos de buracos negros
hipotéticos divergem da teoria da relatividade e como isso se reflete nas
imagens das sombras dos buracos negros. Para investigar isso, a equipe realizou
simulações computacionais tridimensionais que replicam o comportamento da
matéria e dos campos magnéticos no espaço-tempo curvo ao redor dos buracos
negros. A partir dessas simulações, os pesquisadores geraram imagens do plasma
brilhante resultante, que é justamente o que aparece nas imagens do EHT.
"A questão central era: Quão
significativamente as imagens dos buracos negros diferem entre as várias
teorias?", contextualizou Akhil Uniyal, do Instituto Tsung-Dao Lee, na
China, membro da equipe. Para lidar com essa questão, os físicos desenvolveram
uma caracterização universal de buracos negros que integra abordagens teóricas
muito diferentes, derivando critérios claros para avaliar cada teoria
específica.
Infelizmente, os dados atuais, ou
seja, a resolução das imagens do EHT, ainda não são suficientes para uma
conclusão definitiva. Em termos gerais, os resultados estão de acordo com a
teoria de Einstein, mas a incerteza das medições ainda é tão alta que apenas
algumas teorias muito exóticas foram descartadas.
Por exemplo, é improvável que os
dois buracos negros no centro da M87 e da nossa Via Láctea sejam singularidades
nuas (sem horizonte de eventos) ou buracos de minhoca - mas estas são apenas
duas das muitas possibilidades teóricas que precisam ser verificadas.
"Mesmo a teoria estabelecida
precisa ser testada continuamente, especialmente com objetos extremos como
buracos negros," acrescentou Rezzolla, acrescentando que seria
revolucionário se a teoria de Einstein fosse comprovadamente inválida.
Contudo, embora as diferenças nas
imagens ainda sejam muito pequenas com a resolução atual do EHT, elas deverão
aumentar sistematicamente com a melhoria da resolução do telescópio, algo no
que a equipe internacional responsável por ele vem trabalhando continuamente.
Inovação Tecnológica


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