Vênus Vivo
Sempre que se dá um exemplo de um planeta com nenhuma atividade geológica, o primeiro nome que vem à cabeça é Vênus. Tudo bem, Mercúrio também é um forte candidato, mas Vênus tem um “quê de mistério”: como pode um planeta com as mesmas dimensões da Terra ser geologicamente morto se a própria Terra não é? Longe disso, aliás. Observações da superfície de Vênus feitas por radar – já que a superfície do planeta é coberta de nuvens pesadas e grossas – mostram que faltam crateras. Uma hipótese para isso é que ventos fortes teriam varrido areia para dentro, cobrindo as crateras. Mesmo assim, isso não daria conta. Marte também tem ação de vento, mas ainda assim a quantidade de crateras parece normal.
Outra hipótese tem a ver com vulcanismo recente. Em suma, significa que vulcões ativos em um passado bem recente teriam despejado lava que cobriu as crateras de impacto na superfície de Vênus. Mas teria sido um evento global e catastrófico no passado distante que “apagou” as crateras, ou seria a ação de vulcanismo recente em escalas menores e contínuas?
A sonda Vênus Express, em órbita desde 2006, mapeou uma pequena região da superfície venusiana e em comprimentos de onda no infravermelho, ou seja, mapeou as variações de calor do solo. Concentrando-se na região ao redor de Idunn Mons, um vulcão com 2,5 km de altura e uma cratera de 200 km de diâmetro, a cientista Sue Smrekar, da Nasa, mostrou que o terreno tem emissividades diferentes. Isso significa que ele é composto por materiais diferentes, que irradiam calor de forma diferente. Quando a lava surge de um vulcão na Terra, ela imediatamente começa a reagir quimicamente com o ar, principalmente com o oxigênio, alterando sua composição química. Esse processo deve ocorrer de forma semelhante em Vênus, mas nesse caso a lava quente deve reagir mais violentamente com uma atmosfera de gás carbônico bem mais quente e bem mais densa.
De acordo com Sue e seus colaboradores, a presença de diferentes materiais ao redor de Idunn Mons é uma evidência de que os ventos e outras atividades climáticas não limparam a lava que reagiu com a atmosfera, ou ao menos não tiveram tempo suficiente para isso. As análises dos dados de infravermelho combinados com modelos de vulcanismo mostram que esse material deve ter sido expelido há uns 2,5 milhões de anos, ou menos. Na verdade, é até possível que esse vulcão esteja ativo hoje! Os modelos de vulcanismo de Vênus são intrigantes, mas têm consequências interessantes. Para explicar que a superfície de Vênus foi coberta por lava em um período curto, seu interior deve ser bem diferente do interior da Terra. Por outro lado, se a atividade vulcânica em Vênus for mais gradual, muito provavelmente o seu interior se parece mais com o da Terra, a despeito da falta de tectonismo.
Fonte: G1
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