Voyager, fazendo história há 40 anos
As naves gêmeas Voyager 1 e 2, lançadas há mais de 30 anos em direção aos gigantes gasosos do Sistema Solar, estão prestes a fazer história mais uma vez. Elas estão próximas de escapar do nosso Sistema Solar, lá longe. Onde o vento faz a curva. Literalmente. Lançadas na década de 1970, aproveitando um raro alinhamento dos planetas externos do Sistema Solar, mais especificamente, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, as duas sondas Voyager nunca deixaram de trabalhar até hoje. A Voyager 1 visitou Júpiter e Saturno e em 1980 usou a gravidade deste último para “estilingar” para fora plano do Sistema Solar. Já a Voyager 2 passou, além de Júpiter e Saturno, por Urano e Netuno, antes de usar a força gravitacional de Netuno para fazer algo parecido. Aliás, até hoje apenas a Voyager 2 visitou Urano e Netuno!
São tantas as descobertas que fica difícil de enumerá-las: os vulcões ativos em Io, evidências de um oceano por baixo da camada de gelo em Europa (ambos satélites de Júpiter), os primeiros indícios de chuva de metano em Titã (a maior lua de Saturno), o eixo deslocado de Urano, gêiseres em Tritão (uma das luas de Netuno) e muita informação sobre o vento solar. Depois de tantas descobertas, as duas naves singram para o vazio interestelar. Mas isso não as torna inativas! Mesmo que sem nenhum planeta por perto, alguns instrumentos das Voyagers foram mantidos ligados para monitorar a heliosfera. A heliosfera é uma bolha de plasma e campo magnético que engloba todo o Sistema Solar. Algumas estimativas dizem que ela se estende até uma distância três vezes maior que a distância entre o Sol e Plutão. Conforme as Voyagers se afastam do Sol, mais fraca fica a heliosfera, claro. Mas, subitamente, as leituras das sondas começaram a ficar confusas, indicando uma região de turbulência no espaço. Essa região é a heliopausa, a transição entre o que podemos chamar de Sistema Solar e o espaço interestelar. Em outras palavras a fronteira final. No meio do ano passado a Voyager 1 mandou uma leitura de campo magnético enigmática: zero. Teria ela finalmente saído do Sistema Solar e mergulhado no espaço profundo? Alguns cientistas acreditam que não, que se trata de um zero “local”, ou mesmo onde o campo magnético é torcido. Com ainda um pouco de combustível, a sonda foi girada em diversas direções para medir o campo vindo de várias regiões. Ao que tudo indica, a heliopausa é muito mais larga que se imaginava e as naves devem permanecer ainda quatro ou cinco anos nela. Até lá, as baterias de plutônio ainda devem fornecer energia para os instrumentos funcionarem e enviarem os dados até a Terra. Mas, para mim, o aspecto mais fascinante desta fase da missão é pensar que em breve as naves Voyager vão deixar o Sistema Solar carregando consigo uma mensagem terrestre. As duas naves levam dois discos banhados a ouro com gravações de sons da Terra, que vão desde cães latindo, a saudações em diversas línguas faladas na Terra, inclusive português. Além delas, uma seleção de músicas também está gravada neste disco, junto com algumas imagens e diagramas que permitiriam que civilizações extraterrenas pudessem localizar o local de partida das naves. É claro que as chances de que isso aconteça são remotíssimas e mesmo nesse caso, é preciso que quem as ache tenha a capacidade de decifrar os diagramas. Parece impossível até, mas um dia nos deparamos com hieróglifos aparentemente indecifráveis no Egito e hoje é por meio deles que sabemos a história dessa civilização antiga. “Espere o inesperado” tem sido o slogan da missão Voyager nesse tempo todo. E parece que assim será ainda por um bom tempo!
Créditos: Cássio Leandro Dal Ri Barbosa
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