Previsões meteorologica para Titã: Clima Selvagem

Ligeia Mare, visto aqui em dados obtidos pela sonda Cassini da NASA, é o segundo maior corpo líquido conhecido na lua de Saturno, Titã. Crédito: NASA/JPL-Caltech/ASI/Cornell

Se dois novos modelos estiverem correctos, a lua de Saturno, Titã, poderá passar por alguns fenómenos climáticos selvagens à medida que chega a Primavera e o Verão. Os cientistas pensam que à medida que as estações mudam no hemisfério norte de Titã, possam haver ondulações nos mares de hidrocarbonetos da lua, e que também poderão originar furacões nessas áreas. O modelo que prevê ondas tenta explicar dados da lua obtidos até agora pela sonda Cassini da NASA. Ambos os modelos ajudam os membros da equipa a planear quando e onde procurar por perturbações atmosféricas invulgares à medida que o Verão se aproxima de Titã.
 
"Se acha que é difícil prever o tempo cá na Terra, é ainda mais complicado em Titã," afirma Scott Edgington, cientista do projecto Cassini no JPL da NASA em Pasadena, Califórnia, EUA. "Sabemos que existem processos meteorológicos semelhantes aos da Terra neste mundo estranho, mas com diferenças devido à presença de líquidos estranhos como o metano. Estamos ansiosos que a Cassini nos diga se as nossas previsões meteorológicas estão correctas, à medida que continua a sua viagem pela Primavera de Titã até ao Verão no hemisfério Norte."
 
A região polar norte de Titã, adornada por vastos mares e lagos de hidrocarbonetos, estava escura quando a Cassini chegou ao sistema saturniano em 2004. Mas a luz foi subindo no hemisfério norte de Titã desde Agosto de 2009, quando o Sol atravessou o plano equatorial no equinócio. Cada estação em Titã dura cerca de 7 anos terrestres. Em 2017, no final da missão da Cassini, Titã vai estar perto do solstício a norte, no auge do Verão. Desde que a Cassini observou dunas esculpidas por ventos em Titã, que os cientistas querem saber porque é que não viram ainda ondas nos lagos e mares. Uma equipa liderada por Alex Hayes, membro da equipa de radar da Cassini, da Universidade de Cornell em Ithaca, Nova Iorque, começou por determinar quanto vento seria necessário para gerar ondas. O novo modelo, publicado na revista Icarus, aperfeiçoa os anteriores ao ter em conta a gravidade de Titã, a viscosidade e tensão superficial do líquido de hidrocarbonetos nos lagos, e o rácio de densidade entre o ar e o líquido.
 
Esta imagem mostra o primeiro flash de luz solar reflectida por um lago na lua de Saturno, Titã. Crédito: NASA/JPL/Universidade do Arizona/DLR
 
Sabemos agora que as velocidades de vento previstas quando a Cassini observou Titã ficaram abaixo das necessárias para gerar ondas," afirma Hayes. "O que é interessante, porém, é que os ventos previstos durante a Primavera e Verão no hemisfério norte aproximam-se das velocidades necessárias para gerar ondas em etano e/ou metano líquido. Poderá ser possível em breve avistar ondas num dos locais mais exóticos do Sistema Solar. O novo modelo descobriu que são necessárias velocidades entre 2 e 3 km/h para gerar ondas nos lagos de Titã, uma velocidade que ainda não foi alcançada durante o período calmo de Titã. Mas à medida que a Primavera e o Verão se aproximam no hemisfério norte de Titã, outros modelos mostram que os ventos podem atingir 3 km/h ou mais. Dependendo da composição dos lagos, ventos daquela velocidade podem ser suficientes para produzir ondas com 0,15 metros de altura.
 
O segundo modelo, recentemente publicado na Icarus, prevê que o aquecimento no hemisfério norte pode também originar furacões, também conhecidos como ciclones tropicais. Os ciclones tropicais na Terra ganham a sua energia a partir da acumulação de calor da evaporação da água do mar e versões em miniatura já foram observadas em grandes lagos cá na Terra. O novo trabalho, liderado por Tetsuya Tokano da Universidade de Colónia, Alemanha, mostra que os mesmos processos podem existir também em Titã, só que em vez de água, é metano que evapora dos mares.
 
A estação mais provável para a ocorrência destes furacões será durante o solstício de verão no norte de Titã, quando a superfície do mar fica mais quente e o fluxo de ar perto da superfície torna-se mais turbulento. O ar húmido formaria redemoinhos que rodam num sentido anti-horário por cima da superfície dos mares mais a norte e aumentaria a velocidade do vento acima dos mares até possivelmente 70 km/h. Para estes furacões se desenvolverem em Titã, é necessário haver uma combinação certa de hidrocarbonetos nestes mares, e nós ainda não sabemos a sua composição exacta," afirma Tokano. "Se observarmos furacões, isso seria um bom indicador de que há metano suficiente nestes lagos para suportar este género de fenómeno. Até agora, os cientistas ainda não foram capazes de detectar metano directamente."
Fonte: Ciência On-Line

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