Procura por supertelescópio é intensa e só 10% das pesquisas são aceitas

Com nove antenas, o Alma já era considerado o melhor telescópio no registro de ondas milimétricas e submilimétricas. Quando estiver pronto, ele terá 66 antenas em funcionamento Foto: Matheus Pessel / Terra

A 5 mil metros de altitude, o telescópio Alma é único no mundo. O segundo experimento científico mais caro na superfície do planeta (custou US$ 1,4 bilhão, atrás apenas do LHC) tem a maior capacidade em registrar o espectro eletromagnético de ondas milimétricas e submilimétricas – como nunca foi possível antes. Esse poder levou a uma animação dos astrônomos que querem trabalhar nessa área e superlotou a caixa de correio do telescópio: de cada 10 experimentos propostos ao telescópio, somente um pode ser aceito. Para os outros, não há tempo disponível.
 
"O Alma é, desde que teve a antena número nove operacional, o melhor telescópio em milimétrico e submilimétrico do mundo. O mais poderoso. Tem uma área coletora de fótons maior do que qualquer telescópio que existe. Segundo, por causa do lugar onde está. O Alma está em um lugar onde a atmosfera é super transparente para esse comprimento de onda. Não há nenhuma interferência porque não há vapor de água. Agora estamos observando com 32 antenas", diz ao Terra Gianni Marconi, astrônomo do Alma. Quando estiver completo, o observatório terá 66 antenas operacionais.
 
"Há um fator de 'overbooking'. Como todo projeto de astronomia, no início a pressão é altíssima, porque todos querem fazer o primeiro descobrimento. Quando se começa a observar com uma máquina assim, no primeiro ano se tem o melhor que se pode descobrir, porque são coisas que nunca foram investigadas antes", diz Marconi. Começamos com cerca de 1 mil, 1,1 mil propostas da comunidade internacional. Foram escolhidas 10% dessas propostas", afirma Pierre Cox, diretor do Alma.
 
Um grande projeto colaborativo

Nos dias atuais, para um projeto desse tamanho, é necessário uma grande colaboração internacional. No caso do Alma, as partes são divididas quase igualmente, tendo como maior participante o Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês), com cerca de 37%. As demais partes estão com América do Norte (com Estados e Canadá) e Leste Asiático (Japão e Taiwan). Se você considerar a colaboração entre América do Norte e Europa, é o primeiro caso de um grande projeto em que as contribuições eram iguais, metade a metade. Até que o Leste Asiático entrou. Então é um projeto realmente global", diz Cox. 


Para funcionarem corretamente, as antenas do Alma precisam ter uma sincronia de 1 milionésimo de milionésimo de segundo. Além disso, a distância entre cada antena e o computador que reúne os dados precisa ser conhecida com a precisão de equivalente ao diâmetro de um fio de cabelo humano. O equipamento ainda precisa reduzir as perturbações sofridas pelas ondas eletromagnéticas antes destas tocarem cada antena. Para fazer tudo isso, o Alma tem o melhor supercomputador não militar do planeta, o correlator Foto: Matheus Pessel / Terra

 
Para Marconi, a união entre países é necessária para projetos desse tamanho. Isso não significa que a ciência tem menos dinheiro do que no passado, mas que os projetos são mais ambiciosos hoje em dia. "Esse projeto não era possível fazer no passado por questões tecnológicas. Agora, para fazer esse tipo de projeto, que custa muito mais do que se podia fazer antes, é necessário encontrar recurso. E isso só é possível com um grupo de países." "Se você olhar o resultado, a construção foi feita no tempo previsto. Eu acho que é um resultado realmente espetacular. Se você pensar em projetos dessa magnitude – o Alma custou US$ 1,4 bilhão –, eu acredito que será a maneira que seguiremos no futuro, com a colaboração", diz Cox
 
Desafios

A construção do Alma não foi nada simples. Transportar antenas gigantes de três continentes para o deserto mais árido do planeta e colocá-las a 5 mil metros de altitude – o que o transforma no telescópio mais alto do planeta – exigiu um grande esforço dos membros do projeto. "Antes de mais nada, encontrar um lugar. Isso foi um desafio importante. Tomou muitos anos percorrer o mundo para encontrar um lugar onde colocar esse telescópio", diz Marconi. O astrônomo lembra que foi – e ainda é – perigoso trabalhar a uma grande altitude, onde a quantidade de oxigênio é metade do que há no nível do mar.

Ainda mais quando se lida com maquinaria pesada. Trabalhar a essa altitude é difícil para a natureza humana. É difícil concentrar-se. Há muito risco. É muito fácil cometer erros. E os erros, a essa altitude, podem ser fatais", diz Marconi. "Eu visitei este lugar há muito tempo, antes de o Alma ser construído. Tudo teve que ser trazido para cá. Tudo teve que ser construído. Eu acredito que seja o mais complexo telescópio já feito. Tudo foi construído no Japão, na Europa, na América do Norte e então foi combinado aqui. É realmente marcante", diz Cox.
Fonte: Terra 

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