O que tem dentro de Ceres?

Lembra de Ceres? Ceres é o planeta anão mais próximo da Terra, fica logo ali no Cinturão de Asteroides. Aliás, ele foi o primeiro asteroide a ser descoberto em 1801, quando uma equipe de astrônomos europeus procurava por mais um planeta. Assim, logo que foi descoberto, Ceres foi classificado como planeta e permaneceu nessa categoria por quase 50 anos, até que a avalanche de outros asteroides descobertos na mesma região forçou a reclassificá-lo como um asteroide, uma nova classe de objetos celestes. Mais de cem anos depois, uma nova reclassificação o colocou no patamar de Plutão, fazendo-o um planeta anão. Se para Plutão foi um rebaixamento, para Ceres foi uma promoção.

A razão principal para que Ceres fosse promovido é que ele tem a principal característica de um planeta, ele atingiu o equilíbrio hidrostático. Em outras palavras, Ceres cresceu tanto que sua  distribuição de massa se rearranjou de modo a ficar esférico, ou quase esférico. Essa é a primeira premissa para um corpo celeste ser classificado como planeta anão. A discussão toda a respeito dessa nova categoria de corpo celeste foi por causa de Éris, que com quase o mesmo tamanho de Plutão, deveria ser classificado como planeta também. Para evitar que o Sistema Solar ganhasse um planeta por ano, como parecia que ia acontecer, a União Astronômica Internacional decidiu criar essa  nova categoria. Com os critérios de classificação, Ceres, que não tinha nada a ver com a discussão, acabou se dando bem.

Muito antes dessa discussão sobre a classificação de planetas, Ceres já era considerado um 'planeta embrionário', ou um planeta que teve o seu crescimento interrompido. Ceres não teria crescido aquilo que poderia, mas, além de ser esférico, teria características internas semelhantes aos planetas rochosos do Sistema Solar.

Estudar Ceres em detalhes é um dos objetivos da missão Dawn da NASA, que primeiro passou por Vesta, o terceiro maior asteroide do cinturão de objetos entre Marte e Júpiter. O estudo desses dois objetos irá nos dar um panorama da evolução de dois objetos tão distintos, que se formaram na mesma região do Sistema Solar.

Mas quais características de Ceres as fazem dele um 'mini' planeta? A resposta está em seu interior.

Os planetas rochosos, dependendo da velocidade com que se formaram, dependendo de sua massa acumulada e alguns outros fatores, formam camadas estratificadas. Veja o caso da Terra, com o resfriamento mais demorado da matéria prima que a compõe, o material mais denso se acumulou no centro, formando um núcleo e por cima dele, sucessivas camadas de material menos denso, de modo que temos hoje um núcleo denso, pastoso e quente, sobre ele um manto de magma e finalmente uma crosta externa sólida. Ceres também guarda essa característica e possui água em forma de gelo abaixo de sua superfície, apesar de ser bem menos denso que a Lua e a própria Terra.

Dados da sonda Dawn mostram que os grandes maciços observados em sua superfície pressionam e outrora deslocaram grandes quantidades de material abaixo da crosta, num efeito análogo ao flutuar de grandes navios no oceano. Esse efeito é observado na Terra e indica que houve no passado uma camada de material derretido abaixo da superfície de Ceres.

Combinando dados anteriores do ex-asteroide com os dados gravimétricos obtidos pela sonda Dawn, Ryan Park, da NASA, e seus colaboradores conseguiram descrever o passado de formação de Ceres. No passado remoto do planeta anão, existia água que podia fluir livremente abaixo da superfície, sendo pressionada pelas estruturas externas como montanhas. Mas como a massa de Ceres é pequena, sua temperatura interna nunca foi tão grande para derreter os silicatos das rochas e formar um núcleo metálico, como aconteceu na Terra. Ainda assim, Ceres possui um núcleo denso, mas rochoso, envolto por uma camada de gelo de água e sobre ele uma crosta rochosa que por vezes parece ser bem fina. Do mesmo jeitão de camadas diferenciadas na Terra.

Mas como a Dawn conseguiu dados que permitem inferir o interior de Ceres sem ao menos pousar sobre ele?

Fácil, com a ajuda de física básica!

Sim, com base nas transmissões de rádio entre a Terra e a Dawn e vice versa, foi possível obter as ínfimas diferenças de velocidades da sonda sob a influência do campo gravitacional de Ceres, conforme a sonda se deslocava em sua órbita. Baseado na diferença daquilo que foi emitido da Terra e posteriormente recebido de volta, foi possível calcular que tipo de distribuição de massa em Ceres era capaz de gerar essa distorção. A rede de antenas da NASA, localizadas nos EUA, Espanha e Austrália são capazes de detectar uma variação de 0,1 milímetros por segundo na velocidade da Dawn. o que permite mapear a distribuição interna de massa com grande precisão.

Esse é um resultado muito interessante, que coloca Ceres em uma lista restrita de corpos do Sistema Solar que possuem interior diferenciado como a Terra. Mas ainda não resolve uma questão crucial: se Ceres tinha tudo para ser um planeta, por que ele parou de crescer?

A sonda Dawn recebeu uma extensão de sua missão e deve operar até ano que vem, até lá vamos esperar que ela possa responder se Júpiter é mesmo o culpado pela interrupção de seu crescimento, como muitos afirmam.
Créditos: Cássio Barbosa - G1

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