Dados do Gaia revelam fusões na Via Láctea
Painel da esquerda: diferentes
correntes estelares (pontos coloridos), o disco da Via Láctea (azul) e em preto
o resto das estrelas do halo, onde a bolha horizontal em forma de chaturo é
visível. Painel da direita: mesmos dados, agora vistos a partir de um ângulo de
90º. Crédito: Koppelman et al.
Astrónomos da Universidade de
Groninga (Países Baixos) descobriram relíquias de eventos de fusão no halo da
Via Láctea. Cinco pequenos grupos de estrelas parecem representar fusões com
galáxias mais pequenas, enquanto uma grande "bolha" composta por
centenas de estrelas parece ser o remanescente de um grande evento de fusão.
Estes resultados foram publicados na edição de 12 de junho da revista
científica The Astrophysical Journal Letters.
O estudo é baseado na recente
segunda divulgação do catálogo Gaia. A segunda versão forneceu à comunidade
científica informações precisas sobre a posição e sobre o movimento de milhões
de estrelas, principalmente na Via Láctea. O estudante de doutoramento Helmer
Koppelman faz parte do grupo de investigação de Amina Helmi, professora de
Dinâmica, Estrutura e Formação da Via Láctea, que esteve envolvida na missão
Gaia quase desde o seu início. Ele começou por analisar os dados logo após a
divulgação e publicou uma pré-impressão do artigo apenas oito dias depois. Foi
agora oficialmente publicado.
Halo
"O nosso objetivo é estudar
a evolução da Via Láctea," afirma Koppelman. A ideia é que galáxias mais
pequenas se fundem para formar galáxias maiores. "Uma das questões é saber
se muitas galáxias pequenas se fundiram ou se foram apenas algumas
maiores." Tendo em conta que se pensa que a maioria das estrelas no halo
da Via Láctea - a nuvem esférica de estrelas que rodeia o disco principal e o
bojo da nossa Galáxia - sejam remanescentes de eventos de fusão, Koppelman e
colegas focaram-se nas estrelas do halo nos dados do Gaia.
"Recolhemos informações
sobre estrelas até 3000 anos-luz do Sol, pois a precisão da posição e do
movimento é maior para as estrelas que estão perto de nós," explica
Koppelman. O primeiro passo foi filtrar as estrelas do disco da Via Láctea.
"Estas estrelas movem-se em redor do centro do disco, por isso são
facilmente identificadas." Restaram aproximadamente 6000 estrelas no halo.
Bolha
Ao calcular a sua trajetória,
Koppelman foi capaz de identificar estrelas com uma origem partilhada.
"Nós descobrimos cinco pequenos enxames que pensamos serem remanescentes
de cinco eventos de fusão". No entanto, muitas das estrelas restantes
também pareciam ter uma história partilhada. "Estas estrelas formam uma
grande 'bolha' com um movimento retrógrado em comparação ao do disco.
Isto
sugere que são o resultado de uma fusão com uma galáxia grande. Na verdade,
pensamos que este evento de fusão deve ter remodelado o disco da nossa Via
Láctea". Está em andamento um estudo mais detalhado da natureza desta
fusão. "Neste momento, podemos dizer que a nossa Via Láctea foi moldada
por um grande evento de fusão e algumas fusões mais pequenas."
Koppelman também procurou estrelas
pertencentes à "corrente Helmi", que tem o nome do seu supervisor de
doutoramento, que a identificou em 1999 como remanescente de um evento de
fusão. "Até agora, foram identificadas menos de vinte estrelas
pertencentes à corrente Helmi. Os dados do Gaia acrescentaram mais de 100 novas
estrelas.
"Uma análise mais detalhada deve esclarecer a natureza da
galáxia que produziu esta corrente. "Também vamos olhar para estrelas a
mais de 3000 anos-luz a fim de descobrir membros adicionais das diferentes correntes
que identificámos. Juntamente com as simulações da evolução galáctica, deve
dar-nos novas informações interessantes sobre a evolução da Via Láctea".
Fonte: http://www.ccvalg.pt
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