Novas pistas sobre as primeiras galáxias do Universo
Esta imagem ultraprofunda do céu obtida pelos telescópios Hubble
e Spitzer é dominada por galáxias, incluindo algumas muito ténues e distantes
com um círculo vermelho. A inserção em baixo e à direita mostra a luz recolhida
de uma dessas galáxias durante uma observação com um tempo de exposição longo. Crédito:
NASA/JPL-Caltech/ESA/Spitzer/P. Oesch/S. De Barros/I. Labbe
O
Telescópio Espacial Spitzer da NASA revelou que algumas das primeiras galáxias
do Universo eram mais brilhantes do que o esperado. O excesso de luz é um
subproduto das galáxias que libertam quantidades incrivelmente altas de
radiação ionizante. A descoberta fornece pistas para a causa da Época da
Reionização, um grande evento cósmico que transformou o Universo de opaco à
brilhante paisagem estelar que vemos hoje.
Num
novo estudo, investigadores relatam observações de algumas das primeiras
galáxias formadas no Universo, menos de mil milhões de anos após o Big Bang (ou
há pouco mais de 13 mil milhões de anos). Os dados mostram que, em alguns
comprimentos de onda específicos no infravermelho, as galáxias são
consideravelmente mais brilhantes do que os cientistas antecipavam. O estudo é
o primeiro a confirmar este fenómeno para uma grande amostra de galáxias deste
período, mostrando que não eram casos especiais de brilho excessivo, mas que
até as galáxias médias presentes naquela época eram muito mais brilhantes
nestes comprimentos de onda do que as galáxias que vemos hoje.
Esta impressão de artista mostra o possível aspeto de uma das primeiras galáxias do Universo. Níveis altos de formação e morte estelar violenta teriam iluminado o gás que preenche o espaço entre as estrelas, tornando a galáxia muito opaca e sem uma estrutura clara. Crédito: James Josephides (Swinburne Astronomy roductions)
Ninguém
sabe ao certo quando é que surgiram as primeiras estrelas do nosso Universo.
Mas as evidências sugerem que entre 100 milhões e 200 milhões de anos após o
Big Bang, o Universo estava preenchido principalmente com hidrogénio gasoso
neutro que talvez tivesse apenas começado a coalescer em estrelas, que então
começaram a formar as primeiras galáxias. Cerca de mil milhões de anos após o
Big Bang, o Universo tinha-se tornado num firmamento cintilante. Outra coisa
também tinha mudado: os eletrões do hidrogénio gasoso neutro omnipresente
haviam sido removidos num processo chamado ionização. A Época da Reionização -
a mudança de um Universo cheio de hidrogénio neutro para um preenchido com hidrogénio
ionizado - está bem documentada.
Antes
desta transformação universal, a luz em comprimentos de onda longos, como ondas
de rádio e luz visível, atravessavam o Universo mais ou menos livremente. Mas
os comprimentos de onda mais curtos - incluindo luz ultravioleta, raios-X e
raios-gama - eram interrompidos pelos átomos de hidrogénio neutro. Estas
colisões retirariam os eletrões dos átomos de hidrogénio neutro, ionizando-os.
Mas
o que pode ter produzido radiação ionizante suficiente para afetar todo o
hidrogénio no Universo? Será que foram as estrelas individuais? Galáxias
gigantes? O culpado, a ser um destes dois primeiros colonizadores cósmicos,
teria sido diferente da maioria das estrelas e galáxias modernas, que
normalmente não libertam grandes quantidades de radiação ionizante. Mesmo
assim, talvez outra coisa tenha provocado o evento, como por exemplo quasares -
galáxias com centros incrivelmente brilhantes, alimentados por quantidades
enormes de material em órbita de buracos negros supermassivos.
"É
uma das maiores questões em aberto na cosmologia observacional," disse
Stephane De Barros, autor principal do estudo e investigador pós-doutorado da
Universidade de Genebra, Suíça. "Sabemos que aconteceu, mas o que a
desencadeou? Estas novas descobertas podem ser uma grande pista."
À
procura de luz
Para
retroceder no tempo, até à era mesmo antes do fim da Época da Reionização, o
Spitzer observou duas regiões do céu durante mais de 200 horas cada, permitindo
que o telescópio espacial recolhesse luz que havia viajado durante mais de 13
mil milhões de anos para chegar até nós.
Sendo
algumas das mais longas observações científicas já realizadas pelo Spitzer,
fizeram parte de uma campanha de observação chamada GREATS (GOODS Re-ionization
Era wide-Area Treasury from Spitzer; GOODS é ainda outra sigla: Great
Observatories Origins Deep Survey, uma campanha que realizou as primeiras
observações de alguns alvos do GREATS). O estudo, publicado na revista Monthly
Notices of the Royal Astronomical Society, também usou dados de arquivo do
Telescópio Espacial Hubble da NASA.
Usando
estas observações ultraprofundas do Spitzer, a equipa de astrónomos observou
135 galáxias distantes e descobriu que eram particularmente brilhantes em dois
comprimentos de onda específicos no infravermelho, produzidos por radiação
ionizante que interage com os gases hidrogénio e oxigénio dentro das galáxias.
Isto implica que estas galáxias foram dominadas por estrelas jovens e massivas
compostas principalmente por hidrogénio e hélio. Contêm quantidades muito
pequenas de elementos "pesados" (como azoto, carbono e oxigénio) em
comparação com as estrelas encontradas nas galáxias modernas comuns.
Estas
estrelas não foram as primeiras estrelas formadas no Universo (essas seriam
apenas compostas por hidrogénio e hélio), mas ainda assim fazem parte de uma
geração muito antiga de estrelas. A Época da Reionização não foi um evento
instantâneo, de modo que embora os novos resultados não sejam suficientes para
fechar o capítulo sobre este evento cósmico, ainda assim fornecem novos
detalhes sobre como o Universo evoluiu neste momento e como a transição
decorreu.
"Não
esperávamos que o Spitzer, com um espelho não muito maior do que um Hula-Hoop,
fosse capaz de ver galáxias tão próximas da aurora do tempo," disse
Michael Werner, cientista do projeto Spitzer no JPL da NASA em Pasadena, no
estado norte-americano da Califórnia. "Mas a Natureza está cheia de
surpresas e o brilho inesperado destas primeiras galáxias, juntamente com o
excelente desempenho do Spitzer, coloca-as ao alcance do nosso pequeno, mas
poderoso observatório."
O
Telescópio Espacial James Webb da NASA, com lançamento previsto para 2021, vai
estudar o Universo em muitos dos mesmos comprimentos de onda observados pelo
Spitzer. Mas o espelho primário do Spitzer mede apenas 85 cm de diâmetro e o do
Webb é de 6,5 metros - cerca de 7,5 vezes maior - permitindo que o Webb estude
estas galáxias em muito maior detalhe. De facto, o Webb vai tentar detetar a
luz das primeiras estrelas e galáxias do Universo. O novo estudo mostra que,
devido ao seu brilho nesses comprimentos de onda infravermelhos, as galáxias
observadas com o Spitzer serão mais fáceis de estudar com o Webb do que se
pensava anteriormente.
"Estes
resultados do Spitzer são certamente mais um passo para resolver o mistério da
reionização cósmica," disse Pascal Oesch, professor assistente da
Universidade de Genebra e coautor do estudo. "Sabemos agora que as
condições físicas nestas galáxias iniciais eram muito diferentes das das
galáxias típicas de hoje. O trabalho do Telescópio Espacial James Webb será o
de descobrir o porquê."
Fonte: Ccvalg.pt
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