Cientistas detectam o ecos de um buraco negro recém-nascido pela primeira vez
Físicos do Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (MIT) "ouviram" pela primeira vez o
zunido ecoante de um buraco negro recém formado, resultado da colisão de dois
buracos negros massivos, e acabaram comprovando mais uma vez uma teoria de
Albert Einstein. É que o físico alemão previu que esse evento de colisão entre
dois buracos negros massivos deveria zunir, produzindo ondas gravitacionais
parecidas com as geradas na reverberação de um sino.
A descoberta foi publicada
nesta quarta-feira (11) no Physical Review Letters. No estudo, os cientistas
confirmaram a ideia de que os buracos negros não possuem nenhum “cabelo”. É
que, segundo a teoria de Einstein, buracos negros devem apresentar apenas três
propriedades observáveis: massa, rotação e carga elétrica. Qualquer outra coisa
além disso deve ser engolida pelo próprio buraco negro. Essas outras
características foram apelidadas pelo físico John Wheeler de “cabelo” no que
foi chamado de "Teorema da Calvície".
Os pesquisadores
identificaram o padrão do zunido do buraco negro e, usando as equações de
Einstein, calcularam a massa e a rotação que o buraco negro deveria ter,
levando em conta o padrão das ondas. Os cálculos correspondem com as medições
da massa e da rotação do buraco negro feitas anteriormente por outros
cientistas. Isso significa que o padrão do zunido produzido pelo objeto é uma assinatura
direta de sua massa e rotação, e nada mais; ou seja, mais uma vez, Einstein
estava certo: nada de “cabelos”.
“Todos esperamos que a
relatividade geral esteja correta, mas esta é a primeira vez que a confirmamos
dessa maneira”, disse o principal autor do estudo, Maximiliano Isi, do MIT.
“Esta é a primeira medição experimental que obteve sucesso em testar
diretamente o teorema da calvície. Não significa que buracos negros não podem
ter cabelo. Significa que a ideia dos buracos negros sem cabelo sobrevive por
mais um dia”.
Como
tudo começou
Foi 14 de setembro de 2015
que os cientistas fizeram a primeira detecção de ondas gravitacionais, através
do Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser (LIGO). Essa
detecção foi anunciada no ano seguinte e foi chamada de GW150914, e os sinais
representam um sistema de dois buracos negros de 36 e 29 massas solares girando
um em torno do outro até se fundirem e formarem um buraco negro de 62 massas
solares. Você notou que a soma da massa dos dois objetos parece errada no
resultante final? É que algo equivalente a 3 massas solares foi convertido em
energia e liberado na forma de ondas gravitacionais. Uma parcela ínfima
conseguiu chegar à Terra, e por isso sabemos um pouco sobre o que aconteceu.
Os cientistas eliminaram o
ruído, ampliaram o sinal e observaram uma forma de onda que aumentou
rapidamente antes de desaparecer. Quando eles traduziram o sinal em som, eles
ouviram o “pop”.
Na época, os cientistas
assumiram que a assinatura da onda era fraca demais para decifrar algo mais. No
entanto, Isi e seus colegas encontraram em seu novo estudo uma maneira de
extrair a reverberação do buraco negro nos momentos imediatamente após o pico
do sinal. Em um trabalho anterior liderado pelo co-autor do novo estudo,
Matthew Giesler, a equipe mostrou através de simulações que esse sinal —
particularmente a parte logo após o pico — contém um grupo de tons altos e de
curta duração. Quando eles analisaram o sinal novamente, levando em consideração
as conotações, descobriram que podiam isolar um padrão de toque específico de
um buraco negro recém-formado.
Agora, os pesquisadores
aplicaram essa técnica aos dados reais da detecção GW150914, concentrando-se
nos últimos milissegundos do sinal, imediatamente após o pico do “pop”, e
conseguiram identificar dois tons distintos, cada um com uma taxa de afinação e
decaimento. "Detectamos um sinal de onda gravitacional geral composto de
várias frequências, que decaem em taxas diferentes, como os diferentes tons que
compõem um som", diz Isi. "Cada frequência ou tom corresponde a uma
frequência vibracional do novo buraco negro."
O resultado é bastante
animador para os cientistas, porque antes eles assumiam que esse zunido só
poderia ser detectado dentro de uma extremidade muito mais fraca do sinal da
onda gravitacional, e com instrumentos muito mais sensíveis do que os
disponíveis atualmente. "Isso é empolgante para a comunidade, porque
mostra que esse tipo de estudo é possível agora, não só daqui a 20 anos", diz
Isi.
Fontes: Canaltech
Phys.org
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