Revelada a primeira imagem real da teia cósmica que conecta o universo
Um aglomerado de galáxias massivo da simulação C-EAGLE,
fornecendo uma visão de uma região comparável àquela em que os filamentos foram
detectados. O mapa de cores representa a mesma emissão dos filamentos de gás
que a detectada nas observações. Na convergência desses filamentos, um
aglomerado maciço de galáxias está se ormando(Imagem: © Joshua Borrow usando
C-EAGLE)
Na quinta-feira (3),
cientistas conseguiram pela primeira vez capturar uma imagem que revela
filamentos cósmicos da rede intergalática gasosa. A teoria de que ela existe e
conecta as galáxias como uma imensa teia cósmica não é nova, mas o conceito
sempre foi invisível aos olhos dos astrônomos. Isso acaba de mudar, graças ao
trabalho publicado em um estudo na revista Science.
Na fotografia publicada em um
estudo na revista Science, registrada através de alguns dos telescópios mais
sensíveis da terra, os filamentos azuis de hidrogênio cruzam com um aglomerado
de galáxias brancas antigas. Essas galáxias estão a cerca de 12 bilhões de
anos-luz da Terra — ou seja, elas nasceram aproximadamente no primeiro bilhão e
meio de anos após o Big Bang.
Mas
o que é teia cósmica?
Quando olhamos para o cosmos
com instrumentos astronômicos, podemos ver galáxias com suas milhares de
estrelas, atraídas por buracos negros supermassivos, além de planetas e outros
corpos celestes. Mas há muito além do que os olhos — e os melhores telescópios
— conseguem ver. Por exemplo, estima-se que cerca de 84% do Universo é formado
por matéria escura invisível. Entre essas galáxias, o espaço não está
completamente vazio, pois uma sutil e complexa trilha de gás preenche a
escuridão.
Essa teia intergalática
gasosa parece “conectar” as milhares de galáxias. Feita de longos filamentos de
hidrogênio que sobraram do Big Bang, acredita-se que a teia contenha a maioria
(mais de 60%) do gás no universo e alimente diretamente todas as regiões
produtoras de estrelas no espaço. Nos cruzamentos onde os filamentos se
sobrepõem, galáxias aparecem. Pelo menos, essa é a teoria.
Os filamentos da teia
galáctica nunca foram diretamente observados antes porque estão entre as
estruturas mais fracas do universo, e são facilmente ofuscados pelo brilho das
galáxias ao seu redor. Mas o novo estudo deu um grande passo para mudar isso, e
revela que, iluminados pelo brilho ultravioleta das próprias galáxias, os
filamentos se estendem por mais de 3 milhões de anos-luz. Isso confirma a
teoria de que se trata de uma das estruturas mais gigantescas do espaço.
Como
foi possível ver a teia cósmica?
Se os filamentos são tão
fracos, como puderam ser capturados em uma imagem? A técnica foi usar as
galáxias como uma “lanterna”. Com o instrumento Multi Unit Spectroscopic
Explorer (MUSE), instalado no Very Large Telescope do European Southern
Observatory, os pesquisadores ampliaram um grupo de galáxias antigas
localizadas na constelação de Aquário, conhecida por ser extremamente vasta e
extremamente antiga.
Com a luz das estrelas
recém-nascidas e com os buracos negros que destroem a matéria — matéria essa
que emite uma luz forte antes de ser devorada —, os filamentos de hidrogênio
foram iluminados bem suavemente, mas o suficiente para permitir que os
pesquisadores mapeassem um esboço vago dos filamentos da teia cósmica por lá.
As observações revelaram duas
vias paralelas de hidrogênio conectando os pontos galácticos ao longo de
milhões de anos-luz, ligados por um terceiro fluxo de gás que os conectou na
diagonal. Fiel aos modelos cosmológicos, os filamentos de gás pareciam
alimentar diretamente as galáxias formadoras de estrelas mais ativas da rede,
injetando hidrogênio diretamente para as regiões onde estavam as estrelas
recém-nascidas e os buracos negros famintos.
De acordo com Erika Hamden,
astrônoma do Observatório Steward da Universidade do Arizona, que não estava
envolvida no estudo, “essas observações das maiores e mais fracas estruturas do
universo são a chave para entender como o nosso universo evoluiu ao longo do
tempo". Ela ainda acrescentou que a nova fotografia é "apenas a ponta
do iceberg" da detecção da teia cósmica. Podemos esperar por mais imagens
da teia em outros cantos antigos do espaço, e novas descobertas sobre como tudo
no Universo está conectado.
Fonte: Live Science
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