Vibrações estelares levam a nova estimativa da idade da Via Láctea
Os sismos
estelares registados pelo telescópio espacial Kepler da NASA ajudaram a
responder a uma pergunta de longa data sobre a idade do "disco
espesso" da Via Láctea.
Num artigo
publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, uma
equipa de 38 cientistas liderada por investigadores do Centro de Excelência ARC
para ASTRO-3D (All Sky Astrophysics in Three Dimensions) da Austrália usou
dados da sonda agora extinta para calcular que o disco tem cerca de 10 mil
milhões de anos.
"Esta
descoberta esclarece um mistério," diz o autor principal, Dr. Sanjib
Sharma do ASTRO-3D e da Universidade de Sydney na Austrália.
"Os dados
anteriores sobre a distribuição etária das estrelas no disco não concordavam
com os modelos construídos para a descrever, mas ninguém sabia onde estava o
erro - nos dados ou nos modelos. Agora temos certeza de que o
encontrámos."
A Via Láctea -
como muitas outras galáxias espirais - consiste de duas estruturas semelhantes
a discos, de nome "espessa" e "fina". O disco espesso
contém apenas cerca de 20% do total de estrelas da Galáxia e, com base na sua
composição e espessura vertical, é considerado o componente mais antigo do par.
Para descobrir
quão mais velho, o Dr. Sharma e colegas usaram um método conhecido como
asterossismologia - uma maneira de identificar as estruturas internas das
estrelas medindo as suas oscilações a partir de sismos estelares.
"Os sismos
geram ondas sonoras dentro das estrelas que as fazem vibrar," explica o
coautor Dennis Stello, professor associado do ASTRO-3D e da Universidade de
Nova Gales do Sul.
"As
frequências produzidas dizem-nos coisas sobre as propriedades internas das
estrelas, incluindo a sua idade. É um pouco como identificar um violino
Stradivarius ouvindo o som que produz."
Esta datação
permite que os investigadores essencialmente olhem para trás no tempo e
discernem o período na história do Universo em que a Via Láctea se formou; uma
prática conhecida como arqueologia galáctica.
Não que os
cientistas realmente ouçam o som gerado pelos sismos estelares. Ao invés,
procuram como o movimento interno é refletido nas mudanças de brilho.
"As estrelas
são apenas instrumentos esféricos cheios de gás," diz Sharma, "mas as
suas vibrações são minúsculas, por isso temos que observar com muito
cuidado."
"As
excelentes medições de brilho feitas pelo Kepler foram ideais para isso. O
telescópio era tão sensível que seria capaz de detetar o escurecimento do farol
de um carro provocado pela passagem de uma pulga."
Os dados
transmitidos pelo telescópio durante os quatro anos após o lançamento em 2009
apresentaram um problema para os astrónomos. As informações sugeriram que havia
mais estrelas mais jovens no disco espesso do que os modelos previram.
A pergunta que os
cientistas enfrentavam era clara: os modelos estavam errados ou os dados
estavam incompletos?
No entanto, em
2013 o Kepler avariou e a NASA reprogramou-o para continuar a trabalhar numa
capacidade reduzida - um período que ficou conhecido como missão K2. O projeto
envolveu a observação de muitas partes diferentes do céu durante 80 dias de
cada vez.
A primeira
parcela destes dados representou uma nova fonte rica para Sharma e colegas da
Universidade Macquarie, da Universidade Nacional Australiana, da Universidade
de Nova Gales do Sul e da Universidade da Austrália Ocidental. À sua análise
juntaram-se outras instituições dos EUA, Alemanha, Áustria, Itália, Dinamarca,
Eslovénia e Suécia.
Uma análise
espectroscópica recente revelou que a composição química incorporada nos
modelos existentes para estrelas no disco espesso estava errada, o que afetou a
previsão das suas idades. Levando isto em conta, os investigadores descobriram
que os dados asterossísmicos observados caíam agora em "excelente
concordância" com as previsões dos modelos.
O professor
Stello diz que os resultados fornecem uma forte verificação indireta do poder
analítico da asterossismologia para estimar idades.
Ele acrescentou
que dados adicionais ainda a serem analisados da missão K2, combinados com
novas informações recolhidas pelo TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite)
da NASA, resultarão em estimativas precisas para as idades de ainda mais
estrelas no disco e que isto ajudará a desvendar a história da formação da Via
Láctea.
Fonte: Astronomia OnLine
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