Alguns planetas "comem" os seus próprios céus?
Impressão de artista de um exoplaneta mais pequeno que Neptuno. Um novo estudo sugere uma razão para o porquê de tais planetas raramente crescerem mais que Neptuno: os oceanos de magma do planeta começam a "comer" o céu. Crédito: NASA/ESA/G. Bacon (STScI)/L. Kreidberg; J. Bean (U. Chicago)/H. Knutson (Caltech)
Durante muitos
anos, pelo que sabíamos, o nosso Sistema Solar estava sozinho no Universo. E
depois, telescópios mais avançados começaram a revelar um tesouro de planetas
em órbita de estrelas distantes.
Em 2014, o
telescópio espacial Kepler da NASA entregou aos cientistas mais de 700 planetas
distantes "novinhos em folha" para estudarem - muitos deles
totalmente diferentes do que havia sido observado anteriormente. Em vez de
gigantes gasosos como Júpiter, que as investigações anteriores haviam captado
primeiro porque são mais fáceis de observar, estes planetas eram mais pequenos
e, na maioria, rochosos em termos de massa.
Os cientistas
notaram que existiam muitos destes planetas de tamanho idêntico ou pouco
superior ao da Terra, mas que havia também um corte acentuado antes dos
planetas alcançarem o tamanho de Neptuno. "É como se fosse um 'precipício'
nos dados, e é bastante dramático," disse o cientista planetário Edwin
Kite da Universidade de Chicago. "O que temos discutido é o porquê de os
planetas tenderem a parar de crescer além do triplo do tamanho da Terra."
Num artigo
publicado dia 17 de dezembro na revista The Astrophysical Journal Letters, Kite
e colegas da Universidade de Washington, da Universidade de Stanford e da
Universidade Estatal da Pensilvânia fornecem uma explicação inovadora para esta
queda: os oceanos de magma à superfície destes planetas absorvem rapidamente as
suas atmosferas assim que os planetas atingem cerca de três vezes o tamanho da
Terra.
Kite, que estuda
a história de Marte e os climas de outros mundos, estava bem posicionado para
estudar a questão. Ele pensou que a resposta podia depender de um aspeto pouco
estudado de tais exoplanetas. Pensa-se que a maioria dos planetas um pouco mais
pequenos do que a queda de tamanho tenham oceanos de magma às suas superfícies
- grandes mares de rocha derretida como os que outrora cobriram a Terra. Mas,
em vez de solidificarem como o nosso, são mantidos quentes por uma espessa
camada atmosférica rica em hidrogénio.
"Até agora,
quase todos os modelos que temos ignoram este magma, tratando-o como
quimicamente inerte, mas a rocha derretida é quase tão líquida quanto a água e
muito reativa," disse Kite, professor assistente no Departamento de
Ciências Geofísicas da Universidade de Chicago.
A questão que Kite
e colegas consideraram foi se, à medida que os planetas adquiriam mais
hidrogénio, o oceano podia começar a "comer" o céu. Neste cenário, à
medida que o planeta adquire mais gás, este acumula-se na atmosfera e a pressão
em baixo, onde a atmosfera encontra o magma, começa a aumentar. A princípio, o
magma absorve o gás adicionado a um ritmo constante, mas à medida que a pressão
aumenta, o hidrogénio começa a dissolver-se muito mais facilmente no magma.
"Não apenas
isso, mas o pouco gás adicionado que permanece na atmosfera faz subir a pressão
atmosférica e, assim, uma fração ainda maior do gás que chega mais tarde
dissolve-se no magma," explicou Kite.
Assim sendo, o
crescimento do planeta para antes de atingir o tamanho de Neptuno (porque a
maioria do volume destes planetas está na atmosfera, o encolhimento da
atmosfera encolhe os planetas).
Os autores chamam
a isto a "crise de fugacidade", que pega no termo que mede quanto
mais facilmente um gás se dissolve numa mistura do que seria de esperar com
base na pressão.
Kite acrescentou
que a teoria se encaixa bem com as observações existentes. Também existem
vários marcadores que os astrónomos podem procurar no futuro. Por exemplo, se a
teoria estiver correta, os planetas com oceanos de magma que são frios o
suficiente para se cristalizarem à superfície devem exibir perfis diferentes,
pois isso impediria o oceano de absorver tanto hidrogénio. As investigações
atuais e futuras do TESS e de outros telescópios deverão fornecer aos
astrónomos mais dados com que trabalhar.
"No nosso
Sistema não há nada como estes mundos," disse Kite. "Embora o nosso
trabalho sugira uma solução para um dos quebra-cabeças dos exoplanetas
sub-Neptuno, ainda têm muito para nos ensinar!"
Fonte: Astronomia OnLine
Comentários
Postar um comentário
Se você achou interessante essa postagem deixe seu comentario!