Como as estrelas recém-nascidas se preparam para o nascimento dos planetas
O ALMA e o VLA observaram mais de 300 protoestrelas e seus
jovens discos protoplanetários em Orionte. Esta imagem mostra um subconjunto de
estrelas, incluindo alguns binários. Os dados do ALMA e do VLA complementam-se
uns aos outros: o ALMA vê a estrutura do disco externo (a azul) e o VLA observa
o disco interno e o núcleo estelar (laranja).Crédito: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO), J.
Tobin; NRAO/AUI/NSF, S. Dagnello
Uma equipe internacional de
astrónomos usou dois dos radiotelescópios mais poderosos do mundo para criar
mais de trezentas imagens de discos de formação planetária em torno de estrelas
muito jovens nas Nuvens de Orionte. Estas imagens revelam novos detalhes sobre
os locais de nascimento dos planetas e sobre os estágios iniciais da formação
estelar.
A maioria das estrelas do
Universo é acompanhada por planetas. Estes planetas nascem em anéis de poeira e
gás, chamados discos protoplanetários. Mesmo estrelas muito jovens estão
cercadas por estes discos. Os astrónomos querem saber exatamente quando estes
discos começam a se formar e qual o seu aspeto. Mas as estrelas jovens são
muito fracas e existem densas nuvens de poeira e gás em seu redor, nos
berçários estelares. Somente complexos de radiotelescópios altamente sensíveis
conseguem localizar os pequenos discos em redor destas estrelas infantis por
entre o material densamente compacto nestas nuvens.
Nesta nova investigação, os
astrónomos apontaram o VLA (Karl G. Jansky Very Large Array) da NSF (National
Science Foundation) e o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array)
para uma região no espaço onde nascem muitas estrelas: as Nuvens Moleculares de
Orionte. Este levantamento, de nome VANDAM (VLA/ALMA Nascent Disk and
Multiplicity), é até à data o maior levantamento de estrelas jovens e dos seus
discos.
As estrelas muito jovens,
também chamadas protoestrelas, formam-se em nuvens de gás e poeira no espaço. O
primeiro passo na formação de uma estrela é o colapso destas nuvens densas
devido à gravidade. À medida que a nuvem colapsa, começa a girar - formando um
disco achatado em torno da protoestrela. O material do disco continua a
alimentar a estrela e a fazê-la crescer. Eventualmente, o material restante no
disco deverá formar planetas.
Muitos aspetos destes
primeiros estágios da formação estelar, e de como o disco se forma, ainda não
são claros. Mas esta nova investigação fornece algumas pistas em falta, pois o
VLA e o ALMA espiaram através das nuvens densas e observaram centenas de
protoestrelas e seus discos em vários estágios de formação.
Jovens
discos de formação planetária
"Este levantamento
revelou a massa e o tamanho médio destes discos protoplanetários muito
jovens," disse John Tobin, do NRAO (National Radio Astronomy Observatory)
em Charlottesville, no estado norte-americano da Virgínia, e líder da equipa
científica. "Agora podemos compará-los com discos mais antigos que também
foram estudados intensivamente com o ALMA."
O que Tobin e a sua equipa
descobriram, é que discos muito jovens podem ter tamanho semelhante, mas são,
em média, muito mais massivos do que os discos mais antigos. "Quando uma
estrela cresce, consome cada vez mais material do disco. Isto significa que os
discos mais jovens têm muito mais matéria-prima da qual os planetas podem
formar-se. Possivelmente já começaram a ser formados, em torno de estrelas
muito jovens, planetas maiores."
Quatro
protoestrelas especiais
Entre as centenas de imagens
deste levantamento, quatro protoestrelas parecem diferentes das outras e
chamaram a atenção dos cientistas. "Estas estrelas recém-nascidas pareciam
muito irregulares e desajeitadas," disse Nicole Karnath, membro da equipa
e da Universidade de Toledo, Ohio (agora no Centro Científico do SOFIA).
"Pensamos que estão num dos estágios mais iniciais da formação estelar e
algumas talvez ainda nem se tenham transformado em protoestrelas."
A descoberta destes quatro
objetos, pelos cientistas, é especial. "Raramente encontramos mais do que
um objeto irregular numa observação," acrescentou Karnath, que usou quatro
destas estrelas infantis para propor um caminho esquemático para os estágios
iniciais da formação estelar. "Não temos a certeza da sua idade, mas têm
provavelmente menos de dez mil anos."
Para serem definidas como uma
típica protoestrela (classe 0), as estrelas não devem apenas ter um disco
giratório achatado em seu redor, mas também um fluxo - expelindo material em
direções opostas - que limpa a nuvem densa em torno das estrelas e as torna
oticamente visíveis. Este fluxo é importante, porque impede que as estrelas
descontrolem a sua rotação enquanto crescem. Mas exatamente quando é que estes
fluxos começam, é uma questão em aberto na astronomia.
Uma das estrelas infantis
neste estudo, chamada HOPS 404, possui um fluxo de apenas dois quilómetros por
segundo (um típico fluxo protoestelar tem 10-100 km/s). "É um grande sol
inchado que ainda está a acumular muita massa e que apenas começou o seu fluxo
para perder momento angular e assim continuar a crescer," explicou
Karnath. "Este é um dos fluxos mais pequenos que já vimos e apoia a nossa
teoria do aspeto do primeiro passo na formação de uma protoestrela."
Combinando
o ALMA e o VLA
A excelente resolução e
sensibilidade desta investigação, fornecidas pelo ALMA e pelo VLA, foram
cruciais para entender as regiões exteriores e interiores das protoestrelas e
dos seus discos. Embora o ALMA possa examinar em grande detalhe o material
denso e empoeirado em torno de protoestrelas, as imagens do VLA obtidas a
maiores comprimentos de onda foram essenciais para entender as estruturas
internas das protoestrelas mais jovens a escalas mais pequenas do que o nosso
Sistema Solar.
"A combinação do ALMA e
do VLA deu-nos o melhor dos dois mundos," disse Tobin. "Graças a
estes telescópios, começamos a entender o início da formação planetária."
Fonte: Astronomia OnLine
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