Os astrônomos descobriram os buracos negros do Big Bang?
As ondas gravitacionais atribuídas à colisão de duas estrelas de nêutrons poderiam ter sido produzidas por algo muito mais estranho
Desde 2002, o
Observatório das Ondas Gravitacionais por Inferômetro Laser (LIGO) tem
permitido que pesquisadores usem ondulações no espaço-tempo para estudar o
funcionamento interno da fusão de buracos negros. O LIGO também detectou já
ondas gravitacionais que vêm de outros tipos de colisões espaciais, como as
colisões de restos estelares ultradensos chamados de estrelas de nêutrons.
De vez em quando,
porém, o observatório capta informações de ondas gravitacionais que deixam os
astrônomos muito curiosos. Um desses casos é o da GW190425, detectado pela
primeira vem em abril de 2019 e que foi recentemente atribuída a uma colisão
entre estrelas de nêutrons.
O problema é que
dados do LIGO sugerem que essas supostas estrelas de nêutron tinham juntas uma
massa absurdamente grande, algo como 3,4 vezes a massa do sol, que por si só já
tem uma massa muito maior que a dupla de estrelas de nêutrons mais massivas que
já conhecemos.
“Isso é muito mais
pesado do que o conhecido por uma margem bem grande”, aponta Chad Hanna, um
astrofísico da Universidade Estadual de Pensilvânia e “caçador” de ondas
gravitacionais.
Toda essa massa
extra está fazendo com que muitos pesquisadores suspeitem que a GW190425 não
tenha surgido da colisão de duas estrelas de nêutron, mas sim de algo muito
mais incomum: a fusão de dois buracos negros primordiais.
Do tempo do Big
Bang
Buracos negros
primordiais são um tipo hipotético de buraco negro que não seriam formados pelo
colapso gravitacional de uma estrela, mas sim pela extrema densidade da matéria
presente durante a expansão inicial do
universo. Durante os primeiros momentos após o Big Bang, a pressão e temperatura
extremamente altas teriam resultado em flutuações na densidade da matéria
suficientes para a criação de buracos negros.
Esses buracos
poderiam ser os responsáveis pela discrepância de massas identificada pela
observação recente do LIGO.
Os buracos negros
primordiais ajudariam a comprovar a existência da matéria escura por vários
motivos, mas o mais importante deles é que, sendo buracos negros, eles têm um
grande empuxo gravitacional.
Apesar deste fato,
Hanna garante que se esses buracos especiais fossem abundantes o suficiente
para serem responsáveis por toda a energia escura do universo, pesquisas astronômicas
que procuram por eles teriam resultados diferentes do que observamos até agora. Por isso, ele
acredita que os buracos negros primordiais seriam responsáveis por apenas uma
pequena fração de matéria escura.
Apesar de as
observações do LIGO marcarem a primeira detecção desses tipos de buracos
negros, Hanna concorda que é mais possível que as ondas gravitacionais sejam,
no final das contas, apenas o resultado de uma fusão entre estrelas de
nêutrons.
Alguns
pesquisadores, como Juan García Bellido, cosmologista teórico da Universidade
de Madrid (Espanha), porém, continuam otimistas que o LIGO pode ter captado
indícios da existência desses buracos.
“Todos os eventos
LIGO poderiam ser buracos negros primordiais”, diz ele. Apenas o tempo e mais
dados vão revelar a verdade sobre isso.
Fonte: Scientific
American
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