NICER descobre surtos de raios-X nos pulsos de rádio do pulsar da Nebulosa do Caranguejo
A Nebulosa do Caranguejo, uma nuvem de detritos em expansão com seis anos-luz de diâmetro, de uma explosão de supernova, alberga uma estrela de neutrões que gira 30 vezes por segundo e está entre os pulsares mais brilhantes do céu em raios-X e no rádio. Esta composição de imagens pelo Telescópio Espacial Hubble revela gases diferentes expelidos na explosão: o azul revela o oxigénio neutro, o verde mostra o enxofre ionizado e o vermelho indica o oxigénio duplamente ionizado. Crédito: NASA, ESA, J. Hester e A. Loll (Universidade Estatal do Arizona)
Uma colaboração
científica global usando dados do telescópio NICER (Neutron star Interior
Composition Explorer) da NASA a bordo da Estação Espacial Internacional
descobriu surtos de raios-X que acompanham as explosões de rádio do pulsar
situado na Nebulosa do Caranguejo. A descoberta mostra que estes surtos,
chamados pulsos gigantes de rádio, libertam muito mais energia do que se
suspeitava anteriormente.
Um pulsar é um tipo de
estrela de neutrões que gira rapidamente, o núcleo esmagado - do tamanho de uma
cidade - de uma estrela que explodiu como uma supernova. Uma estrela de
neutrões jovem e isolada pode girar dezenas de vezes por segundo, e o seu campo
magnético circundante alimenta feixes de ondas de rádio, luz visível, raios-X e
raios-gama. Se estes feixes passarem pela perspetiva da Terra, os astrónomos
observam pulsos de emissão semelhantes aos de um relógio e classificam o objeto
como um pulsar.
"Dos mais de 2800
pulsares catalogados, o pulsar da Nebulosa do Caranguejo é um dos poucos que
emite pulsos gigantes de rádio, que ocorrem esporadicamente e podem ser
centenas a milhares de vezes mais brilhantes do que os pulsos regulares,"
disse o cientista Teruaki Enoto do RIKEN em Wako, prefeitura de Saitama, Japão.
"Após décadas de observações, apenas o pulsar da Nebulosa do Caranguejo
demonstrou aumentar os seus pulsos gigantes de rádio com emissão de outras
partes do espectro."
Entre 2017 e 2019, o NICER da NASA e radiotelescópios no Japão estudaram o pulsar da Nebulosa do Caranguejo ao mesmo tempo. Nesta visualização, que representa apenas 13 minutos das observações do NICER, são apresentados milhões de raios-X em relação à fase rotacional do pulsar, centrada na emissão rádio mais forte. Para efeitos de clareza, são mostradas duas rotações completas. À medida que os feixes do pulsar varre a linha de visão, produzem dois picos para cada rotação, o mais brilhante associado com maiores números de de pulsos gigantes de rádio. Pela primeira vez, os dados do NICER mostram um ligeiro aumento na emissão de raios-X associada a estes eventos. Crédito: Centro de Voo Espacial Goddard da NASA/Enoto et al., 2021
O novo estudo, publicado
na edição de 9 de abril da revista Science e também disponível online, analisou
a maior quantidade de dados simultâneos de raios-X e rádio já recolhidos de um
pulsar. O estudo estende por um fator de milhares a faixa de energia observada
associada a este fenómeno.
Localizado a cerca de
6500 anos-luz de distância na direção da constelação de Touro, a Nebulosa do
Caranguejo e o seu pulsar formaram-se numa supernova cuja luz atingiu a Terra
em julho de 1054. A estrela de neutrões gira 30 vezes por segundo, e em
comprimentos de onda de raios-X e rádio está entre os pulsares mais brilhantes
do céu.
Entre agosto de 2017 e
agosto de 2019, Enoto e colegas usaram o NICER para observar repetidamente o
pulsar da Nebulosa do Caranguejo em raios-X a energias de até 10.000
eletrões-volt, ou milhares de vezes a energia da luz visível. Enquanto o NICER
observava, a equipa também estudava o objeto usando pelo menos um de dois
radiotelescópios terrestres no Japão - a antena de 34 metros do Centro Espacial
Kashima e a antena de 64 metros do Centro Espacial Usuda da JAXA (a agência
espacial japonesa), ambos operando na frequência de 2 gigahertz.
O conjunto de dados
combinado deu efetivamente aos investigadores quase dia e meio de cobertura
simultânea de raios-X e rádio. Ao todo, capturaram atividade durante 3,7
milhões de rotações do pulsar e cerca de 26.000 pulsos gigantes de rádio.
Os pulsos gigantes
explodem rapidamente, atingindo milionésimos de segundo, e ocorrem de forma
imprevisível. No entanto, quando ocorrem, coincidem com as pulsações regulares
tipo-relógio do pulsar.
O NICER regista o tempo
de chegada de cada raio-X e deteta-o até uma precisão de 100 nanossegundos, mas
o rigor cronométrico do telescópio não é a sua única vantagem para este estudo.
"A capacidade do
NICER em observar fontes brilhantes de raios-X é quase quatro vezes maior do
que o brilho combinado do pulsar e da sua nebulosa," disse Zaven
Arzoumanian, líder científico do projeto no Centro Espacial Goddard da NASA em
Greenbelt, no estado norte-americano de Maryland. "Portanto, estas
observações não foram afetadas em grande parte pela acumulação - onde um
detetor conta dois ou mais raios-X como um único evento - e outros problemas
que complicaram as análises anteriores."
A equipa de Enoto
combinou todos os dados de raios-X que coincidiam com os pulsos gigantes de
rádio, revelando um aumento de raios-X de cerca de 4% que ocorreu em sincronia
com eles. É notavelmente semelhante ao aumento de 3% na luz visível também
associada ao fenómeno, descoberto em 2003. Em comparação com a diferença de
brilho entre os pulsares regulares do Caranguejo e os gigantes, estas mudanças
são notavelmente pequenas e representam um desafio que os modelos teóricos têm
de explicar.
Assim sendo, sugere-se
que os pulsos gigantes são uma manifestação de processos subjacentes que
produzem emissões que abrangem o espetro eletromagnético, do rádio aos raios-X.
E como os raios-X têm milhões de vezes a "força" das ondas de rádio,
mesmo um aumento modesto representa uma grande contribuição de energia. Os
investigadores concluíram que a energia total emitida associada a um pulso
gigante é dezenas a centenas de vezes maior do que a estimada anteriormente
apenas a partir de dados no rádio e no visível.
"Ainda não
entendemos como ou onde os pulsares produzem a sua emissão complexa e
abrangente, e é gratificante ter contribuído com outra peça do puzzle de vários
comprimentos de onda destes objetos fascinantes," conclui Enoto.
Fonte: Astronomia OnLine
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