Cientistas usam massa estelar para ligar exoplanetas a discos de formação planetária

Os discos protoplanetários são classificados em três categorias: transição, anel ou estendido. Estas imagens de cores falsas do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) mostram estas classificações em contraste absoluto. À esquerda: o disco em anel de RU Lup é caracterizado por lacunas estreitas que se pensa serem esculpidas por planetas gigantes com massas que variam entre uma massa de Neptuno e uma massa de Júpiter. Meio: o disco de transição de J1604.3-2130 é caracterizado por uma grande cavidade interna que se pensa ser esculpida por planetas mais massivos que Júpiter, também conhecidos como planetas Super-Jovianos. À direita: pensa-se que o disco compacto de Sz104 não contenha planetas gigantes, já que não possui as lacunas e cavidades associadas com a presença de planetas gigantes.Crédito: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO), S. Dagnello (NRAO)

Usando dados de mais de 500 estrelas jovens observadas com o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), os cientistas descobriram uma ligação direta entre as estruturas do disco protoplanetário - os discos formadores de planetas que rodeiam as estrelas - e a demografia planetária. A investigação prova que estrelas com maior massa são mais propensas a estar rodeadas por discos com lacunas e que essas lacunas estão diretamente correlacionadas com a alta ocorrência de exoplanetas gigantes observados em torno delas. Estes resultados fornecem aos cientistas uma janela através do tempo, permitindo-lhes prever o aspeto dos sistemas exoplanetários em cada estágio da sua formação. 

"Encontrámos uma forte correlação entre lacunas nos discos protoplanetários e a massa estelar, que pode estar ligada à presença de grandes exoplanetas gasosos," disse Nienke van der Marel, do Departamento de Física e Astronomia da Universidade Victoria na Columbia Britânica, autora principal da investigação. 

"Estrelas de maior massa têm relativamente mais discos com lacunas do que estrelas de menor massa, consistente com as já conhecidas correlações em exoplanetas, onde estrelas de maior massa hospedam mais frequentemente exoplanetas gigantes gasosos. Estas correlações dizem-nos diretamente que as lacunas nos discos de formação de planetas são provavelmente provocadas por planetas gigantes com a massa de Neptuno e acima." 

As lacunas nos discos protoplanetários há muito que são consideradas evidências gerais da formação planetária. No entanto, tem havido algum ceticismo devido à distância orbital observada entre os exoplanetas e as suas estrelas. "Uma das principais razões pelas quais os cientistas têm permanecido céticos acerca da ligação entre lacunas e planetas é que exoplanetas em órbitas largas de dezenas de unidades astronómicas são raros. 

No entanto, exoplanetas em órbitas mais pequenas, entre uma e dez unidades astronómicas, são muito mais comuns," disse Gijs Mulders, professor assistente de astronomia na Universidade Adolfo Ibáñez em Santiago, Chile, coautor da investigação. "Pensamos que os planetas que 'varrem' as lacunas migram para o interior mais tarde." 

O novo estudo é o primeiro a mostrar que o número de discos com lacunas nestas regiões corresponde ao número de exoplanetas gigantes num sistema estelar. "Estudos anteriores indicaram que havia muito mais discos com lacunas do que exoplanetas gigantes detetados", disse Mulders. "O nosso estudo mostra que existem exoplanetas suficientes para explicar a frequência observada de discos com lacunas a diferentes massas estelares." 

A correlação também se aplica a sistemas estelares com estrelas de baixa massa, onde os cientistas são mais propensos a encontrar exoplanetas rochosos massivos, também conhecidos como super-Terras. Van der Marel, que se tornará professora assistente na Universidade de Leiden, Países Baixos, a partir de setembro de 2021, disse: "Estrelas de menor massa têm mais super-Terras rochosas - entre uma massa terrestre e uma massa de Neptuno. Discos sem lacunas, mais compactos, levam à formação de super-Terras." 

Esta ligação entre a massa estelar e a demografia planetária pode ajudar os cientistas a identificar quais as estrelas a ter como alvo na busca por planetas rochosos pela Via Láctea. "Esta nova compreensão das dependências da massa estelar vai ajudar-nos a orientar a busca por pequenos planetas rochosos como a Terra na vizinhança solar," acrescentou Mulders, que também faz parte da equipa Alien Earths financiada pela NASA. 

"Podemos usar a massa estelar para ligar os discos de formação planetária em torno de estrelas jovens a exoplanetas em torno de estrelas maduras. Quando um exoplaneta é detetado, o material formador de planetas geralmente desaparece. Portanto, a massa estelar é uma "etiqueta" que nos diz como o ambiente de formação planetária poderá ser para estes exoplanetas." 

Etudo se resume a poeira. "Um elemento importante da formação planetária é a influência da evolução da poeira", disse van der Marel. "Sem planetas gigantes, a poeira irá sempre mover-se para dentro, criando condições ideais para a formação de planetas rochosos, mais pequenos, perto da estrela." 

A investigação atual foi realizada usando dados de mais de 500 objetos observados em estudos anteriores usando as antenas do ALMA na Banda 6 e 7. Atualmente, o ALMA é o único telescópio que pode obter imagens da distribuição de poeira milimétrica em resolução angular alta o suficiente para resolver os discos de poeira e revelar a sua subestrutura, ou a falta dela.

 "Nos últimos cinco anos, o ALMA produziu muitas pesquisas instantâneas de regiões de formação estelar próximas, resultando em centenas de medições da massa, do tamanho e da morfologia do disco de poeira," disse van der Marel.

"O grande número de propriedades do disco observadas permitiu-nos fazer uma comparação estatística de discos protoplanetários com os milhares de exoplanetas descobertos. Esta é a primeira vez que uma dependência de massa estelar de discos com lacunas e discos compactos foi demonstrada com sucesso usando o telescópio ALMA." 

"As nossas novas descobertas ligam as belas estruturas das lacunas nos discos observados diretamente com o ALMA às propriedades de milhares de exoplanetas pela missão Kepler da NASA e a outros levantamentos exoplanetários," comentou Mulders. "Os exoplanetas e a sua formação ajudam-nos a situar as origens da Terra e do Sistema Solar no contexto do que vemos acontecer em torno de outras estrelas."

Fonte: Astronomia OnLine

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