Astrônoma amadora descobre uma nova lua em Júpiter; número sobe para 80
De acordo com a União Astronômica Internacional (IAU, na sigla em
inglês), Júpiter tem 79 luas conhecidas, mas descobrir esses pequenos corpos
celestes orbitando o gigante gasoso é um desafio, pois muitos deles são
pequenos e refletem pouca luz do Sol — ou o fazem durante um curto espaço de
tempo. Apesar disso, graças a dados obtidos por diversos telescópios da Terra,
e que ficam disponíveis ao público, a astrônoma amadora Kai Ly descobriu um
novo satélite natural joviano, que, embora ainda não tenha recebido uma
designação oficial, tem grandes chances de elevar o número de luas de Júpiter
para 80.
A astrônoma amadora relata que começou a planejar sua missão de busca
por luas em Júpiter em maio do ano passado, mas somente em junho ela começou a
examinar os dados obtidos em 2003 através do Telescópio Canadá-França-Havaí
(CFHT, sigla em inglês), com 3,6 metros de diâmetro, localizado no Havaí. As
imagens obtidas na época foram as mesmas usadas pelo astrônomo Scott Sheppard,
da Carnegie Institution for Science, que, em 2018, descobriu 12 novas luas em
Júpiter, elevando para 79 o número total delas.
Análises de imagens anteriores à nova descoberta sugeriram que mais
luas poderiam estar escondidas neste conjunto de dados obtidos em 2003. Por
isso, Ly começou a estudar as imagens de fevereiro daquele ano, época em que
Júpiter estava em oposição — isto é, alinhado com a Terra e o Sol — e seus
satélites naturais apareciam mais brilhantes nas observações. Dos 36 registros
feitos no dia 24 daquele mês, 19 foram examinados, levando à descoberta de três
luas em potencial, que se moviam entre 13 e 21 segundo de arco por hora durante
a noite.
Por serem pequenas, Ly não conseguiu encontrar duas dessas luas em
observações posteriores. No entanto, ela encontrou a terceira, provisoriamente
chamada de EJc0061, em registros de pesquisa entre os dias 25 a 27 de
fevereiro, e também nas imagens tiradas nos dias 5 e 6 daquele mesmo mês com o
Telescópio Subaru, localizado no Observatório de Mauna Kea, no Havaí. O arco de
dias indicava que o objeto estava ligado a Júpiter.
Com isso, Ly tinha dados suficientes para procurar a órbita dessa lua
em potencial em imagens registradas entre os dias 12 de março a 30 de abril
(ainda de 2003). “A partir daí, a qualidade da órbita e das efemérides era
decente o suficiente para que eu começasse a pesquisar observações após 2003”,
acrescenta. A confirmação da posição prevista do satélite veio através das
imagens pelo Telescópio Subaru, pelo CFHT e pelo Observatório Interamericano de
Cerro Tololo, obtidas até inicio de 2018. Com um brilho muito baixo, a
magnitude da lua varia entre 23,2 a 23,5. A escala de magnitude funciona da
seguinte maneira: quanto menor o número, maior é o brilho. Como exemplo, o
planeta Vênus, que aparece logo após o pôr do Sol nesta época do ano, tem
magnitude de - 3,8. Ou seja: 23,3 é um brilho bem fraco.
Ao fim das análises, a astrônoma amadora obteve um arco de 76
observações dividas em um período de 15,2 anos (aproximadamente 5.574 dias) — o
suficiente para que Ly considerasse a órbita da lua bem demarcada. O satélite,
temporariamente denominado S/2003 J24, agora aguarda por sua confirmação
oficial. Para David Tholen, da Universidade do Havaí, as informações já são
suficientes para mostrar que se trata de uma lua. “Seria quase impossível que
artefatos se encaixassem em uma órbita jovicêntrica em tantas noites diferentes
usando câmeras diferentes”, acrescenta Tholen.
A lua descoberta faz parte do conjunto de outros 22 satélites
conhecidos como o Grupo Retrógrado Carme, que orbitam Júpiter em direção oposta
à rotação do planeta, em períodos de até dois anos. Especialistas acreditam que
esse grupo ainda possa ter muitas outras companhias aguardando serem
descobertas. Para Ly, é um orgulho poder dizer que esta é a primeira lua
descoberta por uma astrônoma amadora. Graças aos dados públicos
disponibilizados pelos observatórios, a tendência é que mais astrônomos
amadores tenham o mesmo prazer de Ly ao descobrir uma lua no Sistema Solar.
Fonte: canaltech.com.br
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