Um enxame inteiro de buracos negros foi capturado movendo-se pela Via Láctea
Encontrar buracos negros é uma
tarefa desafiadora, não apenas por serem invisíveis, mas porque nem sempre eles
estão interagindo gravitacionalmente com algum outro objeto. Por isso, os
astrônomos assumem que eles podem estar em qualquer lugar, mas há um tipo de
local particularmente suspeito: os aglomerados de estrelas. E um deles, chamado
Palomar 5, pode abrigar um verdadeiro enxame de buracos negros.
Aglomerados estelares são estruturas muito antigas, nas quais todas as
estrelas nascem juntas, formadas a partir da mesma nuvem de gás. Além disso,
eles são densos, com algumas centenas de milhares de estrelas, ou até mesmo 1
milhão delas. Entretanto, o caso do Palomar 5 é curioso — ele tem estrelas
separadas por vários anos-luz, espalhando-se em um fluxo estelar que se estende
por 30.000 anos-luz!
Esses fluxos, criados por efeitos de marés, são como longas faixas de
estrelas espalhadas para longe de suas “casas” originais. Isso acontece por
causa da interação gravitacional com algum outro objeto. Por exemplo, algumas
galáxias anãs se aproximam tanto de outras galáxias maiores que suas estrelas
são arrancadas, formando um longo fluxo estelar, até que toda a galáxia anã
seja engolida pela galáxia maior.
Quando esses fluxos ocorrem em aglomerados dentro da nossa Via Láctea,
fica mais difícil saber o que causou o efeito de marés. Mas há uma hipótese
muito interessante: um aglomerado estelar que teve suas estrelas arrancadas por
algum objeto massivo. Para saber o que poderia ter criado esses fluxos, uma
equipe de astrônomos usou o Palomar 5 como objeto de estudos, porque é o único
aglomerado que tem comprovadamente um fluxo associado a ele.
A equipe usou simulações detalhadas para recriar as órbitas e evolução
de cada estrela do aglomerado para ver como elas poderiam ter chegado onde
estão, e incluíram buracos negros para ver se eles poderiam causar os fluxos do
Palomar 5. Os resultados mostraram que uma população de buracos negros de massa
estelar no aglomerado poderia ter resultado na formação que pode ser observada
hoje. As interações gravitacionais das estrelas com esses buracos negros teriam
lançado cada uma delas para fora do aglomerado, formando assim a trilha de
estrelas.
Para que algo assim possa acontecer, no entanto, é preciso um número
bem maior de buracos negros do que o previsto para um aglomerado como este,
porque à medida que as estrelas são “chutadas” para fora do aglomerado, a
proporção dos buracos negros em relação às estrelas aumenta. Assim, para
explicar o formato atual do Palomar 5 e seu fluxo estelar, seria necessário
cerca de 100 buracos negros que, juntos, representem mais de 20% da massa total
do aglomerado. "Cada um deles teria uma massa de cerca de 20 vezes a massa
do Sol”, disseram os pesquisadores.
Se a simulação estiver correta, o aglomerado se dissolverá
completamente em um bilhão de anos, sobrando apenas buracos negros orbitando o
centro da galáxia. Isso sugere que outros aglomerados globulares provavelmente
terão o mesmo destino. A hipótese faz sentido se pensarmos que uma grande parte
das fusões de buracos negros binários acontece em aglomerados de estrelas como
o Palomar 5, de acordo com o astrofísico Fabio Antonini, da Universidade de
Cardiff, no Reino Unido. A pesquisa foi publicada na Nature Astronomy.
Fonte: ScienceAlert
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