Astrónomos descobrem GRB mais curto alimentado por uma supernova
Os astrónomos descobriram o
GRB (gamma-ray burst, em português erupção de raios-gama) mais curto provocado
pela implosão de uma estrela massiva. Usando o Observatório Gemini, um programa
do NOIRLab da NSF (National Science Foundation), os astrónomos identificaram a
causa deste surto de raios-gama de 0,6 segundos como uma explosão de supernova
numa galáxia distante. Os GRBs provocados por supernovas têm geralmente mais do
dobro da duração, o que sugere que alguns GRBs curtos podem na verdade ser
impostores - GRBs disfarçados, produzidos por supernovas.
Esta ilustração mostra uma
estrela em colapso que produz dois jatos GRB curtos. Logo antes de uma estrela
colapsante explodir como supernova, observamos frequentemente uma erupção de
raios-gama caso os jatos estiverem apontados para a Terra. A maioria dos GRBs
produzidos por supernovas são "longos" (duram mais de dois segundos),
mas um chamado GRB 200825A foi "curto" (durante apenas 0,6 segundos).
Os astrónomos pensam que este, e possivelmente outros GRBs curtos produzidos
por supernovas, parecem ter duração curta porque os jatos de raios-gama não são
fortes o suficiente para escapar completamente à estrela. Isto produziria jatos
que são mais curtos tanto em comprimento quanto em duração. Crédito:
Observatório Gemini/NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva; processamento da imagem - M.
Zamani (NSF's NOIRLab)
Os GRBs estão entre os eventos mais brilhantes e energéticos do Universo, mas os cientistas ainda estão a tentar descobrir exatamente o que causa estes eventos passageiros. Os astrónomos dividem os GRBs em duas grandes categorias com base na sua duração. Os GRBs curtos ganham vida em menos de dois segundos e pensa-se que sejam provocados pela fusão de estrelas de neutrões binárias. Aqueles mais longos são classificados como GRBs longos e têm sido associados a explosões de supernova provocadas pela implosão de estrelas massivas. No entanto, a recente descoberta do GRB mais curto já produzido durante uma supernova mostra que os GRBs não encaixam perfeitamente nas caixas que os astrónomos criaram para eles.
"Esta descoberta
representa a emissão de raios-gama mais curta provocada por uma supernova
durante o colapso de uma estrela massiva," comentou Tomás Ahumada, que
liderou esta investigação e é doutorando na Universidade de Maryland e
astrónomo no Centro de Voo Espacial Goddard da NASA. "Durou apenas 0,6
segundos e ficou no limiar entre uma erupção de raios-gama bem-sucedida e uma
falhada."
A equipa pensa que este e
alguns outros GRBs associados a supernovas estão a parecer curtos porque os
jatos de raios-gama que emergem dos polos da estrela em colapso não são fortes
o suficiente para escapar completamente da estrela - quase falhando em produzir
um GRB - e que outras estrelas colapsantes têm jatos tão fracos que nem
produzem GRBs.
Esta descoberta também pode
ajudar a explicar um mistério astronómico. Os GRBs longos estão associados a um
tipo específico de supernova (de nome Tipo Ic-BL). No entanto, os astrónomos
observam muitas mais destas supernovas do que GRBs longos. Esta descoberta do
GRB mais curto associado a uma supernova sugere que alguns destes GRBs
despoletados por uma supernova estão a mascarar-se como GRBs curtos que se
pensa serem criados pelas fusões de estrelas de neutrões e, portanto, não estão
sendo contados como do tipo supernova.
"A nossa descoberta
sugere que, uma vez que observamos muitas mais destas supernovas do que GRBs
longos, a maioria das estrelas em colapso não consegue produzir um jato GRB que
rompe o invólucro externo da estrela em colapso," explicou Ahumada.
"Achamos que este evento foi efetivamente um quase falhado, que esteve
perto de não acontecer."
A equipa foi capaz de
determinar que este GRB - identificado como GRB 200826A - teve origem numa
explosão de supernova graças às capacidades do instrumento GMOS (Gemini
Multi-Object Spectrograph) do Gemini North no Hawaii. Os investigadores usaram
o Gemini North para obter imagens da galáxia hospedeira do GRB 28, 45 e 80 dias
após a primeira deteção do GRB no dia 26 de agosto de 2020 por uma rede de
observatórios que incluía o Telescópio Espacial de Raios-gama Fermi da NASA. As
observações do Gemini permitiram à equipa detetar o aumento revelador de
energia que assinala uma explosão, apesar da localização da explosão numa
galáxia a 6,6 mil milhões de anos-luz de distância.
"Este foi um esforço
complicado, pois precisávamos de separar a luz de uma galáxia já de si fraca da
luz de uma supernova," disse Ahumada. "O Gemini é o único telescópio
terrestre que consegue fazer observações de acompanhamento como esta com um
cronograma flexível o suficiente para nos permitir 'espremer' as nossas
observações."
Este resultado mostra que
classificar GRBs com base apenas na sua duração pode não ser a melhor
abordagem, e que são necessárias observações adicionais para determinar a causa
de um GRB.
"Estávamos originalmente
à procura de estrelas de neutrões em fusão, que supostamente produziam erupções
curtas de raios-gama," acrescentou Ahumada. "No entanto, assim que
descobrimos GRB 200826A percebemos que esta explosão era mais provável de ser provocada
por uma supernova de uma estrela em colapso, o que foi uma surpresa!"
"Os observatórios Gemini continuam a lançar luz sobre a natureza destas incríveis explosões que ocorrem por todo o Universo distante," disse Martin Still, oficial do programa Gemini da NSF. "A instrumentação dedicada, a ser implementada na próxima década, manterá a liderança do Gemini no acompanhamento destes eventos cósmicos inspiradores."
Fonte: Astronomia OnLine
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