Laniakea: um superaglomerado para chamar de lar
Esse trabalho teve como objetivo estudar como a matéria se organiza em grandes escalas (maiores do que a galáxia) e, consequentemente, encontrar uma definição clara e mensurável do que é um superaglomerado. Sabemos que em escalas muito grandes o Universo é uma intrincada rede formada por bolsões e filamentos de matéria intercalados por espaços vazios (voids).
As galáxias são encontradas em
grupos ou aglomerados que se interconectam em uma estrutura quase continua onde
não existia, até o momento, uma razão física clara para definir onde termina um
superaglomerado e onde começa outro. Tully e seus colaboradores encontraram uma
maneira clara de detectar as fronteiras de um superaglomerado através da
análise do movimento das galáxias. A técnica utilizada combina medidas de
distância com medidas de velocidade para identificar os superaglomerados. Essa
velocidade é chamada velocidade peculiar e já desconta o efeito da expansão
acelerada do Universo causada pela energia escura.
Para melhor visualizar esse efeito imagine uma grande rede de pesca colocada sobre um colchão d’água. Escolha dois pontos da sua rede e atribua a cada um desses pontos o peso de uma bola de boliche. O peso das bolas de boliche cria vales no colchão d’água, da mesma forma que grandes quantidades de massa criam poços de potencial gravitacional ao seu redor. Se agora transformarmos os filamentos da rede em trilhos e distribuirmos bolinhas de gude por esses trilhos, perceberemos que algumas bolinhas se moverão em direção a uma das bolas de boliche e outras em direção à outra, dependendo do seu posicionamento em relação às ondulações presentes no colchão.
Foi esse tipo de
movimento que os cientistas foram capazes de mapear. As bolinhas de gude, neste
exemplo, fazem o papel das galáxias e as bolas de boliche representam regiões
de grande concentração de matéria que influenciam o movimento de galáxias ao
seu redor, chamados atratores. Sendo assim, um superaglomerado pode ser
identificado como o conjunto de galáxias que tem seu movimento influenciado por
um determinado atrator.
A partir desse tipo de análise de movimento, foi possível perceber que
a nossa Via-Láctea é parte de um enorme grupo de objetos que se estende por 520
milhões de anos-luz e se encontra em movimento em direção a uma grande
concentração de matéria chamada Grande Atrator. Todas as galáxias que se movem
sob a influência do Grande Atrator fazem parte do nosso superaglomerado, Laniakea.
Da mesma forma, foi detectado outro grupo de galáxias que não segue esse
movimento, mas se dirige rumo a uma outra concentração de matéria e é chamado
de superaglomerado de Perceus-Pisces. Essa é a primeira definição clara de
superaglomerado e o mais detalhado mapa da nossa vizinhança no Universo.
Os cientistas destacam que o estudo está longe de ser a palavra
definitiva sobre a distribuição local de matéria. Ainda existem muitas questões
a serem respondidas, principalmente no que se refere a medidas vindas de
galáxias mais distantes e mais dados ainda estão sendo analisados. Estamos
apenas começando a conhecer nossos vizinhos mais próximos e a entender nosso
lugar no Universo. Mas já é um bom começo.
Fonte: cientistasdescobriramque.com
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