Laniakea: um superaglomerado para chamar de lar


 Astrônomos  foram capazes de detectar pela primeira vez os limites do superaglomerado do qual a nossa galáxia faz parte. Utilizando medidas de velocidade de mais de 8.000 galáxias, foi possível construir um mapa que determina o movimento de cada uma delas em relação às outras. A partir desse mapa foram identificados dois grandes grupos que seguem padrões de movimentos diferentes. A Via Láctea se encontra na fronteira entre esses grupos e pertence ao superaglomerado que os cientistas chamaram de Laniakea, do havaiano, paraíso imensurável. O estudo liderado por Brent Tully, da Universidade do Havaí, foi capa da edição de 4 de setembro de 2014 da revista Nature. 

Esse trabalho teve como objetivo estudar como a matéria se organiza em grandes escalas (maiores do que a galáxia) e, consequentemente, encontrar uma definição clara e mensurável do que é um superaglomerado. Sabemos que em escalas muito grandes o Universo é uma intrincada rede formada por bolsões e filamentos de matéria intercalados por espaços vazios (voids). 

As galáxias são encontradas em grupos ou aglomerados que se interconectam em uma estrutura quase continua onde não existia, até o momento, uma razão física clara para definir onde termina um superaglomerado e onde começa outro. Tully e seus colaboradores encontraram uma maneira clara de detectar as fronteiras de um superaglomerado através da análise do movimento das galáxias. A técnica utilizada combina medidas de distância com medidas de velocidade para identificar os superaglomerados. Essa velocidade é chamada velocidade peculiar e já desconta o efeito da expansão acelerada do Universo causada pela energia escura. 

Para melhor visualizar esse efeito imagine uma grande rede de pesca colocada sobre um colchão d’água. Escolha dois pontos da sua rede e atribua a cada um desses pontos o peso de uma bola de boliche. O peso das bolas de boliche cria vales no colchão d’água, da mesma forma que grandes quantidades de massa criam poços de potencial gravitacional ao seu redor. Se agora transformarmos os filamentos da rede em trilhos e distribuirmos bolinhas de gude por esses trilhos, perceberemos que algumas bolinhas se moverão em direção a uma das bolas de boliche e outras em direção à outra, dependendo do seu posicionamento em relação às ondulações presentes no colchão. 

Foi esse tipo de movimento que os cientistas foram capazes de mapear. As bolinhas de gude, neste exemplo, fazem o papel das galáxias e as bolas de boliche representam regiões de grande concentração de matéria que influenciam o movimento de galáxias ao seu redor, chamados atratores. Sendo assim, um superaglomerado pode ser identificado como o conjunto de galáxias que tem seu movimento influenciado por um determinado atrator. 

A partir desse tipo de análise de movimento, foi possível perceber que a nossa Via-Láctea é parte de um enorme grupo de objetos que se estende por 520 milhões de anos-luz e se encontra em movimento em direção a uma grande concentração de matéria chamada Grande Atrator. Todas as galáxias que se movem sob a influência do Grande Atrator fazem parte do nosso superaglomerado, Laniakea. Da mesma forma, foi detectado outro grupo de galáxias que não segue esse movimento, mas se dirige rumo a uma outra concentração de matéria e é chamado de superaglomerado de Perceus-Pisces. Essa é a primeira definição clara de superaglomerado e o mais detalhado mapa da nossa vizinhança no Universo. 

Os cientistas destacam que o estudo está longe de ser a palavra definitiva sobre a distribuição local de matéria. Ainda existem muitas questões a serem respondidas, principalmente no que se refere a medidas vindas de galáxias mais distantes e mais dados ainda estão sendo analisados. Estamos apenas começando a conhecer nossos vizinhos mais próximos e a entender nosso lugar no Universo. Mas já é um bom começo.

Fonte: cientistasdescobriramque.com

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