Astrônomo brasileiro descobre que antigo aglomerado de estrelas é binário
Conhecido como NGC 1695, sistema estelar é formado por dois aglomerados, um com 2 bilhões de anos e o outro, 600 milhões de anos
Imagem multicolor
WISE da região de pares de cluster NGC 1605 (Foto: Denilso Camargo)
Há 235 anos, o astrônomo alemão-inglês William Herschel descobriu um
aglomerado estelar aberto que ficou conhecido como NGC 1695. O sistema de
estrelas é um dos “moradores” da constelação de Perseus, no hemisfério norte da
Via Láctea. Um não, dois: segundo evidências levantadas por um novo estudo
brasileiro, na verdade, o NGC 1695 é composto por dois aglomerados — e não um,
como se imaginava anteriormente. Portanto, ele pode ser classificado como um
aglomerado binário.
Os aglomerados estelares binários abertos podem vir à luz por basicamente dois caminhos. O mais comum ocorre após o colapso de uma nuvem de gás e poeira gigante. O mais raro surge a partir de um encontro próximo de alta energia entre um aglomerado e outro — e esse é o caso do sistema binário recém-descoberto. Eles não são corpos celestes de relacionamento-duradouro (para os padrões galácticos, diga-se de passagem). Poucos permanecem gravitacionalmente ligados por 25 milhões de anos. E raros perduram por mais de 100 milhões de anos.
Mas o NGC 1695 veio para quebrar as regras: um dos aglomerados que o formam tem 2 bilhões de anos e o outro, 600 milhões de anos. “Nenhum sistema binário de aglomerados abertos velhos tinha sido descoberto na nossa Galáxia até agora”, explica Denilso Camargo, astrônomo e autor da descoberta, pré-publicada em artigo na revista científica Astrophysical Journal.
Após sobreviverem por algumas dezenas de milhões de anos, ou esses
corpos celestes se fundem, virando uma coisa só, ou se separam, cada um
seguindo seu próprio rumo na galáxia. Ao que tudo indica, os dois aglomerados
em questão — batizados por Carmago de NGC 1695a e NGC 1695b — devem se fundir:
parte de suas estrelas já estão sendo compartilhadas ou misturadas entre si.
A partir de imagens capturadas pela espaçonave WISE, da Nasa, e dados fotométricos coletados pelos objetos extragalácticos 2MASS e Gaia-EDR3, da agência espacial europeia (ESA), foi possível observar que ambos estão localizados à mesma distância da Terra (cerca de 8.300 anos-luz), com uma separação projetada de cerca de 5,9 anos-luz entre seus núcleos centrais.
'Encontro violento'
Além disso, a pesquisa sugere que os aglomerados em fusão estão sendo quebrados em sistemas menores. "Esses aglomerados já estavam debilitados pela idade e pela ação do disco da nossa Galáxia e do braço espiral de Perseus", diz Camargo. "E o encontro violento entre eles está sendo fatal, de modo que eles estão se fragmentando".
A descoberta é descrita pelo estudo como "extremamente importante". Isso porque encontros próximos entre aglomerados de estrelas são raros, assim como a formação subsequente de aglomerados binários. E mais improvável ainda é a fusão desses corpos celestes.
Camargo também considera que a nova descoberta "alivia a escassez
de pares de aglomerados binários" na Via Láctea quando em comparação com
as Nuvens de Magalhães. Estudar com afinco esses corpos raros é fundamental
para a compreensão da formação e evolução de nossa galáxia.
Fonte: GALILEU
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