Sustento da vida em planetas rochosos depende da idade, afirma estudo
Uma nova pesquisa afirma que os planetas rochosos podem sustentar a vida, desde que eles estejam na “idade” correta. A conclusão é atribuída a uma reação química simples – especificamente, ciclos alternantes de carbonato-silicato -, que oferece estabilidade ambiental para que a vida bacteriana não apenas apareça, mas possa evoluir.
Super Terras podem apresentar reações químicas similares às do nosso
planeta, o que fazem delas possivelmente habitáveis (Imagem:
AleksandrMorrisovich/Shutterstock)
O estudo, intitulado “Carbon cycling and habitability of massive Earth-like exoplanets” (na tradução: “Ciclos de carbono e a habitabilidade de exoplanetas massivos similares à Terra”), foi conduzido por Amanda Kruijver, Dennis Höning, and Wim van Westrenen, três cientistas planetários da Vrije Universiteit Amsterdam. O paper foi publicado no Planetary Science Journal. O estudo tira base do que ocorre com a própria Terra – ela própria, um planeta rochoso com idade “estudável”. Basicamente, existe uma certa consistência nos níveis de CO2 (gás carbônico) na nossa atmosfera, e isso se dá por um ciclo bastante demorado, porém relativamente simples: a princípio, o CO2 é removido da atmosfera ao reagir com vapores de água, formando ácido carbônico (H2CO3), que consegue dissolver rochas de silicato.
Essa dissolução é absorvida
pelos oceanos, formando rochas carbonáticas que afundam no mar, onde são
absorvidas e se tornam parte do manto da Terra.
“O que é mais importante de se atentar é a velocidade desse processo, e como ela depende da temperatura da superfície: se ela for mais quente, as reações aceleram e mais CO2 pode ser removido da atmosfera”, disse o Dr. Höning. “Considerando que o CO2 é um gás do efeito estufa, esse mecanismo esfria a superfície, causando estabilidade. Vale lembrar que isso, porém, precisa de muito tempo para ser eficiente – algo na ordem de centenas de milhares de anos ou até mesmo milhões de anos”.
Do início da Terra até hoje, o nosso planeta tem recebido cerca de 30%
mais energia do Sol que antigamente, em virtude da nossa estrela estar ficando
cada vez mais quente. Por essa razão, o nível de CO2 na atmosfera era maior em
eras antigas. A conclusão é a de que esse ciclo carbonato-silicato se torna
mais evidente conforme um planeta envelhece.
As conclusões do estudo servem de base para que especialistas possam,
futuramente, avaliar a capacidade de exoplanetas – ou seja, planetas com uma
configuração similar à da Terra – possam um dia ser habitáveis para o sustento
da vida humana.
Nas últimas décadas, a descoberta de corpos planetários nessas
condições tem aumentado consideravelmente: segundo a Nasa, ao todo, são 4531
planetas em 3363 sistemas estelares. Destes, 166 foram identificados como
planetas rochosos (ou “semelhantes à Terra”), ao passo que outros 1389 foram
classificados como “Super Terras” (configuração similar à nossa, porém muitas e
muitas vezes maiores que nós).
O processo acima é, como dissemos, uma reação química relativamente
simples em sua execução, então Höning não vê motivos para que ela não ocorra
também em outros corpos planetários. O denominador comum necessário para que
ela ocorra é a presença de água. Na Terra, ela é abundante (embora menos de
0,5% dela seja humanamente utilizável).
Cientistas também consideram a presença e o movimento de placas
tectônicas (partes importantes na ocorrência de terremotos) como um dos
possíveis gatilhos para a vida, por promoverem a chamada “terraformação”, ou
seja, a alteração da atmosfera, composição de superfície e configuração
planetária para se atingir um equilíbrio.
“Em nosso sistema solar, somente a Terra tem as placas tectônicas e,
consequentemente, o efeito de subducção”, disse Höning. “Ainda não sabemos a
razão por trás desse fato, embora já existam estudos neste campo — há teorias
que indicam que isso é relativo à composição rochosa, tamanho do planeta,
temperatura na superfície ou mesmo a existência de água líquida nessa
superfície”.
O acadêmico ainda continua, explicando que, se a reação química
descrita acima existisse sem o processo de subducção das placas tectônicas, os
carbonatos produzidos ficariam acumulados na superfície, deixando a reação
instável depois de milhões de anos. “Nós exploramos esse cenário em estudos
anteriores e descobrimos que o clima ainda seria regulado até certo ponto, mas
em um grau bem menor do que o que ocorreria com as placas tectônicas, como
teoriza o estudo atual”.
Com base nisso, os especialistas criaram modelos que consideram todos
os elementos da reação da Terra, alterando parâmetros para simulá-la em
planetas rochosos parecidos com o nosso e também nas Super Terras, com idade
variada. O que eles descobriram foi que, dependendo do aumento de massa, a
temperatura média da superfície seria maior, o que por sua vez alteraria a zona
habitável que circunda um planeta (a chamada “zona dos cachinhos dourados” –
basicamente, a área ao redor de uma estrela com boa chance de sustento à vida).
“Por exemplo, a pressão dentro de planetas massivos aumenta com mais
força à medida em que você vai mais fundo, já que a gravidade é maior e seu
efeito dura por mais tempo”, disse o Dr. Höning. “A pressão tem um efeito na
profundidade onde o derretimento [da rocha carbonática] começa, além da força
de convecção do manto, o que determina a velocidade de resfriamento. Então nós
atualizamos todos os modelos que pudessem ser sensíveis à massa de um planeta
e, assim, exploramos a influência desses parâmetros na habitabilidade de um
exoplaneta”.
Em termos mais simples: planetas rochosos com configuração e idade
similares à nossa, porém muito maiores, seriam habitáveis se estivessem a uma
distância maior de suas estrelas se comparado à nossa distância do Sol. Eles
teriam que estar mais longe do que nós.
Entretanto, os mesmos resultados não foram observados em planetas 10
vezes maiores (ou mais) que a Terra. Isso porque, segundo Hönnig, a pressão
desses planetas é tanta que a expulsão de CO2 pelos seus vulcões se torna menor
com o tempo: “entretanto, uma vez que o calor do interior não é dissipado de
forma eficiente, a expulsão de CO2 se torna mais poderosa em estágios mais
avançados da evolução. Infelizmente, nesse mesmo ponto, a luminosidade estelar
também terá aumentado, então o planeta se tornaria quente demais para que a
água líquida sobrevivesse”.
De qualquer forma, o modelo estabelece um parâmetro já conhecido para que cientistas avaliem a habitabilidade de um exoplaneta e, mais ainda, a sua capacidade de gerar e sustentar vida. Se o ciclo de carbonato-silicato se confirmar, então existirá otimismo na busca pela vida em outros planetas.
Fonte: Olhar Digital
Comentários
Postar um comentário
Se você achou interessante essa postagem deixe seu comentario!