Um planeta cujo ano dura apenas 16 horas pode nos ajudar a entender como planetas morrem

 A missão Transiting Exoplanet Survey Satellite (ou simplesmente TESS), conduzida pela NASA sob coordenação do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), descobriu um planeta que leva apenas 16 horas para girar em torno de sua estrela, o que sugere que ele está próximo de ser engolido pelo astro.

O “Júpiter quente” TOI-2109b é um planeta com órbita tão veloz que seu “ano” dura apenas 16 horas, intrigando cientistas que especulam sobre ele estar no “fim da vida” (Imagem: Dotted Yeti/Shutterstock)

Nomeado “TOI-2109b”, o exoplaneta é um gigante gasoso com cerca de cinco vezes a massa de Júpiter, mas ao contrário do nosso “peso pesado” – cuja órbita dura mais ou menos 12 anos terrestres, o recém-descoberto corpo planetário é tão veloz que completa um ano inteiro em menos tempo do que nós completamos um dia.  

O TOI-2109b é classificado como o que cientistas chamam de “Júpiter quente” – um tipo de exoplaneta de natureza gasosa, mas que traz órbitas aceleradas e temperaturas incrivelmente elevadas – neste caso, estamos falando de pouco mais de 3.300 ºC (Celsius), o que faz do TOI-2109b o segundo mais quente já detectado (o mais quente, a critério de curiosidade, é o KELT 9B, com obscenos 4.315 ºC). 

A velocidade com a qual se move, porém, é o ponto mais interessante aqui: a julgar pela duração de sua órbita, os cientistas acreditam que o TOI-2109b esteja em estado de “decadência orbital” – um momento no fim da vida de um corpo planetário onde sua órbita acelerada é indício de que ele esteja se aproximando mais e mais de sua estrela. 

Neste caso, acredita-se que o TOI-2109b deve, literalmente, “entrar” em sua estrela entre cinco e 10 milhões de anos – um prazo bastante curto considerando que quase tudo no espaço trabalha com escalas de tempo da ordem de bilhões de anos. 

“Em um ou dois anos, se tivermos sorte, talvez possamos detectar como o planeta se moveu para mais perto de sua estrela”, disse Ian Wong, recentemente graduado em seu pós-doutorado pelo MIT, membro do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA e co-autor do paper com detalhes da descoberta do planeta. 

“Dentro de nossa vida humana, nós não vamos ver o planeta ser engolido pela sua estrela. Mas dê a ele uns 10 milhões de anos, e ele poderá não estar mais lá”, ele comentou. Dada a sua natureza finita, o TOI-2109b pode nos ajudar a entender uma questão relativamente elusiva: como planetas morrem? 

A estrela pela qual ele transita – chamada “TOI-2109” (sem o “b”) – começou a ser observada pelo satélite TESS em maio de 2020. Localizada na constelação de Hércules, a 855 anos-luz da Terra, a estrela foi o “2109º objeto de interesse” do satélite da NASA – daí o seu nome. 

Ao longo do mês seguinte, a estrela foi monitorada no que tange à flutuação de sua luminosidade: breves alterações nessa carqacterística são indícios da passagem de um planeta por sua região. Após repetidas alterações, os operadores do satélite foram capazes de confirmar que a estrela hospeda um “objeto” que passa por ela a cada 16 horas. 

Depois de vários astrônomos e telescópios analisarem a descoberta por uma série de frequências diferenciadas, a comunidade científica confirmou tratar-se de um planeta – um que está a “apenas” 2,4 milhão de quilômetros (km) de distância de sua estrela. Para fins de comparação, Mercúrio, o planeta mais próximo do nosso Sol, está quase 58 milhões de km distante do astro. 

Outro ponto de interesse da descoberta é o fato de que o TOI-2109b parece ter sua rotação travada – em outras palavras, ao contrário da Terra, cujo ciclo de dia e noite varia conforme ela gira ao redor do próprio eixo (noite no Brasil, dia no Japão e vice-versa), esse “Júpiter quente” mostra sempre o mesmo lado para sua estrela. Em outras palavras, a noite e o dia não se alteram – igual à Lua em relação à Terra. Obviamente, isso se traduz em temperaturas muito altas no lado do “dia”. 

“Paralelamente, o brilho do lado noturno do planeta está abaixo da calibração mais sensível do satélite TESS, o que nos traz perguntas sobre o que de fato está acontecendo nessa parte”, disse Avi Shporer, astrofísico do MIT e co-autor do estudo. “Seria a temperatura ali muito fria [tal qual a nossa Lua]? Ou o planeta, de alguma forma, faz alguma transferência de calor do lado diurno para o noturno? Estamos no começo do processo de encontrar algumas respostas sobre esses planetas muito quentes”. 

“Planetas ‘ultraquentes’ [sic] como o TOI-2103b compõem uma classe secundária bastante extrema de exoplanetas”, disse Wong. “Nós só agora começamos a entender algumas das propriedades físicas e químicas que ocorrem em suas atmosferas — processos que no nosso próprio sistema solar não tem igual”. 

A expectativa é a de que o TOI-2109b seja observado com ferramentas mais poderosas, como os telescópios espaciais Hubble e James Webb – este último, com o lançamento recentemente adiado – para que o nível maior de detalhamento nos permite entender mais sobre os processos ocorridos dentro e ao redor desses planetas e sistemas. 

O paper foi publicado na edição mais recente do Astronomical Journal.

Fonte: Olhar Digital

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