Hubble analisa meteorologia extrema em Júpiteres ultraquentes
Astrónomos do Telescópio Espacial Hubble da NASA estudaram uma classe
única de exoplanetas ultraquentes. Estes mundos inchados, do tamanho de
Júpiter, estão tão precariamente perto da sua estrela-mãe que estão a ser
"assados" a temperaturas acima dos 1600º C. Isto é suficientemente
quente para derreter a maioria dos metais, incluindo o titânio. Têm as
atmosferas planetárias mais quentes alguma vez vistas.
Em dois novos artigos científicos, equipas de astrónomos do Hubble
estão a relatar condições meteorológicas bizarras nestes mundos abrasadores.
Está a chover rocha derretida num planeta e no outro a sua atmosfera superior
está a ficar mais quente em vez de fria porque está a ser "queimada"
pela radiação ultravioleta (UV) da sua estrela.
Esta investigação vai além de simplesmente encontrar atmosferas
planetárias estranhas. O estudo do clima extremo dá aos astrónomos uma melhor
compreensão da diversidade, complexidade e química exótica que se verifica em
mundos longínquos por toda a nossa Galáxia.
"Ainda não temos uma boa compreensão da meteorologia em diferentes
ambientes planetários," disse David Sing da Universidade Johns Hopkins em
Baltimore, no estado norte-americano de Maryland, coautor de um dos estudos
relatados. "Quando olhamos para a Terra, todas as nossas previsões
meteorológicas estão ainda muito bem ajustadas ao que podemos medir. Mas quando
olhamos para um exoplaneta distante, temos poderes de previsão limitados porque
não construímos uma teoria geral sobre como tudo acontece numa atmosfera e como
responde a condições extremas. Mesmo conhecendo a química e a física básicas,
não se sabe como se vai manifestar de formas complexas."
Num artigo publicado na edição de 7 de abril da revista Nature, os
astrónomos descrevem observações de WASP-178b pelo Hubble, localizado a cerca
de 1300 anos-luz de distância. No lado diurno a atmosfera não tem nuvens e é
enriquecida com gás monóxido de silício. Dado que um lado do planeta está
permanentemente virado para a sua estrela, a tórrida atmosfera é "chicoteada"
para o lado noturno a velocidades semelhantes às dos superfuracões, velocidades
estas que excedem 3200 km/h. No lado noturno, o monóxido de silício pode
arrefecer o suficiente para se condensar em rocha que "chove" a
partir de nuvens, mas mesmo ao amanhecer e ao anoitecer, o planeta é
suficientemente quente para vaporizar rocha. "Sabíamos que tínhamos visto
algo realmente interessante com esta característica do monóxido de
silício," disse Josh Lothringer da Universidade de Utah Valley em Orem.
Em comparação, na Terra, o ozono na atmosfera absorve a luz UV e
aumenta as temperaturas numa camada entre cerca de 11 e 50 quilómetros acima da
superfície da Terra. Em KELT-20b, a radiação UV da estrela está a aquecer
metais na atmosfera, o que faz com que a camada de inversão térmica seja muito
forte.
As evidências vieram da deteção de água pelo Hubble em observações no
infravermelho próximo, e da deteção de monóxido de carbono pelo Telescópio
Espacial Spitzer da NASA. Estes elementos são irradiados através da atmosfera
superior, quente e transparente, que é produzida pela camada de inversão. Esta
assinatura é única do que os astrónomos veem nas atmosferas de Júpiteres
quentes em órbita de estrelas menos quentes, como o nosso Sol. "O espectro
de emissão de KELT-20b é bastante diferente do de outros Júpiteres
quentes." disse Fu. "Isto é uma evidência convincente de que os
planetas não vivem isolados, mas são afetados pela sua estrela hospedeira."
Embora os Júpiteres superquentes sejam inabitáveis, este tipo de investigação ajuda a preparar o caminho para uma melhor compreensão das atmosferas dos planetas terrestres potencialmente habitáveis. "Se não conseguirmos descobrir o que está a acontecer nos Júpiteres superquentes onde temos dados observacionais sólidos, não vamos ter capacidade de descobrir o que está a acontecer em espectros mais fracos a partir da observação de exoplanetas terrestres," disse Lothringer. "Este é um teste às nossas técnicas, que nos permite construir uma compreensão geral das propriedades físicas tais como a formação de nuvens e a estrutura atmosférica."
Fonte: Astronomia OnLine
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