Depois de tirar uma foto do buraco negro da Via Láctea, cientistas sonham com vídeos

 Uma imagem do buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea, um gigante apelidado de Sagitário A *, revelado pelo Event Horizon Telescope em 12 de maio de 2022. (Crédito da imagem: colaboração do Event Horizon Telescope)

Os membros do projeto Event Horizon Telescope (EHT) estão se preparando para capturar vídeos de gases sendo engolidos por buracos negros. Após revelar a primeira imagem já produzida de Sagitário A* (ou apenas “Sgt A*”), o buraco negro da Via Láctea, os cientistas querem agora investigar a evolução dos discos de acreção destes objetos usando sequências de imagens capturadas repetidamente, que podem revelar mais sobre a evolução deles.

Katie Bouman, cientista da California Institute of Technology, observa que já houve tentativas de capturar sequências de imagens para produzir vídeos durante as observações de 2017, que renderam os dados das imagens dos buracos negros Sagitário A* e M87*. “Desenvolvemos algoritmos que nos permitiram produzir vídeos e os aplicamos aos dados”, acrescentou.

Apesar de terem encontrado resultados com potencial científico interessante, os cientistas notaram que precisam de mais dados antes de criar um vídeo propriamente dito. A coleta destes dados exige tempo e, para otimizá-la para os telescópios do EHT poderem trabalhar em outros programas de observação, os engenheiros estão aplicando melhorias técnicas que prometem agilizar o trabalho. 

A ideia é que, por volta de 2024, os cientistas consigam iniciar e suspender observações conforme necessário, aproveitando o tempo livre dos telescópios. “Você faz as suas observações, e então [os telescópios] podem voltar e trabalhar na ciência deles o restante do tempo”, disse Vicent Fish, astrofísico do Massachusetts Institute of Technology. 

Próximos passos do telescópio

Fish descreveu esta abordagem como “observações ágeis” e, embora o plano seja iniciá-las em cerca de dois anos, os cientistas do EHT ainda vão precisar de mais tempo para transformar os dados em vídeos. De qualquer forma, o primeiro objeto destas sequências será o buraco negro M87*, localizado no coração de uma galáxia a mais de 50 milhões de anos-luz da Terra.

Como é muito maior que Sagitário A*, as mudanças no anel de gases do buraco negro da M87 levam semanas ou até meses para serem visíveis, facilitando a produção dos vídeos. Outra vantagem das observações ágeis é a possibilidade de capturar emissões dos buracos negros, liberadas subitamente quando se alimentam de algum objeto azarado que se aproximou demais. 

O esperado é que, por enquanto, não surja nenhum vídeo de Sgt A*. Mas mesmo assim o buraco negro da Via Láctea continuará rendendo estudos para as equipes do EHT. “Nosso próximo passo será produzir imagens polarizadas de Sagitário A*, para vermos os campos magnéticos próximos do buraco negro e como eles são arrastados por ele”, explicou Michael Johnson, astrofísico do Harvard–Smithsonian Center for Astrophysics. 

Outro passo importante será aprimorar a nitidez das observações do EHT através da adição de novos telescópios; com mais unidades participando do projeto, a resolução e sensibilidade das observações pode aumentar, permitindo que os cientistas analisem ainda mais detalhes destes objetos distantes. 

Fonte: Space.com

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