Depois de tirar uma foto do buraco negro da Via Láctea, cientistas sonham com vídeos
Os membros do projeto Event Horizon Telescope (EHT) estão se preparando
para capturar vídeos de gases sendo engolidos por buracos negros. Após revelar
a primeira imagem já produzida de Sagitário A* (ou apenas “Sgt A*”), o buraco
negro da Via Láctea, os cientistas querem agora investigar a evolução dos
discos de acreção destes objetos usando sequências de imagens capturadas
repetidamente, que podem revelar mais sobre a evolução deles.
Katie Bouman, cientista da California Institute of Technology, observa
que já houve tentativas de capturar sequências de imagens para produzir vídeos
durante as observações de 2017, que renderam os dados das imagens dos buracos
negros Sagitário A* e M87*. “Desenvolvemos algoritmos que nos permitiram
produzir vídeos e os aplicamos aos dados”, acrescentou.
Apesar de terem encontrado resultados com potencial científico
interessante, os cientistas notaram que precisam de mais dados antes de criar
um vídeo propriamente dito. A coleta destes dados exige tempo e, para
otimizá-la para os telescópios do EHT poderem trabalhar em outros programas de
observação, os engenheiros estão aplicando melhorias técnicas que prometem
agilizar o trabalho.
A ideia é que, por volta de 2024, os cientistas consigam iniciar e
suspender observações conforme necessário, aproveitando o tempo livre dos
telescópios. “Você faz as suas observações, e então [os telescópios] podem
voltar e trabalhar na ciência deles o restante do tempo”, disse Vicent Fish,
astrofísico do Massachusetts Institute of Technology.
Próximos passos do telescópio
Fish descreveu esta abordagem como “observações ágeis” e, embora o
plano seja iniciá-las em cerca de dois anos, os cientistas do EHT ainda vão
precisar de mais tempo para transformar os dados em vídeos. De qualquer forma,
o primeiro objeto destas sequências será o buraco negro M87*, localizado no
coração de uma galáxia a mais de 50 milhões de anos-luz da Terra.
Como é muito maior que Sagitário A*, as mudanças no anel de gases do
buraco negro da M87 levam semanas ou até meses para serem visíveis, facilitando
a produção dos vídeos. Outra vantagem das observações ágeis é a possibilidade
de capturar emissões dos buracos negros, liberadas subitamente quando se alimentam
de algum objeto azarado que se aproximou demais.
O esperado é que, por enquanto, não surja nenhum vídeo de Sgt A*. Mas
mesmo assim o buraco negro da Via Láctea continuará rendendo estudos para as
equipes do EHT. “Nosso próximo passo será produzir imagens polarizadas de
Sagitário A*, para vermos os campos magnéticos próximos do buraco negro e como
eles são arrastados por ele”, explicou Michael Johnson, astrofísico do
Harvard–Smithsonian Center for Astrophysics.
Outro passo importante será aprimorar a nitidez das observações do EHT
através da adição de novos telescópios; com mais unidades participando do
projeto, a resolução e sensibilidade das observações pode aumentar, permitindo
que os cientistas analisem ainda mais detalhes destes objetos distantes.
Fonte: Space.com
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