O que você veria se sua nave acelerasse até a velocidade da luz?
Salto para o hiperespaço
Para os fãs de Guerra nas Estrelas, as estrelas transformando-se em
riscos sobre um fundo negro conforme a Millennium Falcon salta para o
hiperespaço é uma imagem canônica. Mas o que um piloto realmente veria se
pudesse acelerar em um instante através do vácuo do espaço até próximo à
velocidade da luz?
A previsão teórica mais aceita para isso é conhecida como efeito Unruh,
teorizado por William Unruh em 1976, que prevê que os viajantes superluminares
verão um "brilho quente", uma luz amarelada tomando conta de tudo, o
que também exigirá um bom escudo da nave, uma vez que essas partículas terão
alta energia.
A probabilidade de testar essa teoria é muito pequena, porque ver o
efeito exigiria enormes acelerações ou grandes quantidades de tempo de
observação: Um objeto teria que ser acelerado até a velocidade da luz em menos
de um milionésimo de segundo, algo equivalente a uma força G de um quatrilhão
(1015) de metros por segundo ao quadrado, enquanto um piloto de caça
normalmente experimenta uma força G de 10 m/s2.
Transparência induzida por
aceleração
Mas Barbara Soda e seus colegas da Universidade de Waterloo, no Canadá,
acreditam que dá para corrigir a cena de Guerra nas Estrelas sem precisar
construir uma nave espacial que se aproxime da velocidade da luz.
Em vez de observar o efeito espontaneamente, Soda propõe estimular o
fenômeno, de uma maneira que amplifica o efeito Unruh ao mesmo tempo em que
suprime outros efeitos concorrentes. A equipe compara sua ideia a lançar uma
capa de invisibilidade sobre outros fenômenos convencionais, o que deve revelar
o efeito Unruh, que é muito mais fraco.
Se essa "transparência induzida por aceleração" funcionar, a
estimativa é que o efeito possa ser observado em poucas horas.
"É um experimento difícil, e não há garantia de que seremos
capazes de fazê-lo, mas essa ideia é nossa esperança mais próxima. Agora, pelo
menos, sabemos que há uma chance em nossas vidas em que podemos realmente ver
esse efeito," disse o professor Vivishek Sudhir, do MIT, membro da equipe.
Trajetória transparente
Prevê-se que o efeito Unruh ocorra espontaneamente no vácuo. De acordo
com a teoria quântica de campos, o chamado vácuo quântico não é simplesmente um
espaço vazio, mas sim um campo de flutuações quânticas inquietas, com cada
banda de frequência medindo aproximadamente o tamanho de meio fóton. Unruh
previu que um corpo acelerando nesse vácuo pululante deve amplificar essas
flutuações, de uma forma que produz um brilho quente de partículas.
A equipe propõe aumentar a probabilidade de visualizar o efeito Unruh
adicionando luz ao cenário, uma abordagem conhecida como estimulação.
"Quando você adiciona fótons ao campo, está adicionando 'n' vezes
mais dessas flutuações do que esse meio fóton que está no vácuo," explicou
Sudhir. "Então, se você acelerar por esse novo estado do campo, esperaria
ver efeitos que também escalam 'n' vezes o que você veria apenas no
vácuo".
O problema é que os fótons adicionais também amplificariam outros
efeitos no vácuo quântico, como os chamados efeitos ressonantes, tipicamente
regidos pela mecânica clássica.
É aí que entra a transparência induzida pela aceleração: A equipe
demonstrou teoricamente que, se um objeto - como um átomo - puder acelerar com
uma trajetória muito específica através de um campo de fótons, o átomo vai
interagir com o campo de tal modo que fótons de uma determinada frequência
parecerão essencialmente invisíveis ao átomo.
O experimento consistirá então em traçar essa trajetória específica do
átomo, de tal forma que os demais efeitos fiquem "transparentes",
sobrando quase tão somente a radiação termal gerada pelo efeito Unruh.
Mão na massa
Os pesquisadores já têm algumas ideias de como projetar um experimento
com base em suas hipóteses: Eles planejam construir um acelerador de partículas
do tamanho de um laboratório, capaz de acelerar um elétron para perto da
velocidade da luz, que eles então estimulariam usando um feixe de laser em
comprimentos de micro-ondas. Eles estão procurando maneiras de projetar o
caminho do elétron para suprimir os efeitos clássicos, ao mesmo tempo
amplificando o efeito Unruh.
Na verdade, antes de tamanho investimento, seria bom se eles
conversassem com a equipe da professora Silke Weinfurtner, da Universidade de
Nottingham, que recentemente propôs estudar o vácuo quântico e o efeito Unruh
usando partículas de som, os fônons.
Fonte: Inovação Tecnológica
Comentários
Postar um comentário
Se você achou interessante essa postagem deixe seu comentario!