Observações do telescópio Webb podem estar sendo interpretadas incorretamente
Modelos insuficientes
O
Telescópio Espacial James Webb está revelando o Universo com uma clareza
espetacular e sem precedentes graças à sua visão infravermelha, que enxerga
através da poeira cósmica.
Além
de ver mais longe do que nunca, o Webb também irá capturar a visão mais detalhada
de corpos celestes em nossa própria galáxia - entre os mais esperados estão
alguns dos 5.000 exoplanetas já descobertos na Via Láctea.
Os
astrônomos pretendem tirar proveito da precisão na captura de luz do telescópio
para decodificar as atmosferas que cercam esses mundos, em busca de sinais de
habitabilidade - ou mesmo de indicadores de vida.
Mas
pesquisadores do MIT, nos EUA, mandaram um recado preocupante para os
cientistas que vão trabalhar na interpretação desses dados: As ferramentas mais
avançadas de que os astrônomos dispõem para decodificar sinais baseados em luz
não são boas o suficiente para interpretar os dados com a precisão que o novo
telescópio gera.
Especificamente,
os modelos de opacidade - as ferramentas que modelam como a luz interage com a
matéria em função das propriedades da matéria - podem precisar de ajustes
significativos para corresponder à precisão dos dados do Webb.
Se
esses modelos não forem refinados, as propriedades das atmosferas planetárias -
como temperatura, pressão e composição química - podem ficar erradas em uma
ordem de magnitude.
"Existe
uma diferença cientificamente significativa entre um composto como a água estar
presente em 5% versus 25%, que os modelos atuais não conseguem
diferenciar," disse Julien de Wit, membro da equipe.
"Atualmente,
o modelo que usamos para descriptografar informações espectrais não está à
altura da precisão e da qualidade dos dados que temos do telescópio James Webb.
Precisamos melhorar nosso jogo e enfrentar juntos o problema da
opacidade," acrescentou seu colega Prajwal Niraula.
O Webb já fotografou exoplanetas, mas os dados podem não estar sendo devidamente interpretados. [Imagem: NASA/ESA/CSA, A Carter (UCSC)/ERS 1386 team/A. Pagan (STScI)]
Opacidade
A
opacidade é uma medida da facilidade com que os fótons passam através de um
material. Os fótons de certos comprimentos de onda podem passar diretamente
através de um material, ser absorvidos ou refletidos de volta, dependendo de se
e como eles interagem com certas moléculas dentro de um material. Essa
interação também depende da temperatura e da pressão do material.
Um
modelo de opacidade funciona com base em várias suposições sobre como a luz se
comporta nessas interações. No contexto dos exoplanetas, um modelo de opacidade
pode decodificar o tipo e a abundância de elementos e compostos químicos na
atmosfera de um planeta com base na luz do planeta que um telescópio captura.
O
professor De Wit conta que o modelo de opacidade de última geração, que ele
compara a uma ferramenta de tradução, "fez um trabalho decente" de
decodificação dos dados espectrais obtidos por instrumentos como os do
telescópio espacial Hubble.
"Até
agora, esta Pedra de Roseta está indo bem. Mas agora que estamos indo para o
próximo nível com a precisão do Webb, nosso processo de tradução nos impedirá
de captar sutilezas importantes, como aquelas que fazem a diferença entre um
planeta ser habitável ou não," resume o pesquisador.
O telescópio Webb enxerga até nuvens de pedras preciosas nos exoplanetas. [Imagem: NASA/JPL-Caltech/Lizbeth B. De La Torre]
Consertos teóricos e de laboratório
Para
testar o modelo de opacidade mais usado, a equipe criou oito variações, que
eles chamam de "modelos perturbados. Eles descobriram que, com base nos
mesmos espectros de luz, cada modelo perturbado produz previsões para as
propriedades da atmosfera de um planeta com variações muito grandes.
A
equipe conclui que, se os modelos de opacidade existentes forem aplicados aos
espectros de luz obtidos pelo telescópio Webb, eles atingirão uma "parede
de precisão". Ou seja, eles não serão sensíveis o suficiente para dizer se
um planeta tem uma temperatura atmosférica de 20 ºC ou de 320 ºC, ou se um
determinado gás ocupa 5% ou 25% de uma camada atmosférica.
"Essa
diferença é importante para que possamos restringir os mecanismos de formação
planetária e identificar bioassinaturas de maneira confiável," disse
Niraula.
E
não é um problema que se resolva do dia para a noite. Para melhorar os modelos
de opacidade existentes, afirma a equipe, serão necessárias mais medições
laboratoriais e mais cálculos teóricos para refinar as suposições dos modelos
de como a luz e várias moléculas interagem, bem como colaborações entre
disciplinas e, em particular, entre a astronomia e a espectroscopia.
Fonte: Inovação Tecnológica
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