Galáxias plenamente formadas no Universo jovem desafiam teorias
Galáxias mais distantes já vistas
Uma
das grandes promessas do telescópio espacial James Webb é a capacidade de
enxergar mais longe do que qualquer outro instrumento já usado pela humanidade.
Encontrar galáxias com desvio para o vermelho igual a 11 era algo considerado impossível até agora. [Imagem: Haojing Yan/Bangzheng Sun/JWST]
E,
segundo nossa interpretação cosmológica atual, enxergar mais longe significa
enxergar o passado, vendo o Universo como ele era em sua infância, uma vez que
estamos vendo luzes que saíram de suas origens - estrelas e galáxias - há quase
tantos bilhões de anos quanto a idade do Universo.
A
grande expectativa era que, vendo o Universo tão jovem, veríamos os primórdios
das galáxias, dando aos astrônomos informações sobre como elas começaram a se
formar.
Tão
logo as primeiras imagens começaram a chegar, porém, houve um verdadeiro
estremecimento na comunidade científica: As galáxias mais distantes já vistas
pelo homem pareciam ser extremamente similares às mais próximas de nós, que são
muito mais velhas.
Os
primeiros cientistas que viram essas imagens rapidamente anunciaram que
teríamos que rever todo o nosso modelo padrão da cosmologia, uma vez que a descrição
que esse modelo faz do Universo não se sustentava com galáxias tão bem formadas
tão cedo, nascidas tão pouco tempo depois do Big Bang.
A
discussão se acalorou, mas as principais revistas publicaram artigos e
pareceres pedindo cautela, afirmando que seria necessário tempo para que as
imagens do James Webb fossem analisadas com o cuidado necessário. Só com a
publicação dos artigos científicos seria possível avaliar o impacto das novas
imagens.
E
assim se fez. Só que agora o momento chegou, e os primeiros resultados começam
a ser publicados em artigos científicos já devidamente analisados e revisados.
Mas,
ao que tudo indica, as primeiras impressões foram as que ficaram: Se queríamos
um telescópio que revolucionasse nosso conhecimento da cosmologia, nós
conseguimos.
Idade do Universo questionada
Os
dados publicados agora, chamados Divulgação das Primeiras Observações do JWST,
incluem a descoberta de 87 galáxias descritas como as "primeiras galáxias
conhecidas no Universo" - as mais antigas.
E
suas idades são inesperadas: Elas parecem ter surgido em uma janela temporal
entre 200 e 400 milhões de anos após o Big Bang. O problema é que, dentro do
modelo do Big Bang, isso é muito pouco tempo - nenhuma galáxia teria tido tempo
para se formar tão cedo.
Certamente continua sendo prematuro afirmar que as observações do Webb contestem o modelo do Big Bang, o que exigirá sobretudo análises mais aprofundadas dos espectros eletromagnéticos dessas galáxias formadas tão cedo - pode ser que elas tenham simplesmente se formado muito rápido, e sua "precocidade" estará estampada nos elementos químicos mais comuns em cada uma delas.
Contudo,
ao menos o processo de formação das galáxias precisará ser revisto.
"Encontrar
um número tão grande de galáxias nas partes mais primitivas do Universo sugere
que talvez precisemos revisar nossa compreensão anterior da formação de
galáxias," disse Haojing Yan, da Universidade de Missouri, nos EUA.
"Nossa descoberta nos dá a primeira indicação de que muitas galáxias podem
ter se formado no Universo muito antes do que se pensava."
"Houve
estudos anteriores enfatizando que vemos muitas galáxias com discos em desvios
para o vermelho elevados, o que é verdade, mas neste estudo também vemos muitas
galáxias com outras estruturas, como esferoides e formas irregulares, como
vemos em desvios para o vermelho mais baixos," destacou Jeyhan Kartaltepe,
do Instituto de Tecnologia Rochester. "Isto significa que, mesmo com esses
altos desvios para o vermelho, as galáxias já estavam bastante evoluídas e
tinham uma ampla gama de estruturas."
De
qualquer forma, estas observações dão fôlego a modelos alternativos, como os
que propõem que o Universo pode ser mais velho do que parece.
Desvio para o vermelho
Das 850 galáxias utilizadas no estudo e que haviam sido previamente identificadas pelo Hubble, 488 foram reclassificadas com diferentes morfologias depois de serem mostradas com mais detalhes pelo James Webb. [Imagem: SDSS/NASA/ESA/CSA/STScI]
De
posse das primeiras observações do James Webb, os astrônomos saíram em busca de
galáxias com desvios para o vermelho muito altos. O conceito de desvio para o
vermelho na astronomia permite medir a distância até objetos distantes
observando como as cores mudam conforme as ondas de luz que eles emitem viajam
até nós.
"Se
uma fonte emissora de luz está se movendo em nossa direção, a luz está sendo
'espremida', e esse comprimento de onda mais curto é representado pela luz
azul, ou desvio para o azul," explicou Yan. "Mas se essa fonte [de
luz] está se afastando de nós, a luz que ela produz está sendo 'esticada' e
muda para um comprimento de onda mais longo, que é representado pela luz
vermelha, ou desvio para o vermelho."
A
descoberta da expansão do Universo envolveu usar esse fenômeno para demonstrar
que as galáxias mais distantes estão se afastando de nós, e quanto mais
distantes estão, mais rápido estão se afastando. Assim, encontrar galáxias com
desvios para o vermelho muito altos dá aos astrônomos uma maneira de construir
a história inicial do Universo porque a distância pode ser relacionada à idade
desses objetos.
"A
velocidade da luz é finita, por isso leva tempo para a luz percorrer uma
distância até chegar até nós," explicou Yan. "Por exemplo, quando
olhamos para o Sol, não estamos olhando para ele como ele se parece no
presente, mas sim como ele parecia há oito minutos. Isso porque é esse o tempo
que leva para a radiação do Sol chegar até nós. Então, quando estamos olhando
para galáxias que estão muito distantes, estamos olhando para suas imagens de
muito tempo atrás."
As primeiras observações do Webb mostram galáxias com desvios para o vermelho iguais a 11, superior ao da galáxia mais antiga conhecida, que já havia questionado o Big Bang quando ela foi descoberta, há cerca de sete anos.
"Até a liberação desses primeiros conjuntos de dados do JWST [em meados de julho de 2022], a maioria dos astrônomos acreditava que o Universo deveria ter muito poucas galáxias com desvio para o vermelho acima de 11. No mínimo, nossos resultados desafiam essa visão. Acredito que essa descoberta é apenas a ponta do iceberg porque os dados que usamos focavam apenas em uma área muito pequena do Universo. Depois disso, prevejo que outras equipes de astrônomos encontrarão resultados semelhantes em outras partes das vastas extensões do espaço, pois o JWST continua a nos fornecer uma nova visão das partes mais profundas do nosso Universo," concluiu Yan.
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