Telescópios rastreiam asteroide após impacto da sonda DART
Relíquias inalteradas
Com
o auxílio do telescópio VLT, no Chile, duas equipes de astrônomos observaram o
resultado da colisão entre a sonda DART e o asteroide Dimorphos.
O
impacto intencional foi um teste de defesa planetária, mas constituiu
igualmente uma oportunidade única para aprendermos mais sobre a composição
deste asteroide a partir do material expelido.
"Os
impactos entre asteroides ocorrem naturalmente, no entanto nunca sabemos quando
vão ocorrer. A sonda DART deu-nos realmente uma excelente oportunidade para
estudar um impacto controlado, quase como se este tivesse ocorrido num
laboratório," comentou Cyrielle Opitom, da Universidade de Edimburgo, no
Reino Unido.
O
impacto ocorreu a 11 milhões de quilômetros de distância da Terra, o que é
suficientemente perto para que pudesse ser observado com detalhe por muitos
telescópios. Os quatro telescópios de 8,2 metros do Observatório Europeu do Sul
(ESO) foram voltados nessa direção na sequência do impacto, o que rendeu a
publicação de dois artigos científicos.
"Os
asteroides são relíquias bastante inalteradas do material que formou os
planetas e as luas do nosso Sistema Solar," disse Brian Murphy, também da
Universidade de Edimburgo. "O estudo da nuvem de material ejetado após o
impacto da DART pode, por isso, ajudar-nos a compreender melhor a formação do
nosso Sistema Solar."
Asteroide sem água
A
primeira equipe seguiu a evolução da nuvem de detritos durante um mês, fazendo
uso do instrumento MUSE (Multi Unit Spectroscopic Explorer) montado no VLT.
O
que se viu foi que a nuvem ejetada era mais azul do que o próprio asteroide
antes do impacto, o que indica que a nuvem era constituída por partículas muito
pequenas. Nas horas e dias que se seguiram ao impacto, foram-se desenvolvendo
outras estruturas, como nodos, espirais e uma longa cauda empurrada para longe
pela radiação solar. As espirais e a cauda eram mais vermelhas que a nuvem
original e, por isso, provavelmente eram compostas por partículas maiores.
O
MUSE permitiu que a equipe de Opitom separasse a luz emitida pela nuvem em um
padrão do tipo do arco-íris e procurasse as impressões digitais químicas dos
diferentes gases, com especial interesse no oxigênio e na água - infelizmente,
eles não encontraram nada.
"Não
se espera que os asteroides contenham quantidades significativas de gelo, por
isso detectar algum traço de água teria sido uma verdadeira surpresa,"
explicou Opitom. A equipe procurou também traços do combustível da sonda DART e
igualmente não encontrou nenhum.
Brilho incomum
A polarização da luz permite descobrir a composição da superfície do asteroide. [Imagem: ESO/Stefano Bagnulo et al. - 10.3847/2041-8213/acb261]
A
segunda equipa, liderada por Stefano Bagnulo, do Observatório e Planetário de
Armagh, no Reino Unido, estudou como o impacto da DART alterou a superfície do
asteroide.
"Quando
observamos objetos do Sistema Solar, estamos observando a luz solar que é
dispersada pelas suas superfícies ou pelas suas atmosferas, e que se encontra
parcialmente polarizada," explicou Bagnulo. "Isto significa que as
ondas de luz oscilam ao longo de uma direção privilegiada, e não aleatória. Ao
seguirmos como é que a polarização varia com a orientação do asteroide
relativamente a nós e ao Sol, podemos revelar a estrutura e a composição da sua
superfície."
O
instrumento FORS2 (FOcal Reducer/low dispersion Spectrograph 2), também montado
no VLT, mostrou que o nível de polarização diminuiu de repente após o impacto. Ao
mesmo tempo, o brilho total do sistema aumentou.
Uma
explicação possível é que o impacto teria exposto material mais primordial,
mais antigo, existente no interior do asteroide. "Talvez o material
escavado pelo impacto seja intrinsecamente mais brilhante e menos polarizante
que o material que se encontra na superfície, uma vez que nunca esteve exposto
ao vento e à radiação solares," sugeriu Bagnulo.
Outra
possibilidade é que o impacto teria destruído partículas na superfície do
asteroide, ejetando assim partículas menores na nuvem de detritos.
"Sabemos que, sob certas condições, os fragmentos menores são mais
eficientes em refletir a luz e menos eficientes em polarizá-la," explicou
Zuri Gray, membro da equipe.
Fonte: Inovação Tecnológica
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