Não, isto não é um buraco negro; é um sóliton topológico
Das equações à realidade - A detecção das ondas gravitacionais em
2015 abalou o mundo da astrofísica porque representou a primeira confirmação
observacional da existência dos buracos negros.
Esse corpo celeste esquisitão dobra o espaço-tempo, suga
quase tudo ao seu alcance, mas não é um buraco negro. [Imagem: Heidmann et al.
- 10.1007/JHEP08(2022)269]
Até
então, os buracos negros eram puramente construções matemáticas, corpos com uma
existência hipotética cuja possibilidade era retratada por meio de equações.
Inspirada
no sucesso dessa conversão de uma possibilidade teórica em uma observação real,
uma equipe da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, começou a explorar a
possibilidade de outros corpos celestes que poderiam produzir efeitos
gravitacionais semelhantes, mas que poderiam passar por buracos negros quando
observados com os sensores ultraprecisos que usamos para detectar os buracos
negros.
"Como
você pode dizer que está vendo ou não um buraco negro? Não temos uma boa
maneira de testar isso," justificou o professor Ibrahima Bah.
E os resultados não se fizeram esperar. - As novas simulações retratam realisticamente um objeto que a equipe chama de sóliton topológico. As simulações geram um objeto que parece a imagem borrada de um buraco negro, mas como algo totalmente diferente quando olhamos para o que deveria ser o centro totalmente escuro do buraco negro.
"Nós ficamos muito surpresos," disse o professor Pierre Heidmann, membro da equipe. "O objeto parece idêntico a um buraco negro, mas há luz saindo de seu centro escuro."
Sóliton topológico - Os sólitons são ondas que não perdem facilmente energia e nem o seu formato. O nome sóliton nasceu da expressão em inglês "solitary wave", onda solitária. Ela foi descoberta em um canal de água, mas hoje se sabe que, além de ondas, os sólitons são partículas complexas, o que tem permitido sua exploração tecnológica, sobretudo no magnetismo e na fotônica.
Quadro de filme mostrando os efeitos de lente gravitacional: (1) Nenhum objeto na linha de visão do observador, (2) um buraco negro e (3) o sóliton topológico. [Imagem: Pierre Heidmann/Johns Hopkins University]
Para
comparação, um pulso de luz - uma onda com picos e vales - quando transmitido
ao longo de uma fibra óptica, tende a perder força. É como se, depois de ter
percorrido um pequeno trecho, a onda de luz começasse a "ficar
achatada", até desaparecer. Já o sóliton mantém suas características por
um longo tempo, eventualmente precisando de uma barreira para se dissipar.
A
topologia, por sua vez, é uma extensão da geometria onde dois objetos são
considerados equivalentes se puderem ser continuamente deformados um no outro
sem precisar cortar, furar ou rasgar.
O
sóliton topológico cósmico previsto agora pelos pesquisadores distorce o espaço
exatamente como um buraco negro, mas se comporta de maneira diferente de um
buraco negro, embaralhando e liberando raios de luz fracos, que não escapariam
da forte força gravitacional de um buraco verdadeiro.
"A
luz é fortemente curvada, mas em vez de ser absorvida, como seria em um buraco
negro, ela se espalha em movimentos esquisitos até que, em um ponto, volta para
você de maneira caótica," detalhou Heidmann. "Você não vê uma mancha
escura. Você vê muito borrão, o que significa que a luz está orbitando
loucamente em torno desse estranho objeto."
Por
enquanto, o corpo celeste é apenas hipotético. Mas o fato de a equipe poder
construí-lo usando equações matemáticas e mostrar como ele se parece com
simulações sugere que pode haver outros tipos de corpos celestes no espaço
escondidos até mesmo dos melhores telescópios da Terra.
Gravidade quântica - Motivados por vários resultados da teoria das cordas, os pesquisadores descobriram uma maneira de construir sólitons topológicos usando a teoria da relatividade geral de Einstein.
Embora
os sólitons não sejam previsões de objetos novos, eles servem como os melhores
modelos de como os novos objetos de gravidade quântica poderiam se comportar -
em comparação com os buracos negros.
Os
cientistas já criaram modelos de estrelas de bósons, gravastares e outros
objetos hipotéticos que poderiam exercer efeitos gravitacionais semelhantes com
formas exóticas de matéria. Mas esta nova pesquisa explica as teorias dos
pilares do funcionamento interno do Universo que outros modelos não conseguem:
Segundo a equipe, a base para isto são equações da teoria das cordas que tentam
reconciliar a mecânica quântica com a teoria da gravidade de Einstein.
"É
o início de um maravilhoso programa de pesquisa," disse Bah.
"Esperamos no futuro poder propor genuinamente novos tipos de estrelas
ultracompactas consistindo em novos tipos de matéria a partir da gravidade
quântica."
Fonte:
Inovação Tecnológica
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