Corremos o risco de uma superexplosão no Sol?
Superexplosões - As erupções associadas às ejeções de massa coronal - comumente chamadas de explosões solares - liberam quantidades descomunais de energia, a ponto de impactar diretamente nosso planeta, causando maior ocorrência de auroras, blecautes nas comunicações por rádio, aumento do efeito de cintilação nos sinais de GPS, redução nas velocidades e altitudes dos satélites artificiais e por aí vai.
Representação artística de uma estrela com grande cobertura de manchas estelares e superexplosões. [Imagem: Casey Reed/Nasa]
É
claro que são poucas as explosões que causam danos significativos. Mas há
grandes preocupações em relação às erupções mais fortes dentre todas,
conhecidas como superexplosões, que liberam de 1.000 a 10.000 vezes mais
energia do que as maiores explosões tipicamente vistas no Sol.
Essas
superexplosões já foram detectadas em outras estrelas. Assim, tem havido grande
interesse em descobrir quais seriam as possibilidades de o Sol apresentar uma
explosão dessa proporção. Se as erupções de muito menor intensidade já impactam
tão fortemente nossa sociedade tecnológica, o que esperar de fenômenos
energéticos de tal magnitude?
Para
se ter uma ideia, estima-se que superexplosões seguidas sejam capazes de varrer
inteiramente a atmosfera de planetas que orbitem mais próximo da estrela.
Relação entre manchas e explosões estelares
Até agora, havia uma consideração intuitiva entre os astrônomos e astrofísicos de que, quanto mais explosões a estrela apresentar, maior será a probabilidade de ocorrência de superexplosões.
Mas
não foi isso o que descobriram Alexandre Araújo (Centro Integrado de Jovens e
Adultos de Campo Limpo) e Adriana Valio (Centro de Radioastronomia e
Astrofísica Mackenzie), conforme estudavam duas estrelas do tipo solar: a
Kepler-411 e a Kepler-210.
Para
surpresa dos pesquisadores, mesmo as duas estrelas sendo semelhantes em todos
os aspectos, desde as massas até os períodos de rotação e os sistemas
planetários, e de ambas apresentarem em torno de 100 manchas, a primeira
produziu 65 supererupções, enquanto a segunda não produziu nenhuma - as manchas
solares são o principal indicador usado hoje nas pesquisas de clima espacial
para rastrear indícios de erupções iminentes.
"Pelo
conhecimento que se tinha da literatura, as estrelas com manchas maiores teriam
mais chance de produzir superexplosões, mas não foi isso que observamos. As
manchas estelares da Kepler-411 são muito menores do que as da Kepler-210.
Teoricamente, seria esta que deveria ter superexplosões, mas isso não acontece.
Nossa
explicação para a inexistência de superexplosões na Kepler-210, mesmo com
grandes manchas na sua superfície, está na complexidade magnética, na evolução
e no tempo de vida das manchas," disse Alexandre.
Será que as erupções solares podem destruir a Terra? [Imagem: David Hathaway/NASA/MSFC]
Manchas solares não explicam superexplosões
As manchas solares, que aparecem na superfície do Sol, chamada fotosfera, são causadas por campos magnéticos muito fortes, e podem durar de alguns dias a várias semanas.
"Sua
formação começa com um campo magnético gerado pelo movimento de partículas
eletricamente carregadas na tacoclina, fina camada compreendida entre as
regiões radiativa e convectiva do interior solar. Ao emergirem na superfície do
Sol, os tubos de fluxo magnético criam regiões de campo intenso, que bloqueiam
a transferência de calor do interior para a superfície. As manchas são escuras
porque sua temperatura é 1.000 a 1.500 graus menor do que a temperatura do
resto da superfície," explicou Adriana.
A
hipótese mais plausível seria então que a detecção de supererupções estaria
diretamente ligada à cobertura temporal das manchas na superfície das estrelas;
e que, quanto maior a área das manchas estelares, maior seria o armazenamento
de energia magnética para produzir a explosão, aumentando a probabilidade de
uma superexplosão.
"Nossos
resultados trouxeram uma perspectiva um pouco diferente. Como já foi dito, na
Kepler-411, detectamos 65 supererupções, com energias de até 1.035 ergs [1.035
x 107 quilojoules]. Enquanto a Kepler-210 não apresentou nenhuma supererupção,
mesmo com o dobro de cobertura temporal, o que nos deu maior probabilidade de observação.
E o que mais nos surpreendeu foi o fato de os raios das manchas estelares da
Kepler-411 serem muito menores do que os da Kepler-210," detalhou
Alexandre.
Magnetograma
Uma nova hipótese, levantada pela dupla, é que, a despeito de serem maiores em área, as manchas da Kepler-210 apresentariam uma configuração magnética mais simples.
"No
Sol, as manchas são classificadas de acordo com o comportamento do campo
magnético na área. E classificadas como alfa (α), beta (β), gama (γ) e delta
(δ), ou por meio de uma combinação dessas configurações. As manchas deltas são
as que apresentam intensa atividade de erupções solares.
Acreditamos
que as manchas da Kepler-210 apresentem uma configuração magnética mais
simples, do tipo alfa ou beta. Infelizmente, a confirmação exata dessa hipótese
só seria possível por meio de magnetogramas, que são imagens capazes de
detectar a localização e a intensidade dos campos magnéticos. Atualmente, só
conseguimos observar isso no Sol. Ainda não temos tecnologia para obter magnetogramas
de estrelas distantes," detalhou Adriana.
Assim,
focar na contagem e nas medição das manchas solares não parece ser um caminho
adequado para prever alguma eventual superexplosão no Sol. "De qualquer
forma, nosso estudo já nos permite dizer que, em vez de fechar o foco na área
das manchas estelares, talvez seja mais produtivo considerar a complexidade
magnética das regiões ativas [para explicar as superexplosões]," concluiu
Adriana.
Fonte: Inovação Tecnológica
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