O Universo inteiro vai evaporar, e não apenas os buracos negros
Evaporação cósmica
As
flutuações naturais e constantes que permeiam o espaço vazio dão origem
espontaneamente a pares de partículas e antipartículas - é por isso que agora
os físicos falam sobre o vácuo quântico, já que ele nunca está inteiramente
vazio, como poderia estar no conceito que vigorou por milênios.
As teorias para a extração de energia dos buracos negros também poderão se tornar mais genéricas. [Imagem: ParallelVision/Pixabay]
Normalmente
esses pares se aniquilam rapidamente, por isso são chamadas de partículas
virtuais. Mas um campo de energia forte o bastante consegue separar os membros
de um par por tempo suficiente para que sua existência se torne real - é por
isso que é possível criar luz e matéria a partir do vácuo ou mesmo energia
negativa.
Os
cientistas usam lasers para criar essas partículas do nada em laboratório, mas
esse é um fenômeno que pode acontecer sob qualquer campo de energia forte o
suficiente - ao redor dos buracos negros por exemplo.
Stephen
Hawking foi quem percebeu que, se um par partícula-antipartícula vier à
existência perto do horizonte de eventos de um buraco negro, o campo
gravitacional descomunal pode desfazer esse par, deixando um dos membros cair
no buraco negro, enquanto o outro escapa.
Essa
é a famosa evaporação do buraco negro, que quebrou a noção anterior de que nada
poderia escapar desses monstros devoradores de mundos - o material que escapa é
conhecido como radiação Hawking, uma espécie de "brilho dos buracos
negros".
Mas
esta parece não ser toda a história. Na verdade, a descoberta de Hawking parece
ser apenas um caso especial de um fenômeno geral.
Esquema do mecanismo de produção de partículas em um espaço-tempo de Schwarzschild. A taxa de eventos de produção de partículas é maior em pequenas distâncias, enquanto a probabilidade de escape (representada pelo aumento do cone de escape) é maior em grandes distâncias. [Imagem: Michael F. Wondrak et al. - 10.48550/arXiv.2305.18521]
Não são só os buracos negros que evaporam
Um
trio de pesquisadores da Universidade Radboud, nos Países Baixos, demonstrou
agora que o fenômeno da evaporação cósmica pode de fato acontecer em um
horizonte de eventos, mas nem de longe depende da presença dessa fronteira.
Eles
combinaram técnicas de física, astronomia e matemática para examinar em maiores
detalhes o que acontece quando esses pares de partículas virtuais são criados
nos arredores dos buracos negros. Os resultados mostraram que novas partículas
podem na verdade ser criadas e separadas em uma faixa muito mais ampla, muito
além do horizonte de eventos.
"Demonstramos
que, além da conhecida radiação Hawking, também existe uma nova forma de
radiação," disse Michael Wondrak, membro da equipe.
Ao
levar em conta todos os caminhos que um par de partículas virtuais poderia
tomar durante sua breve existência, as novas equações mostraram que um campo
suficientemente forte desestabiliza o vácuo, o que torna alguns caminhos mais
prováveis do que outros. Isso leva a um déficit de parceiros para se recombinar
e se destruir.
Essa
descompensação entre partículas de matéria e antimatéria é compensada então por
uma saída líquida de partículas, que se tornaram partículas reais, criando
assim um jato de radiação.
"Isso
significa que objetos sem um horizonte de eventos, como restos de estrelas
mortas e outros grandes objetos do Universo, também possuem esse tipo de
radiação. E, depois de um período muito longo, isso faria com que tudo no
Universo acabe evaporando, assim como os buracos negros. Isso muda não apenas
nossa compreensão da radiação de Hawking, mas também nossa visão do Universo e
do seu futuro," concluiu o professor Heino Falcke.
Fonte: Inovação Tecnológica
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