JWST desvenda as estrelas mais pequenas da nossa Galáxia e ajuda a resolver mistério dos enxames
Utilizando observações do Telescópio Espacial James Webb (JWST), uma equipe internacional de astrónomos liderada por Tuila Ziliotto, estudante de doutoramento na Universidade de Pádua, analisou as estrelas mais pequenas do antigo enxame globular M92.
Imagem
do enxame globular Messier 92 (M92) captada pelo instrumento NIRCam do
Telescópio Espacial James Webb. A faixa preta no centro é o resultado da
separação entre os dois detetores de longo comprimento de onda do NIRCam.Cobre
o centro denso do enxame, que é demasiado brilhante para ser captado ao mesmo
tempo que os arredores mais fracos e menos densos do enxame. A imagem abrange
cerca de 5 minutos de arco (39 anos-luz). Crédito: NASA, ESA, CSA, Alyssa Pagan
(STScI)
Como
blocos de construção das galáxias, os enxames de estrelas desempenham um papel
fundamental na sua formação e evolução, mas muito sobre a sua origem permanece
envolto em mistério. Uma descoberta intrigante foi a existência de diferentes
grupos de estrelas com diferentes composições químicas dentro do mesmo enxame.
A origem deste fenómeno representa um dos maiores problemas em aberto na
astrofísica estelar, e as estrelas de massa muito baixa são uma das chaves para
resolver este enigma.
No
passado, os astrónomos pensavam que todos os enxames estelares eram compostos
apenas por uma população estelar simples: todas as estrelas dos enxames eram
formadas simultaneamente a partir da mesma nuvem molecular, com a mesma
composição química. Atualmente, sabemos que o quadro geral é muito mais
complexo: quase todos os enxames apresentam variações na composição química.
Os
astrónomos desenvolveram várias hipóteses para tentar explicar este fenómeno
intrigante, que podem ser categorizadas em dois grupos concorrentes. O
primeiro, conhecido como o cenário multigeracional, sugere que os enxames
sofreram explosões sucessivas de formação estelar. As primeiras estrelas
formadas no interior do enxame libertariam material para o gás circundante.
Este gás enriquecido entraria em colapso, formando novas gerações de estrelas,
que apresentariam as variações químicas em relação à primeira geração que
observamos atualmente.
O
segundo cenário propõe uma única geração de estrelas no interior do enxame,
atribuindo as variações químicas observadas à acreção de material ejetado por
estrelas mais massivas sobre as estrelas do enxame. De acordo com esta
hipótese, a quantidade de material acretado é proporcional à massa da estrela,
com as estrelas de maior massa a acrescentarem mais material do que as suas
congéneres de menor massa devido à influência da gravidade.
Consequentemente,
as variações químicas que observamos atualmente entre as estrelas apresentariam
padrões distintos entre as estrelas de baixa e alta massa, de acordo com este
cenário. O problema é que, antes do JWST, devido a limitações instrumentais, a
maioria dos estudos de enxames de estrelas centrava-se nas estrelas mais
massivas.
Agora,
com o JWST, estamos a conseguir estudar com grande precisão as estrelas menos
massivas da nossa Galáxia, até ao limite da queima de hidrogénio, que marca a
fronteira entre as estrelas e as anãs castanhas", diz Tuila Ziliotto, que
liderou o estudo publicado na revista The Astrophysical Journal. "Desta
forma, podemos medir as variações químicas das estrelas de baixa massa e
compará-las com as das estrelas de alta massa para determinar qual o cenário
correto", conclui.
A
equipa de astrónomos utilizou observações feitas com filtros fotométricos do
instrumento NIRCam (Near Infrared Camera) do JWST para medir as variações de
oxigénio e hélio entre as estrelas de baixa massa de M92. "Estas estrelas
muito pequenas têm superfícies suficientemente frias para albergarem vapor de
água nas suas atmosferas.
Nestas
estrelas, a maior parte do oxigénio está presente nas moléculas de água. É por
isso que utilizamos os filtros infravermelhos do JWST, que são muito sensíveis
às moléculas de água, para inferir o conteúdo de oxigénio destas
estrelas", explica Anjana Mohandasan, estudante de doutoramento em Pádua,
coautora do trabalho.
"As
variações químicas entre as estrelas de massa muito baixa de M92 alinham-se com
as encontradas nas estrelas gigantes", conclui Ziliotto. Esta descoberta
representa um desafio significativo para os cenários de acreção e apoia as
hipóteses que defendem múltiplos episódios de formação estelar no interior do
enxame, marcando um passo em frente na nossa compreensão dos intrincados
processos de formação dos enxames estelares.
Fonte:
Astronomia OnLine
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