Missão Fermi da NASA não vê raios gama de supernova próxima
Uma supernova próxima, em 2023, forneceu aos astrofísicos uma excelente oportunidade para testar ideias sobre a forma como este tipo de explosões impulsiona partículas, designadas por raios cósmicos, até perto da velocidade da luz.
Mas, surpreendentemente, o
Telescópio Espacial de Raios Gama Fermi da NASA não detetou os raios gama
altamente energéticos que essas partículas deveriam produzir.
O telescópio de 48 polegadas do Observatório Fred Lawrence Whipple captou esta imagem, no visível, da galáxia Messier 101 em junho de 2023. A localização da supernova 2023ixf está assinalada com um círculo. O observatório, situado no Monte Hopkins, no estado norte-americano do Arizona, é operado pelo Centro de Astrofísica | Harvard & Smithsonian. Crédito: Hiramatsu et al. 2023/Sebastian Gomez (STSCI)
No dia 18 de maio de 2023
apareceu uma supernova na vizinha galáxia do Cata-vento (Messier 101), situada
a cerca de 22 milhões de anos-luz de distância na direção da constelação da
Ursa Maior. Designada SN 2023ixf, é a supernova mais luminosa descoberta nas
proximidades da Via Láctea desde o lançamento do Fermi em 2008.
"Os astrofísicos estimaram
anteriormente que as supernovas convertem cerca de 10% da sua energia total na
aceleração de raios cósmicos", disse Guillem Martí-Devesa, investigador da
Universidade de Trieste, em Itália. "Mas nunca observámos este processo
diretamente.
Com as novas observações de SN
2023ixf, os nossos cálculos resultam numa conversão de energia tão baixa quanto
1% poucos dias após a explosão. Isto não exclui a possibilidade de as
supernovas serem fábricas de raios cósmicos, mas significa que temos mais a
aprender sobre a sua produção".
O estudo, liderado por
Martí-Devesa na Universidade de Innsbruck, Áustria, será publicado numa futura
edição da revista Astronomy and Astrophysics.
Todos os dias, biliões de raios
cósmicos colidem com a atmosfera da Terra. Cerca de 90% são núcleos de
hidrogénio - ou protões - e os restantes são eletrões ou núcleos de elementos
mais pesados.
Os cientistas têm vindo a
investigar as origens dos raios cósmicos desde o início do século XX, mas não é
possível identificar as suas fontes. Como são eletricamente carregados, os
raios cósmicos mudam de rumo quando chegam à Terra, graças aos campos magnéticos
que encontram.
"Os raios gama, no entanto,
viajam diretamente para nós", disse Elizabeth Hays, cientista do projeto
Fermi no Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, no estado
norte-americano de Maryland. "Os raios cósmicos produzem raios gama quando
interagem com a matéria no seu ambiente. O Fermi é o telescópio de raios gama
mais sensível em órbita, por isso, quando não deteta um sinal esperado, os
cientistas têm de explicar a sua ausência.
A resolução deste mistério
permitirá construir uma imagem mais exata das origens dos raios cósmicos".
Os astrofísicos há muito que suspeitam que as supernovas são as principais
contribuintes dos raios cósmicos.
Estas explosões ocorrem quando
uma estrela com pelo menos oito vezes a massa do Sol fica sem combustível. O
núcleo colapsa e depois recupera, impulsionando uma onda de choque para o
exterior através da estrela. A onda de choque acelera as partículas, criando os
raios cósmicos. Quando os raios cósmicos colidem com outra matéria e com a luz
que rodeia a estrela, geram raios gama.
As supernovas têm um grande
impacto no ambiente interestelar de uma galáxia. As suas ondas de explosão e a
nuvem de detritos em expansão podem persistir durante mais de 50.000 anos. Em
2013, as medições do Fermi mostraram que os remanescentes de supernova na nossa
Galáxia, a Via Láctea, estavam a acelerar os raios cósmicos, que geravam raios
gama quando atingiam a matéria interestelar. Mas os astrónomos dizem que os
remanescentes não estão a produzir partículas altamente energéticas suficientes
para corresponder às medições dos cientistas na Terra.
Uma teoria propõe que as
supernovas podem acelerar os raios cósmicos mais energéticos da nossa Galáxia
nos primeiros dias e semanas após a explosão inicial. Mas as supernovas são
raras, ocorrendo apenas algumas vezes por século numa galáxia como a Via
Láctea. Até distâncias de cerca de 32 milhões de anos-luz, uma supernova
ocorre, em média, apenas uma vez por ano.
Após um mês de observações, a
partir do momento em que os telescópios óticos viram pela primeira vez SN
2023ixf, o Fermi não tinha detetado raios gama.
"Infelizmente, não ver raios
gama não significa que não existam raios cósmicos", disse o coautor
Matthieu Renaud, astrofísico do Laboratório do Universo e Partículas de
Montpellier, parte do CNRS (Centre national de la recherche scientifique) em
França. "Temos de analisar todas as hipóteses subjacentes aos mecanismos
de aceleração e às condições ambientais para converter a ausência de raios gama
num limite superior para a produção de raios cósmicos".
Os investigadores propõem alguns
cenários que podem ter afetado a capacidade do Fermi para ver raios gama do
evento, como por exemplo a forma como a explosão distribuiu os detritos e a
densidade do material em torno da estrela.
As observações do Fermi
constituem a primeira oportunidade para estudar as condições imediatamente após
a explosão de supernova. Observações adicionais de SN 2023ixf noutros
comprimentos de onda, novas simulações e modelos baseados neste acontecimento e
estudos futuros de outras supernovas jovens ajudarão os astrónomos a descobrir
as misteriosas fontes dos raios cósmicos do Universo.
Fonte: science.nasa.gov
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