Dois novos telescópios espaciais futuristas verão o que não vemos hoje
Entre os projetos que a NASA
promoveu para a Fase 2 de Conceitos Avançados Inovadores (NIAC) estão dois
telescópios espaciais, um com um conceito radical de lente líquida e outro
baseado em múltiplos satélites para observação em um comprimento de onda que os
astrônomos ainda têm dificuldade em captar.
Representação artística do Grande Observatório de Comprimentos de Onda Longos (GO-LoW). [Imagem: Mary Knapp]
Grande Observatório para
Longos Comprimentos de Onda
A humanidade nunca viu o céu em
baixas frequências de rádio porque a ionosfera da Terra impede que essas
energias cheguem aos telescópios no solo, e é difícil captá-las do espaço com
observatórios tradicionais devido aos longos comprimentos de onda envolvidos,
que vão da escala de metro a quilômetro - seriam necessários telescópios
grandes demais para serem factíveis.
É uma pena porque a radiação
eletromagnética nessas baixas frequências carrega informações cruciais para
estudar o meio interestelar e intergaláctico, e o campo magnétido das estrelas
e dos exoplanetas, neste último caso um elemento crucial para sua habitabilidade.
O projeto Go-LOW (Great
Observatory for Long Wavelengths, ou Grande Observatório para Longos
Comprimentos de Onda) pretende fechar esta lacuna construindo uma matriz
interferométrica de milhares de microssatélites idênticos, estacionados em um
ponto Lagrange Terra-Sol (provavelmente o L5) para detectar emissões de rádio
em frequências entre 100 kHz (comprimento de onda de 3 metros) e 15 MHz
(comprimento de onda de 20 metros).
A interferometria é uma técnica
que combina sinais de muitos receptores espacialmente separados para formar um
grande telescópio "virtual", sendo ideal para a astronomia de
comprimentos de onda longos - é essa técnica que está sendo usada para formar
um radiotelescópio virtual do tamanho da Terra e fazer imagens de buracos
negros.
Cada satélite carregará ainda uma
inovadora antena vetorial, que permitirá o primeiro levantamento de campos
magnéticos exoplanetários.
Os sistemas individuais de antena
e receptor são simples e dispensam grandes estruturas, tornando o conceito
muito mais barato do que um único e grande telescópio espacial, como o Hubble e
o James Webb. Além, disso, o espaçamento muito grande entre os elementos da
rede fornece uma resolução espacial muito grande, impraticável de se obter com
um único observatório.
"A tecnologia necessária
para cada peça individual do observatório (por exemplo, comunicação a laser,
cubesats, alcance, cronometragem, transferência de dados, processamento de
dados, propagação de órbita) não é um grande salto em relação ao estado da arte
atual, mas a coordenação de todos esses elementos físicos, produtos de dados e
sistemas de comunicação é novo e desafiador, especialmente em grande
escala," disse Mary Knapp, do MIT, que coordena o projeto.
Representação artística do Telescópio Fluídico (FLUTE). [Imagem: Edward Balaban]
Telescópio espacial com lente líquida
O segundo observatório é chamado
FLUTE (Fluidic Telescope Experiment, ou Experimento do Telescópio Fluídico), um
projeto que está sendo realizado no Centro de Pesquisas Ames, da NASA.
Telescópios maiores coletam mais
luz e permitem enxergar mais longe no espaço e observar objetos distantes e
pouco luminosos com mais detalhes. O problema é levar esses grandes telescópios
ao espaço. É aí que entram as lentes líquidas, que podem ser montadas lá mesmo
no espaço, permitindo construir telescópios muito maiores.
As lentes líquidas já são usadas
em diversas aplicações aqui na Terra, incluindo microscópios e óculos, mas
sempre em pequenas dimensões porque não é fácil controlar um líquido. Mas, uma
vez controladas, essas lentes podem ser gigantescas e únicas, diferentes dos
segmentos de espelhos usados em telescópios como o James Webb.
"O projeto FLUTE visa
superar as limitações das abordagens atuais, abrindo caminho para observatórios
espaciais com espelhos primários líquidos não segmentados de grande abertura,
adequados para uma variedade de aplicações astronômicas. Esses espelhos seriam
criados no espaço através de uma nova abordagem baseada na modelagem fluídica
em microgravidade, que já foi demonstrada com sucesso em um ambiente de
flutuabilidade neutra em laboratório, em voos parabólicos em microgravidade e a
bordo da Estação Espacial Internacional," anunciou Edward Balaban, líder
do projeto.
De fato, o laboratório de Balaban
já vem realizando testes com lentes líquidas há cerca de dois anos.
"Para tornar viável a
implementação do conceito nos próximos 15-20 anos com tecnologias de curto
prazo e custos realistas, limitamos o diâmetro do espelho primário a 50
metros," anunciou Balaban. "Na Fase II, continuaremos a amadurecer os
elementos-chave do nosso conceito de missão. Primeiro, continuaremos nossa
análise de arquiteturas de molduras de espelho adequadas e nossa modelagem de
suas propriedades dinâmicas.
Em segundo lugar, daremos os
próximos passos em nossa modelagem baseada em aprendizado de máquina e trabalho
experimental para desenvolver técnicas de aprimoramento da refletividade dos
líquidos iônicos. Terceiro, avançaremos ainda mais no trabalho de modelagem da
dinâmica do espelho líquido."
Inovação Tecnológica
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