Qual a diferença entre a singularidade do Big Bang e de um buraco negro?
O universo é cheio de
coincidências – como o tamanho da lua e do sol no céu, mesmo que eles sejam
muito diferentes e distantes. Ou a forma da nebulosa Pac Man. Ou a natureza do
próprio universo.
Por exemplo, vamos considerar os buracos negros, regiões do espaço onde a matéria e energia são esmagadas tão densamente que a velocidade de escape gravitacional excede a velocidade da luz. Nós não sabemos quão grandes os buracos negros são, mas é possível que eles tenham “engolido” uma região infinitamente densa, o que é conhecido como singularidade.
Você já deve ter ouvido essa
palavra antes, muito citada quando discutimos a formação do universo. 13,8
bilhões de anos atrás, tudo que existia foi esmagado em uma região de densidade
infinita. Numa fracção de segundo, tudo se expandiu e o universo surgiu. Os
astrônomos chamam essa região de densidade infinita de singularidade do Big
Bang.
Duas singularidades
diferentes
Será que a singularidade do Big
Bang foi apenas a singularidade de um buraco negro muito grande? Um buraco
negro com toda a massa do universo dentro dele?
De acordo com o Dr. Paul Matt
Sutter, astrofísico da Universidade Estadual de Ohio e do Observatório
Astronômico de Trieste, não.
“A singularidade é um lugar de
densidade infinita, e isso não é realmente uma coisa. Significa apenas que a
matemática que estamos usando para descrever as coisas é quebrada, uma vez que
temos infinitos em nossas respostas quando tentamos calcular o que está
acontecendo. Até onde sabemos, essa deturpação matemática só acontece em dois
locais.
Um é no centro de um buraco
negro, onde o material é tão comprimido que não podemos seguir a matemática
mais, e o outro é no início do universo, quando o universo inteiro está
esmagado em um pequeno volume de tão alta densidade que não podemos seguir a matemática
mais. Então essa é a única coisa que eles têm em comum – que há uma
singularidade, o que significa que não podemos fazer matemática mais”, Sutter
explica a Fraser Cain, do Universe Today, conforme relata o site Phys.org.
Mas a singularidade dessas duas
coisas é diferente. O buraco negro é um ponto no espaço-tempo, um pedaço do
universo que está embutido em um universo maior, enquanto que a singularidade
do Big Bang é todo o universo.
Por que o início do
universo não “caiu” dentro de um buraco negro?
A densidade no início do universo
era extremamente elevada. Então por que o universo não se comportou como um
buraco negro? Por que, ao invés disso, se expandiu?
Comparar o início do universo a
um buraco negro é uma coisa difícil. Em ambos os casos, estamos usando a
relatividade geral, que governa as leis desses sistemas, para descrevê-los. Mas
estamos usando o mesmo conjunto de equações em diferentes cenários, para
descrever coisas diferentes.
“Um buraco negro é uma solução
particular de equações da relatividade geral de Einstein, e a solução decorre
de fazer a pergunta ‘Se eu pegar um monte de coisas e compactá-las em
incrivelmente altas densidades, o que acontece?’. A resposta é que você começa
uma singularidade cercada por um horizonte de eventos”, explica Sutter.
No início do universo, temos uma
solução diferente. O buraco negro é estático – é fixo, é imutável com o tempo.
Isso é uma suposição na matemática. No início do universo, as coisas estão
mudando. É um conjunto diferente de questões que estamos tentando responder
quando aplicamos a relatividade geral.
“Se eu encher todo o universo
uniformemente com um monte de coisas, o que todo o universo faz?”. Há apenas
duas respostas. Ou as coisas no universo fazem com que o material entre em
colapso e se contraia, ou as coisas no universo fazem com que o universo se
expanda. E isso depende do que o universo é feito – e ele é feito do tipo de
coisa que faz com que se expanda. É esse componente de evolução temporal que é
importante, que define a diferença entre o que está acontecendo no início do
universo e o que está acontecendo em um buraco negro.
Buracos negros poderiam
ter se formado no início do universo?
Com densidades incrivelmente
altas, será que um pedaço do universo comprimido não formou um buraco negro?
Sutter crê que talvez nos primeiros microssegundos.
O que separa um buraco negro do
resto das coisas é que ele é muito mais denso do que seus arredores. A fim de
criar um, é necessário ter um pouco de material extra, como uma nuvem de gás ou
uma estrela, com uma densidade pouco maior do que o normal. Em seguida, a
gravidade pode trabalhar e começar a puxar mais e mais coisas, até chegar ao
colapso gravitacional que leva a um buraco negro.
No início do universo, tudo era
uniforme. Não havia diferenças de gravidade. A densidade era alta, mas não se
sentia qualquer força gravitacional em qualquer lugar porque tudo tinha a mesma
densidade. Buracos negros só apareceram no universo muito mais tarde.
O universo está se
expandindo, mas pode um dia entrar em colapso?
Vários astrofísicos e cosmólogos
se preocupam com um cenário trágico para o fim do universo: o Big Cruch, o
oposto do Big Bang. Se isso acontecesse, a expansão vista hoje iria
desacelerar, parar e, em seguida, se reverter.
No momento, não dá para saber bem o que será do
universo. Por enquanto, a energia escura está aqui, e ela faz com que a
expansão do universo acelere e não o contrário.
Mas também podemos ver a hipótese
do colapso com outros olhos. Se tomássemos a massa e energia do universo
inteiro e as transformássemos em um buraco negro, isso teria quase a mesma
densidade exata que o próprio universo, e um horizonte de eventos maior do que
o universo observável.
Ou seja, se estivéssemos vivendo dentro de um
buraco negro, provavelmente não saberíamos.
Fonte: hypescience.com
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