Cientistas detectam cometas fora do nosso sistema solar
Impressão de artista de um exocometa no sistema KIC 3542116.Crédito: Danielle Futselaar
Cientistas do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e
outras instituições, trabalhando em estreita colaboração com astrónomos
amadores, avistaram as caudas poeirentas de seis exocometas - cometas para lá
do nosso Sistema Solar - em órbita de uma ténue estrela a 800 anos-luz da
Terra. Estas bolas cósmicas de gelo e poeira, que eram do tamanho
do Cometa Halley e viajavam a cerca de 160 mil quilómetros por hora antes de se
vaporizarem, são alguns dos objetos mais pequenos já encontrados fora do nosso
próprio Sistema Solar.
A descoberta marca a primeira vez que um objeto tão pequeno
quanto um cometa foi detetado usando fotometria de trânsito, uma técnica na
qual os astrónomos observam a luz de uma estrela à procura de indicadoras
quedas de intensidade. Estas diminuições assinalam trânsitos potenciais,
passagens de planetas ou outros objetos em frente de uma estrela, que bloqueiam
momentaneamente uma pequena fração da sua luz.
No caso desta nova deteção, os investigadores foram capazes
de discernir a cauda do cometa, ou cauda de gás e poeira, que bloqueou cerca de
um-décimo de 1% da luz enquanto este transitava a sua estrela hospedeira. É incrível que algo muito mais pequeno que a Terra
possa ser detetado apenas pelo facto de que está a emitir muitos
destroços," comenta Saul Rappaport, professor emérito de física no
Instituto Kavli de Astrofísica e Pesquisa Espacial do MIT. "É bastante
impressionante poder ver algo tão pequeno e tão distante."
Rappaport e a sua equipa publicaram os seus resultados a
semana passada na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. Os
coautores são Andrew Vanderburg do Centro Harvard-Smithosnian para Astrofísica;
vários astrónomos amadores, entre eles Thomas Jacobs de Bellevue, Washington; e
investigadores da Universidade do Texas em Austin, do Centro de Pesquisa Ames
da NASA e da Universidade de Northeastern.
"Onde poucos viajaram"
A deteção foi feita usando dados do Telescópio Espacial
Kepler da NASA, um observatório estelar lançado para o espaço em 2009. Durante
quatro anos, monitorizou cerca de 200.000 estrelas à procura de diminuições na
luz estelar provocadas pelo trânsito de exoplanetas. Até à data, a missão identificou e confirmou mais de 2400
exoplanetas, a maioria em órbita de estrelas na direção da constelação de
Cisne, com a ajuda de algoritmos automatizados que examinam rapidamente os
dados do Kepler, procurando as características quedas na luz estelar.
Os exoplanetas mais pequenos detetados até agora medem cerca
de um-terço do tamanho da Terra. Os cometas, em comparação, têm apenas o
tamanho de alguns campos de futebol, ou o tamanho de uma pequena cidade,
tornando-os incrivelmente difíceis de avistar. No entanto, no dia 18 de março, Jacobs, um astrónomo amador
cujo passatempo é vascular dados do Kepler, foi capaz de discernir vários
curiosos padrões de luz entre o ruído. Jacobs, que trabalha como consultor de emprego para pessoas
com deficiências intelectuais, é membro do Planet Hunters - um projeto de
cientistas-cidadãos estabelecido pela Universidade de Yale para alistar
astrónomos amadores na busca por exoplanetas. Os membros receberam acesso aos
dados do Kepler na esperança que possam avistar algo de interesse que um
computador pode não notar.
Em janeiro, Jacobs começou a analisar os quatro anos
inteiros dos dados do Kepler, obtidos durante a sua missão principal, que inclui
mais de 200.000 estrelas, cada com curvas individuais de luz, ou gráficos de
intensidade de luz ao longo do tempo. Jacobs passou cinco meses a estudar os
dados a olho, muitas vezes antes e depois do trabalho, e durante os
fins-de-semana. A procura de objetos de interesse nos dados do Kepler
requer paciência, persistência e perseverança," diz Jacobs. "Para
mim, é uma forma de caça ao tesouro, sabendo que há um evento interessante à
espera de ser descoberto. É tudo sobre exploração e estar à caça, onde poucos
viajaram antes."
"Algo que vimos antes"
O objetivo de Jacobs era procurar algo fora do comum que os
algoritmos de computador pudessem não ter notado. Em particular, procurava
trânsitos únicos - mergulhos na luz estelar que aconteceram apenas uma vez, o
que significa que não eram periódicos como planetas que orbitam uma estrela
várias vezes.
Na sua pesquisa, avistou três trânsitos únicos em redor de
KIC 3542116, uma estrela fraca localizada a 800 anos-luz da Terra (os outros
três trânsitos foram mais tarde descobertos pela equipa). Ele marcou os eventos
e alertou Rappaport e Vanderburg, com quem colaborou no passado para
interpretar as suas descobertas.
"Nós deliberámos durante um mês, porque não sabíamos o
que era - os trânsitos planetários são diferentes," lembra Rappaport.
"Então ocorreu-me, 'Estes trânsitos parecem-se com algo que já vimos
antes.'"
Num típico trânsito planetário, a curva de luz resultante
assemelha-se a um "U", com uma queda acentuada, e posteriormente um
aumento igualmente acentuado, como resultado do bloqueio da luz da estrela pelo
planeta. No entanto, as curvas de luz que Jacobs identificou pareciam
assimétricas, com um mergulho acentuado, seguido por um aumento mais gradual.
Rappaport apercebeu-se que a assimetria nas curvas de luz
pareciam-se com planetas desintegrantes, com longas caudas de detritos que
continuariam a bloquear parte da luz à medida que o planeta se afastava da
estrela. No entanto, tais planetas desintegrantes orbitam a sua estrela,
fazendo trânsitos repetidos. Em contraste, Jacobs não observou esse padrão
periódico nos trânsitos que identificou.
"Nós pensámos, o único tipo de corpo que poderia fazer
o mesmo e não repetir é aquele que provavelmente é destruído no final,"
realça Rappaport. Por outras palavras, ao invés de orbitar em torno da
estrela, os objetos devem ter transitado e, no final, "voado"
demasiado perto da estrela, sendo vaporizados. O único tipo de objeto que se adapta, e tem uma massa
suficientemente pequena para ser destruído, é um cometa," salienta
Rappaport.
Os investigadores calcularam que cada cometa bloqueou cerca
de um-décimo de 1% da luz estelar. Para fazer isto vários meses antes de
desaparecer, o cometa provavelmente desintegrou-se completamente, criando um
rasto de poeira espesso o suficiente para bloquear essa quantidade de luz
estelar. Vanderburg diz que o facto destes seis exocometas parecerem
ter transitado muito perto da sua estrela nos últimos quatro anos levanta
algumas questões intrigantes, cujas respostas podem revelar algumas verdades
sobre o nosso próprio Sistema Solar.
"Porque existem tantos cometas nas regiões interiores
destes sistemas solares?" pergunta Vanderburg. "Será uma era extrema
de bombardeamento? Esta foi uma parte realmente importante da formação do nosso
próprio Sistema Solar e pode ter trazido água à Terra. Talvez o estudo dos
exocometas e a descoberta da razão porque podem ser encontrados em redor deste
tipo de estrelas... nos possam dar informações sobre como os bombardeamentos
ocorrem nos outros sistemas solares."
Os investigadores dizem que, no futuro, a missão TESS
(Transiting Exoplanet Survey Satellite) vai continuar o tipo de pesquisa feita
pelo Kepler. Além de contribuir para os campos da astrofísica e da
astronomia, explica Rappaport, a nova deteção mostra a perseverança e
discernimento dos cientistas-cidadãos.
"Eu podia dizer 10 tipos de coisas que eles descobriram
nos dados do Kepler que os algoritmos não conseguiram encontrar, devido à
capacidade de reconhecimento de padrões no olho humano," comenta
Rappaport. "Podíamos agora desenvolver um algoritmo de computador para
encontrar este tipo de forma cometária. Mas não foram avistados em buscas
anteriores. Eram suficientemente detalhados, mas não tinham a forma certa
programada nos algoritmos. Eu acho justo dizer que nunca teriam sido
encontrados por qualquer algoritmo."
Fonte: ASTRONOMIA ONLINE
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