Construção do megatelescópio GMT avança no Chile
O GMT (Giant Magellan Telescope), que está sendo construído no Chile
por um consórcio internacional, terá os espelhos mais avançados do
mundo.[Imagem: Todd Mason/Mason Productions/GMTO]
Da montanha para o céu
No fim de julho, o cume de uma montanha de 2.500 metros de altitude, em
Cerro Las Campanas, no deserto do Atacama, no Chile, começou a ser escavado. Foi
o início das obras de preparação do terreno para receber as fundações de
concreto da base do Telescópio Gigante Magalhães (GMT, na sigla em inglês).
Previsto para iniciar suas operações e coletar sua primeira luz em
2024, o GMT fará parte de uma nova geração dos chamados "telescópios
extremamente grandes", projetados para fornecer resolução, clareza e sensibilidade
comparáveis aos telescópios espaciais na observação de fenômenos astrofísicos -
como as origens dos elementos químicos e a formação das primeiras estrelas e
galáxias.
Para construir o telescópio, o consórcio internacional criado para
gerenciar o desenvolvimento, a construção e a operação do GMT tem tido que
lidar com uma série de desafios tecnológicos e de financiamento para viabilizar
o projeto. Foi o que relatou Robert Shelton, presidente da Organização GMT, que
visitou o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da
Universidade de São Paulo (IAG/USP) nesta semana.
Vidro para espelhos de telescópio
O local onde será instalado o GMT está nivelado e foram construídas
estradas de acesso, alojamentos, centrais de abastecimento de energia elétrica
e de água e garantida a provisão de internet.
Shelton confirmou que já está pronto o primeiro dos sete espelhos
primários do telescópio, com 8 metros de diâmetro cada um e que serão
integrados para formar um único telescópio de 25,4 metros de diâmetro. O
segundo espelho está prestes a ser finalizado e o polimento dele tem sido mais
rápido do que o primeiro.
O terceiro e o quarto espelhos, que serão integrados aos outros na
operação do telescópio, deverão ser fundidos em breve. E o vidro para fundição
do quinto, do sexto e do sétimo espelhos está disponível. "[A
disponibilidade de vidro para fundição dos espelhos] é importante porque só há
um único fabricante desse material no mundo, situado no Japão. Compramos 20
toneladas desse vidro e usaremos cerca de 18 toneladas para fazer os sete
espelhos. Ter esse material reduz qualquer risco para completar a construção
dos espelhos," explicou Shelton.
Agora, o consórcio está terminando o estudo do desenho do telescópio,
que terá 61 metros de comprimento (equivalente a um prédio de 22 andares) e
pesará 1.100 toneladas.
A segunda etapa do processo de projeto e construção do telescópio
deverá ser iniciada ainda em 2018 e prevê a finalização do desenho, a
fabricação, os testes e a instalação do instrumento no observatório de Las
Campanas.
Um dos desafios será integrar os sete espelhos primários, que terão
espaços entre eles. Será preciso garantir que os espelhos sejam integrados de
modo que as lacunas entre eles sejam uniformes.
Telescópio antiterremoto
Mas há mais preocupações além do projeto do próprio telescópio - como
mantê-lo firme no chão o suficiente para não atrapalhar as observações e não
ser danificado por terremotos.
"Há muitos fatores complicadores na montagem do telescópio, como a
atividade sísmica no Chile. Felizmente - ou infelizmente - a Califórnia [onde
está situada a sede administrativa do GMT, em Pasadena] também está em uma
região com atividade sísmica e pudemos aproveitar algumas tecnologias já usadas
lá no GMT," disse Shelton.
A solução escolhida foi isolar o telescópio do chão, de modo a impedir
que ele seja atingido por um eventual terremoto. Isto será feito instalando
rolamentos de isolamento sísmico na parede de concreto da base do telescópio,
abaixo do nível do solo. Os rolamentos permitirão que a base do telescópio se
mova durante um eventual terremoto de grande magnitude.
Falta dinheiro
Com custo estimado de US$ 1 bilhão, o GMT só levantou até agora cerca
de US$ 520 milhões. A fim de obter financiamento da Fundação Nacional de
Ciências dos EUA (NSF), o GMT decidiu se unir em maio deste ano a um projeto
rival, o Telescópio de Trinta Metros (TMT: Thirty Meter Telescope), previsto
para ser construído em Mauna Kea, no Havaí.
A parceria prevê que pelo menos 25% do tempo de observação em cada
observatório estará disponível para a comunidade de astrofísicos dos Estados
Unidos. Nos planos anteriores, o tempo de observação estava disponível apenas
para pesquisadores das nações ou instituições que haviam fornecido
financiamento.
Um dos argumentos do GMT e do TMT para defender a construção dos dois
megatelescópios paralelamente é que eles têm forças complementares e o fato de
ter um telescópio no hemisfério Norte e outro no hemisfério Sul permite cobrir
todo o céu e ter um alcance científico maior.
A FAPESP investirá US$ 40 milhões no GMT, o que equivale a cerca de 4%
do custo total estimado. O investimento garantirá 4% do tempo de operação do
telescópio para estudos realizados por pesquisadores de São Paulo.
Fonte: inovacaotecnologica.com.br
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