Estrela moribunda "SUSSURRA"
Os três painéis
representam momentos antes, durante e depois da ténue supernova iPTF 14gqr,
visível no painel do meio, ter aparecido nas orlas de uma galáxia espiral
situada a 920 milhões de anos-luz. A estrela massiva que morreu na supernova
deixou para trás uma estrela de neutrões num sistema binário muito íntimo.
Estes densos remanescentes estelares vão, em última análise, espiralar um para
o outro e fundir-se numa espetacular explosão, libertando ondas gravitacionais
e eletromagnéticas.Crédito: SDSS/Caltech/Keck
Uma equipe de investigadores
do Caltech observou a morte peculiar de uma estrela massiva que explodiu como
uma supernova surpreendentemente fraca e que rapidamente desvaneceu. Estas
observações sugerem que a estrela tem uma companheira invisível, desvinculando
gravitacionalmente a massa da estrela para deixar para trás uma estrela
"despida" que explodiu como uma rápida supernova. Pensa-se que a
explosão tenha resultado numa estrela de neutrões moribunda que orbita a sua
companheira densa e compacta, sugerindo que, pela primeira vez, os cientistas
testemunharam o nascimento de um sistema binário e compacto composto por
estrelas de neutrões.
A investigação foi conduzida
pelo estudante Kishalay De e está descrita num artigo publicado na edição de 12
de outubro da revista Science. O trabalho foi feito principalmente no
laboratório de Mansi Kasliwal, professora assistente de astronomia. Kasliwal é
a investigadora principal do projeto GROWTH (Global Relay of Observatories
Watching Transients Happen), liderado pelo Caltech.
Quando uma estrela massiva -
com pelo menos oito vezes a massa do Sol - fica sem combustível para queimar no
seu núcleo, o núcleo colapsa sobre si próprio e depois rebate para fora numa
poderosa explosão chamada supernova. Depois da explosão, todas as camadas
exteriores da estrela foram destruídas, deixando para trás uma densa estrela de
neutrões - mais ou menos do tamanho de uma cidade pequena, mas contendo mais
massa do que o Sol. Uma colher de chá de uma estrela de neutrões pesaria tanto
quanto uma montanha.
Durante uma supernova, a
estrela moribunda repele todo o material nas suas camadas exteriores.
Normalmente, corresponde a algumas vezes a massa do Sol. No entanto, o evento
que Kasliwal e colegas observaram, denominado iPTF 14gqr, expeliu matéria com
apenas um-quinto da massa do Sol.
"Nós observámos o
colapso desta estrela massiva, mas vimos uma quantidade notavelmente pequena de
massa ejetada," realça Kasliwal. "Chamamos a isto uma supernova de
invólucro ultra-despojado e há muito que se previa a sua existência. Esta é a
primeira vez que vimos, de forma convincente, o colapso do núcleo de uma
estrela massiva que está tão desprovida de matéria."
O facto da estrela sequer ter
conseguido explodir implica que devia estar previamente envolvida por uma
grande quantidade de material, ou o seu núcleo nunca se teria tornado massivo o
suficiente para colapsar. Mas onde estava então a massa perdida?
Os cientistas inferiram que a
massa deve ter sido roubada - a estrela deve ter algum tipo de companheira
densa e compacta, ou uma anã branca, uma estrela de neutrões ou um buraco negro
- suficientemente perto para extrair gravitacionalmente a sua massa antes que
explodisse. A estrela de neutrões que ficou para trás, aquando da supernova,
deve então ter nascido em órbita daquela companheira densa. A observação de
iPTF 14gqr foi na realidade a observação do nascimento de um sistema binário
compacto composto por duas estrelas de neutrões. Dado que esta nova estrela de
neutrões e a sua companheira estão tão perto uma da outra, eventualmente
fundir-se-ão numa colisão semelhante ao evento de 2017 que produziu tanto ondas
gravitacionais como ondas eletromagnéticas.
Não só iPTF 14gqr é um evento
notável como o facto de sequer ter sido observado foi fortuito, uma vez que
estes fenómenos são raros e de curta duração. De facto, foi somente através das
observações das fases iniciais da supernova que os investigadores puderam deduzir
as origens da explosão como uma estrela massiva.
"Precisamos de
levantamentos de transientes rápidos e uma rede bem coordenada de astrónomos,
espalhados pelo mundo, para realmente capturar a fase inicial de uma
supernova," realça De. "Sem os dados na sua infância, não podíamos
ter concluído que a explosão deve ter originado no núcleo em colapso de uma
estrela massiva com um invólucro de aproximadamente 500 vezes o raio do
Sol."
O evento foi visto pela
primeira vez no Observatório de Palomar como parte do iPTF (intermediate
Palomar Transient Factory), um levantamento noturno do céu que procura eventos
cósmicos transitórios, ou de curta duração, como supernovas. Dado que o
levantamento iPTF mantém um olhar tão atento no céu, iPTF 14gqr foi observado nas
primeiras horas após a explosão. À medida que a Terra girava e o telescópio
Palomar se movia para fora do campo de observação, os astrónomos de todo o
mundo colaboraram para monitorizar iPTF 14gqr, observando continuamente a sua
evolução com uma série de telescópios que hoje formam a rede GROWTH de
observatórios.
O Complexo Transiente Zwicky,
o sucessor do iPTF no Observatório Palomar, está a examinar o céu de forma
ainda mais ampla e frequente na esperança de capturar mais destes eventos
raros, que representam apenas 1% de todas as explosões observadas. Estes
levantamentos, em parceria com redes de acompanhamento coordenado como o
GROWTH, permitirá que os astrónomos entendam melhor como os sistemas binários
evoluem a partir de estrelas binárias massivas.
Fonte: Astronomia OnLine
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